Os 04 cavaleiros da porca Alice (1ª temporada)

Ascensão de um mito – 2° capítulo

As velhas raposas, Efeagácius incluso, porém, não contavam com o jogo pesado da nova onda que se reunira em torno de Zirouziro. Velhas raposas são conservadoras, não gostam de mudanças e usam as armas que sempre usaram, porque sempre deram certo. Acharam, então, que, mantendo a campanha de desmoralização do líder popular e seus partidários, que fora iniciada quando de sua aparição como líder dos ferreiros, e amplificando as denúncias para patamares mais insidiosos, com apoio irrestrito de aplicadores das leis e dos velhos donos de auto falantes fixos, tinham certeza que o poder estava no papo.

Sifu… de verde e amarelo! Depois de inflarem o balão de algumas figurinhas carimbadas na rodinhas sociais e políticas, como Joaqssil e Luckius, jogaram o peso político e econômico nos ombros de um tradicional vulpino, presidente da Comissão Gestora da principal aldeia da região e que já fora vencido por Lulinássil na indicação para a presidência do Conselho dos Bem Nascidos, porém em condições muito desfavoráveis à época, bem diferentes das vividas agora – depois do intenso cerco dos bem nascidos, o líder popular estava correndo o risco de ser afastado de qualquer retorno ao poder, podendo até mesmo ser preso.

Enquanto costuravam acordos entre seus próprios caciques, usando os meios tradicionais para desancar e comprometer o velho adversário, ao mesmo tempo que engrandeciam qualidades e escondiam os mal feitos do escolhido, os aldeões eram conquistados por um novo processo comunicativo, os serviços móveis de auto falantes instalados em charretes e carroças que percorriam as aldeias e as fraldas urbanas, e os roboqueiros, jovens vagabundos que andavam pelas estradas repassando, boca a boca, em uma aldeia, as novidades e fofocas ouvidas em outra aldeia. Contratados a peso de ouro, eles passaram a divulgar a grande novidade: a nova política, encarnada por Zirouziro, o Mito.

Nesta nova política, as velhas práticas vulpinas não eram aceitas, ou seja, as velhas raposas acostumadas a trocar apoio ao presidente do Conselho (ou das Comissões) por benesses e colocações nas repartições públicas, corriam o risco não só de perder seus meios de sobrevivência mais faustosa, como a força que arrotavam em suas aldeias. E a nova onda foi se impondo vigorosamente, na medida em que o trabalho de demonização do líder popular  prosseguia inapelável e o candidato escolhido por elas, as velhas raposas, murchava. Aos poucos, como era inevitável, foram pulando do barco encalhado para aquele que singrava as ondas. A esperança era a de sempre: campanha é uma coisa, governança é outra…

Zirouziro foi escolhido presidente do Conselho. Zirouane virou representante de Ibirapitanga na capital, Zirouthree da região vizinha e Ziroutwo permaneceu na aldeia original, mantendo o poder local e assessorando o pai em assuntos de boca a boca e roboqueiragem, que ele dominava bem. Velhos carabineiros, novos pastores da prosperidade já e membros de uma seita terraplanista, do guru Ó’deCavalus, que lia nas estrelas, se juntaram a Zirouziro para implementar a nova política, sob a graça de Deus e para o bem da Pátria.

Era um grupo meio esquisito e perturbado, que desconhecia regras básicas de convivência política e governança, cada um querendo impor suas vontades, sem se importar com as consequências que elas poderiam trazer para a região e, principalmente, para os aldeões. Daí, Zirouziro buscou dois auxiliares, o que ia cuidar da caixa-forte e o que ia cuidar da segurança, e deu-lhes carta branca para conduzirem estas atividades, fundamentais para o dia a dia dos aldeões, da maneira que eles achavam que deveriam ser conduzidas, desde que não tentassem aparecer mais do que ele.

De qualquer modo, os aldeões, que precisavam tocar suas vidas e se interessavam pouco pelo que diziam ou faziam as autoridades públicas, acreditando piamente no que proclamavam os auto falantes e os roboqueiros, estavam gostando da governança de Zirouziro: afinal de contas, ele era desbocado como eles, comia pão molhado no leite como eles, gostava de andar de cavalo pelas alamedas da capital como eles gostariam, se pudessem, e, principalmente, tinha uma fé inabalável em Deus e nos carabineiros e dava grande valor à família tradicional, tanto que estava na terceira cônje, como dizia Judgemorus, seu auxiliar encarregado da segurança.

Prova maior era o amor que dedicava aos filhos, os demais Zirous, agora acrescido do Zirofour, do segundo casamento, ainda adolescente, mas que ele vinha apresentando à sociedade como o ‘comedor da praça’ . Os aldeões gostavam desta macheza presidencial, e ainda mais do modo carinhoso com que ele tratava a única filha, do terceiro casamento, a qual ele não dera o nome de Ziroufaive, mas de Escorregadela, uma brincadeirinha por ela ser menina e, claro, um recado sutil pra que ela, quando crescesse, não virasse uma machona, querendo se igualar  aos demais machões da família. (continua da 6ª feira)

 

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