Política (sobre Poética, de Manoel Bandeira)

Estou farto do linguajar comedido,

do escrito bem comportado

do escrito funcionário público

com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço

ao Sr. Doutor (seja juiz ou vereador!)

Estou farto do linguajar educado

que vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo as malditas isenções.

Escrevam todas as palavras,

sobretudo os barbarismos universais,

todas as construções,

sobretudo as sintaxes de exceção,

todos os ritmos, sobretudo os inumeráveis.

Estou farto do pacifismo enrolador,

político,

raquítico,

sifilítico.

De todo o pacifismo que capitula ao que quer  que seja

Fora de si mesmo.

De resto, nem é pacifismo…

Será contabilidade

de inúteis acordos mal costurados,

com modelos surrados de tempos passados.

Somente

maneiras de agradar as elites, etc.

Quero antes a revolta dos pobres,

a revolta dos desprezados,

a revolta difícil e pungente dos pé rapados,

a revolta dos não robotizados

– Não quero  mais saber do conformismo

que não leva à libertação.

 

 

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