Os 04 cavaleiros da porca Alice (2ª temporada)

O poder de um mito – 2º capítulo

Os mosquetianos são uma força paramilitar que se formou a partir de carabineiros que deixavam a corporação para trabalhar pros fazendeiros da região, no início protegendo as fazendas contra bandoleiros que roubavam gado e cavalos e, depois, obrigando os peões a trabalharem até 20 horas por dia, recebendo o suficiente apenas pra comer, e impedindo suas fugas pra outras regiões. Aos poucos, eles perceberam que podiam tomar conta de outras atividades tanto nas fazendas como nas aldeias e, em algumas delas hoje, são os fornecedores dês da madeira pra iluminação e aquecimento das casas até do transporte de água do rio pras cacimbas da aldeia, além de venderem segurança para as fazendas, o comércio e os próprios aldeões.

-Então, foram os mosquetianos que o apoiaram pro Conselho…

– Não só eles… Aqui na aldeia, quase todo mundo apoiou. Ele é um dos nossos, pensa como a gente, age como a gente, fala como a gente…

– O Lulinácius também era assim, não era?

– De jeito nenhum! Ele era assim porque era um peão e peão tem que ficar no lugar dele, servindo a gente como Deus mandou…

– Mas você dizia que Zirouziro nem apareceu aqui nos dias da festa… O que houve? Vocês brigaram? – Se a conversa escapasse pra política, Magalhássil podia desconfiar de alguma coisa… daí, voltei pro problema dele.

-Eu só o vi no dia do bingo da porca Alice lá na quermesse. Eu sei que ele chegou cedo na fazenda e fez uma reunião lá com o Ziroutwo, o Keyróssil e alguns mosquetianos de aldeias vizinhas. Normalmente, eu sou chamado pra estas reuniões, exatamente pra informa-lo das novidades, mas, desta vez, só fiquei sabendo depois, lá na quermesse. Quando ele chegou, foi aquele tumulto de sempre, ele só me abanou a mão de longe e fez um sinal de que nos encontraríamos no dia seguinte, mas com a confusão criada pelo Jodorius, ele voltou pra capital correndo logo cedo…  E o fato é que eu vi o neto do Calógerus rindo e bebendo na quermesse com o Zirouane… e não gostei!

-O que realmente aconteceu na quermesse? Espera aí… – Baixei a cabeça, balbuciei algumas palavras ininteligíveis para Magalhássil e joguei algumas pedras coloridas que estavam numa caixa sobre a mesa. Fechei os olhos, passei os dedos pelo desenho formado pelas pedras, levantei e coloquei as mãos sobre a cabeça dele, balbuciando mais algumas palavras. Sentei e disse, bem pausadamente: – Não diga nada… Eu sei exatamente o que aconteceu: a porca Alice não foi assada e distribuída ao povo como deveria ter sido… E Zirouziro é que não deixou!

– É… Foi isso mesmo… Como o senhor… Ora, que besteira! Claro que o senhor ia saber… – boquiaberto e de olhos arregalados, ele me olhava admirado.

– Eu sei sim, claro… Mas, pra inserir você neste contexto, eu preciso que você me conte exatamente como tudo aconteceu, incluindo aquilo que só você sabe. Há uma estrela que pisca perto do horizonte que está muito apagada há alguns dias… E isto quer me dizer que houve alguma safadeza no bingo…

– Bom… eu mesmo não vi nada diferente, mas ouvi muitas histórias meio cabulosas. Na quermesse tinha muita gente porque era o dia do bingo da porca Alice e o Wilwizius, que doou a porca, já tinha avisado que se ela saísse para ele ou algum parente ou amigo dele, todos se comprometiam a botá-la pra assar no rolete ali mesmo, pra todo mundo se fartar até o dia raiar. Na hora do bingo, aquele silêncio todo, todo mundo esperançoso: se um peão ou aldeão fosse bingado, era comida pra mais de mês… e se o pessoal do Wilwizius bingasse, ia ter comida, bebida e farra por mais uns 03 dias. Mas saiu pro Zirouziro!

Um dos garotos da taverna veio chamar Magalhássil pra resolver um problema sério, um freguês se engraçando com a filha dele (ou ela se engraçando com o freguês, não ficou muito claro) e ele saiu apressado. Disse que voltaria logo, e não voltou. Mas, voltaria com certeza. Eu sabia o acontecido depois – a ideia de sagrar 04 Cavaleiros da porca Alice, uma forma de Zirouziro pra humilhar seus adversários do Conselho dos Bem Nascidos e a promessa da churrascada não cumprida, exatamente por causa da resposta imediata dada por estes adversários, que obrigou-o a voltar correndo pra capital. Zirouziro era gato escaldado e sabia que era hora de abrir os cofres, da região, não dele. Afinal, acompanhara, do subsolo do Conselho, a fórmula que seu antecessor, Vampirus, usara pra não ser afastado, por duas vezes, de sua presidência.

Mas, eu estava muito interessado em saber dos bastidores. E Magalhássil conheci-os bem. (termina amanhã)

 

 

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