Já no Congresso as coisas estão mais enroladas. O Centrão se aliou aos partidos de esquerda, sem a presença do PT, para formalizar uma candidatura única para enfrentar Dória e Witzel, que já lançaram as suas, o primeiro pelo novo PSDB, e o segundo por uma coligação de partidos religiosos comandados pelos pastores evangélicos. Nos bastidores apurados pela Natuza Nery, com comentários abalizados de Merval Pereira, o PT mantinha-se irredutível e só aceitaria coligações se o cabeça de chapa fosse Lula, se ele quisesse, ou Haddad. E o Centrão queria Rodrigo Maia e Flávio Dino, apesar deste não ter dado qualquer sinal de que aprovava a ideia. Terminada a crise aguda, Brasília voltou ao normal…
Dória tentou convencer o ministro Moro, tão logo ele renunciou, após as Forças Militares assumirem a segurança das ruas (uma tentativa do Mito de dar um golpe, que não deu certo exatamente porque Exército, Marinha e Aeronáutica passaram a prestar contas apenas ao então vice-presidente Mourão), mas não conseguiu nem falar com ele pelo celular: ele passara em casa, no Paraná, pegara mulher e filhos, atravessara para o Paraguai e pedira asilo na embaixada dos Estados Unidos, alegando perseguição política do PT e de Lula, imediatamente concedido.
(Quando chegou lá, aliás, Moro deu uma entrevista à Fox News agradecendo o apoio das autoridades americanas ao combate à corrupção no Brasil e lamentou não ter conseguido convencer seu amigo Dallagnol a acompanha-lo no asilo. Esclareceu que o chefe da Lava Jato havia abandonado a Procuradoria e se tornado pastor da Igreja Batista de Bacacheri, não sendo, por isso, incomodado pelas atuais autoridades brasileiras. Mas ele acha que, após a eleição do novo presidente, isto acontecerá irremediavelmente, porque a velha política voltará a dominar o país.)
Voltando à Dória, ele tentou convencer o general Braga Neto a torna-se seu vice, mas este optou por continuar no governo emergencial, que precisava muito de seus conhecimentos sobre as milícias do Rio que, agora, ocupavam a cidade maravilhosa e uns 40% do Estado, na medida em que substituíram as estruturas estatais no breve período da grande fome, quando as medidas econômicas mostraram-se inócuas e favelas e periferias tomaram conta de ruas e avenidas, fazendo grandes arrastões (que aconteceram não só no Rio, mas em outras grandes e médias cidades). Seu objeto de desejo, agora, é atrair Ciro Gomes, mas está difícil, segundo bastidores apurados pela Andrea Sadi. “Espantosamente, disse ela, numa entrada ao vivo, Ciro está absolutamente quieto! Não faz qualquer declaração, nem mesmo contra o PT…!”
Já Witzel foi rápido e rasteiro, aliou-se a Edir, Valdevino, Malafaia e quejandos e indicou o deputado Marco Feliciano como seu companheiro, logo após este conduzir uma prece, para mais de 20 mil fiéis, em sua Catedral do Avivamento, pedindo que todos exorcizassem o diabo Bolsonaro de suas mentes. Só que os pastores estão querendo eliminar o governador da chapa, alegando a situação do Rio, onde os fiéis estão preferindo pagar dízimos e impostos aos milicianos que aos templos ou ao Estado.
Isto pode acontecer logo, se o gal .Braga Neto conseguir concluir o que vem tentando no Rio. A exemplo do governador Dória, em São Paulo, que fechou um acordo tácito com o PCC, no sentido de, juntos, a Polícia Militar e o crime organizado reprimirem quaisquer tipos de movimentações pelas ruas, fossem protestos políticos, fossem invasões de supermercados, mercearias, padarias ou restaurantes, o general estava negociando uma paz armada com os milicianos: eles se respeitariam, mas cada um tomava conta do seu pedaço. Falta acertar, apenas, a situação do porto de Itaguaí, que os milicianos querem assumir como seu.
Tirando Witzel do caminho, a ideia pastoral é recuperar dona Damares, que se refugiou numa fazenda no norte de Goiás e passa o dia inteiro caminhando entre goiabeiras, à espera de Jesus. Segundo dizem, ela manteve seu prestígio entre as ovelhas neo pentecostais quando foi demitida do governo pouco antes da queda do presidente, por ter dito, publicamente, que todos tinham que orar fervorosamente pra separar o Mito de seu filho Carluxo, que tinha saído do armário e sido apoiado pelo petismo pagão comunista, o que estava permitindo ao diabo influenciar algumas decisões incorretas do presidente.
Neste caso, dona Damares seria entronizada como vice e os bispos decidiriam, entre eles, o candidato a presidente. Já há intensa movimentação nos bastidores religiosos pra ver quem reúne mais apoio da congregação de pastores. Camarotti explicou que conversou com alguns guias espirituais pessoalmente ou pelo celular, e descobriu que as preferências estão mais para o deputado Marco Feliciano e o prefeito Marcelo Crivella, mas Malafaia e Estevam Hernandes não ficam muito atrás. E há um azarão, que tem galgado postos na surdina: Magno Malta.
Enquanto isto, a população tenta se adaptar aos novos tempos. O dinheiro encurtou bastante, os carros praticamente desapareceram das ruas, que tem um trânsito fluindo com muita rapidez, pois há pouquíssimos engarrafamentos, apesar dos muitos ônibus rodando, o que foi uma das medidas emergenciais adotadas pelo governo também emergencial: com pouco dinheiro e gasolina racionada, a população passou a depender quase que exclusivamente de transporte público para ir trabalhar, obrigando o governo a estatizar as frotas de ônibus, o transporte pirata e até carros particulares com prestações atrasadas até 06 meses. Afinal de contas, o Brasil não podia parar.
Mas as manifestações e quebradeiras pelas ruas foram quase que totalmente controladas. De vez em quando, há uma explosão inesperada em algum shopping ou hipermercado, mas as forças de segurança têm sido muito eficientes na repressão em todo o país, ajudadas pelo PCC em São Paulo e pelos milicianos no Rio, e pelas Polícias Militares no resto do país, já que o próprio Congresso Nacional, que aprovou o corte de 25% dos salários de todos os trabalhadores, inclusive juízes, procuradores e tecno-burocratas, concedeu, no mesmo decreto, um aumento de 50% para todos os profissionais de segurança mobilizados para garantir a paz social do Brasil. (continua amanhã)