A jovem democracia brasileira vive outro momento histórico. Quase 46%  de nossa população de 200 milhões de habitantes, exatamente o grupo formado por crianças e jovens até os 30 anos vivem, pela primeira vez, um acontecimento que já perpassou pela nossa história várias vezes: a derrubada de um governo legitimamente eleito e sua substituição por outro, sem eleições, baseada, política e midiaticamente, na “necessidade de preservar a democracia e acabar com a corrupçã que assola o país!”

Eu, que já passei dos 30 há muitos e muitos anos,  vivi esta história umas cinco vezes: quando derrubaram Getúlio Vargas e João Goulart e quando tentaram derrubar JK, duas vezes, e Lula, em seu primeiro governo. E porque as forças conservadoras são tão repetitivas em suas desculpas para derrubar governos que não lhes agradam?

Principalmente, acho eu, porque a classe média que, geralmente, puxa a boiada – o povão trabalha muito, não tem tempo para devaneios golpistas – adora posar de defensora intransigente da iniciativa privada, adora bater no peito e arrotar que chegou onde chegou por mérito único e exclusivo de si próprio, adora enfiar a mão no bolso e desafiar vizinhos e colegas: ‘aqui só entra dinheiro ganho com o suor do meu rosto!” E, por isto, “indigna-se publicamente” com a corrupção pública exacerbada no noticiário diário da grande imprensa, respaldando os movimentos golpistas que, naturalmente, re-alimentam a mídia com mais e mais escândalos de corrupção…

Getúlio foi envolvido num “mar de lama”, Jango na “ladroeira sindical”que queria comunizar o país, Juscelino na “roubalheira desavergonhada” da construção de Brasília e Lula no “mensalão” do PT. Os dois primeiros caíram, mas os dois últimos resistiram e mantiveram-se no poder, não ficando livres do ódio conservador porém, nem mesmo depois de entregarem a faixa presidencial. Tanto que JK, ao que tudo indica, foi assassinado quando viajava de São Paulo para o Rio, e Lula está sob ameaça constante de ser preso a qualquer hora, por possuir um sítio, um triplex e uma sede de seu Instituto que não são dele. (No meio destes, teve o Collor, conservador que também foi derrubado pelos conservadores, mas, neste caso, porque queria o butim só para ele…)

Dilma é a última desta lista. Em processo de derrubada, não há uma única indicação de que ela seja corrupta… Não conseguiram inventar nem triplex, sítio ou viagem à Cuba paga por empreiteira! Aliás, nem as justificativas jurídicas para o impeachment, pedaladas e liberação de recursos indevidos, há… Mas há o “jeitinho”: ela não tem mais credibilidade para governar… como se presidente eleito de um país fosse peça de aparelho eletrônico: não serve, troca!

Na verdade, Dilma tem um defeito grave: sendo uma típica representante da classe média, ela foge ao padrão nacional de sua classe, pois é e aparenta ser honesta, fato que uma pesquisa feita pelo Ipsos em  72 cidades do país sobre Corrupção e Ética, mostrou não ser uma característica marcante da classe:74% dos entrevistados reconheceram ter ‘corruptado’ em algum momento da vida, seja falsificando algum documento, seja furando fila, seja comprando produto pirata ou qualquer outro pecadilho do mesmo naipe.

Conforme matéria de Litza Mattos, em O Tempo, de Belo Horizonte, mesmo reconhecendo que estes “pequenos desvios de conduta” não deixam de ser uma forma de corrupção, estes brasileiros mostram-se indignados com a corrupção denunciada diariamente na mídia.

“Molhar a mão” de um guarda de trânsito, “comprar” recibos médicos ou “inventar um curso universitário” para declarar no Imposto de Renda, comprar CD’s piratas no camelô da esquina são atos considerados, alegre e tolerantemente, o “jeitinho brasileiro”de ser, uma forma mais do que ‘justificáda’ de vencer a enorme burocracia e a intolerável ‘fome’ do governo pelo ‘meu suado dinheirinho’! “Corrupto, eu? Que nada! Corruptos são os  outros, os funcionários públicos, os políticos, os empresários… e o governo que aí está, que vai levar o Brasil para o buraco, se a gente não derrubá-lo!”

   

E lá se vai Dilma de volta para o Rio Grande do Sul…  Mas, não tem nada não… Um dia, a justiça será feita! A divina, certamente, apesar de que nunca saberemos quando Dilma, como justa, irá sentar-se do lado direito do Todo Poderoso, algo que nem o bom Papa Francisco já viu, mas a dos homens, no mais tardar daqui há uns cinqüenta anos, pelas mãos de historiadores e pesquisadores. Espero que meus netos leiam meus escritos e saibam, então, que o avô tinha razão.