Diálogo 1
Eu parei no posto de gasolina para trocar o óleo do carro. Enquanto trabalhava, o trocador de óleo puxou conversa:
– Então, doutor, o tal do Cunha cai mesmo?
– Não sei… tinha um político lá de Minas que dizia que política é que nem nuvem, você olha para cima, ela está dum jeito, baixa a cabeça e volta a olhar, ela está de outro. A Comissão de Ética levou 08 meses para aprovar o processo, mas ainda tem a Comissão de Justiça e o Plenário… Honestamente, não sei.
– É… o cara é safo, acho que vai escapar numa boa. Metade dos deputados come na mão dele e não vão deixar ele cair, senão o Michel cai junto!
– Michel?
– É… Eu li outro dia que ele não gosta de ser chamado de Michel Temer, ele prefere Michel. Fica mais parecido com Dilma, mais fácil para o povão.
Diálogo 2
Parei na farmácia, àquela hora vazia, o que é muito estranho (em conseqüência da crise, a classe média tem adoecido menos?). Dois vendedores, ainda jovens, comentavam, um deles bem animado:
– Cara, o safo foi cassado!
– Ainda não, cara… só foi aceito o pedido de cassação! Mas, você tem razão, ele é safo mesmo, e vai se livrar desta…
– Não! Safo de safado mesmo… o cara é safadão! Em vez de badalarem o Wesley até nos States, a TV Globo devia botar o Dudu Safadão nas paradas. Você já pensou ele, a mulher e a filha cantando Revolta Latina no Faustão? Ia ser o maior sú!
Entrei na conversa e perguntei, antes que eles parassem de conversar e um deles fosse me atender:
– Que música é esta, bicho! (Eu sou do tempo do Roberto Carlos…!)
– É um rap maneiro que toca muito nas baladas que eu vou. Tem um pedaço assim (e declamou, com o outro batendo a mão no balcão, para dar o ritmo:
“Então, não sorria artificialmente.//Mente aquele que diz que nunca quis dinheiro.//O que eu não quero é olhar pro meu filho//E falar que hoje não dá, não tá tendo.//Vai vendo, são só dezenove, são só dezenove… //Eu já fiz os meus corre, me adiantei,//Eu fiz tudo que eu sei, não peguei no revólver//(Vai vendo, vai vendo, são só dezenove, são só dezenove)//Eu já fiz os meus corre, me adiantei.//Eu fiz tudo que eu sei, não peguei no revólver
– É… (refleti alto), caras como o Dudu Safadão não precisam pegar no revólver. Gente da alta só usa os dedos para apertar as teclas… e o dinheiro entra à vontade!
Diálogo 3
Passei na Associação para resolver umas questões sobre o novo endereçamento da região onde moro. Dois associados, ocupantes legais de terras da União como eu, discutiam com um diretor, antipetista, a situação do país:
– Meu amigo, foram 08 meses nesta masturbação. O cara é um gênio! Ele não só conhece o regulamento da Câmara como o palma das mãos dele, como sabe onde aperta o calo de cada um daqueles deputados safados que lá pululam.
– Não é bem assim não! Você não viu o advogado dele implorando para apresentarem o número da conta, a assinatura dele… provando que ele é dono de umas contas na Suiça? Ninguém mostrou!
– Eu também tenho minhas dúvidas… No Brasil, basta o sujeito aparecer mais que os outros para os outros descerem o porrete nele, na reputação da mulher dele, que é ladrão, safado… vocês sabem que é assim!
– Pel’amor de Deus, senhores… (não resisti e me enfiei na conversa) O cara foi, é e será sempre uma das figuras mais perniciosas que já passaram pela política brasileira. O fato de ser inteligente, de uma inteligência diabólica, não o redime da bandidagem que comete contra o país desde os tempos do PC Farias!
– Tem razão… Mas, quem não é? Com este povinho que nós temos aqui, não há muito o que fazer, não é mesmo?
– Ah! Quer dizer que a culpa é do povo?
– Claro! Se tivesse um povo mais instruído, o Lula não tinha sido presidente… onde já se viu um operário analfabeto ser presidente do Brasil?
– Uai! O Cunha, o Temer, o Aécio, o Renan, o Serra… é tudo doutor e estão todos devidamente delatados pelo tal do Machado, que já foi deputado, senador e presidente da Transpetro. Nem o Lula, nem a Dilma foram dedurados pelo Machado… e eu também não tenho diploma de curso superior e não sou ladrão!
– Desculpe… não foi isto que eu quis dizer!
Diálogo 4
Chegando em casa, o peão que trabalha na chácara, sempre com o celular “enfiado” no ouvido, escutando música, me parou para uma prosa:
– Qui quiu siô ta achano? Tava ouvinu aqui na CBN qui um tal di Machadu dedurou Deus e todu mundu, até essi presidenti que entrô nu lugá da Dilma… é verdadi?
– Delação premiada é uma coisa perigosa, Nei. O cara é pego roubando e, para se livrar de anos e anos de prisão, bota fogo no circo… acusa todo mundo, inimigos e amigos. Ainda mais este aí, que está tentando livrar os filhos, que participavam da roubalheira dele. A partir da delação dele é que a polícia vai tentar achar as provas. Se conseguir provar, aí a delação vale e só então os caras dedurados vão ser processados também.
– Inda pricisa prová? A genti sabi qui é tudu safadu mêmo.
– Você sabe em quem votou para deputado nas últimas eleições, Nei?
– Claru… Mas eles num ganharu! Na minha terra, em Minas, só ganha us candidatu dus fazendêru! Nóis num tem força ainda… mas, vamu tê!
Na atual quadra da vida brasileira, o único consolo é este: todo mundo está discutindo política. E isto é bom. Aquele povinho que não sabia votar, como disse o grande Pelé certa vez, está tomando consciência de que um país só é grande se o seu povo lutar por isto, não deixando seu destino ser guiado apenas pelos políticos que se dizem seus representantes. E são, apenas, representantes de si próprios.