Vou me embora pro Uruguai

(sobre Vou me embora pra Pasárgada, de Manoel Bandeira)

 

Vou-me embora pro Uruguai.

Lá não tenho amigos

nem tenho a mulher que eu quero,

nem camas que aqui deixarei.

Vou-me embora pro Uruguai.

Vou-me embora pro Uruguai.

Aqui já fui feliz, não sou mais.

Lá a existência será uma loucura

De tal modo inconsequente

Que é capaz de, sem tino,

eu me casar novamente,

pra ser contraparente

do dono de um cassino.

E como farei ginástica,

andarei de bicicleta,

montarei em burro brabo,

subirei no pau-de-sebo,

tomarei banho de mar!

E quando estiver cansado

deito na beira do rio-mar,

mando chamar o Mujica

pra me contar as histórias

do Brasil que deixei pra trás

enquanto fui capaz…

Vou-me embora pro Uruguai.

Em Punta del Diablo tem tudo.

É outra civilização.

Tem gente jovem e, asseguro,

que tem outra concepção

de vida, nada é neurótico,

uma vida alegre e divertida,

pleno de mujeres catitas

para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste,

mas triste de não ter jeito…

Quando a noite me der

vontade de me matar

– Lembrarei que cá é pior –

Nem tenho a mulher que quero,

só uma cama fria que deixarei…

Vou-me embora pro Uruguai.

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