Mas há mais… Como a ex-nova Secretária do Audiovisual, uma ilustre desconhecida do meio, que se camdidatou a deputada, mas teve 960 votos e não se elegeu. Daí bolsonarizou-se e, participando de movimentações evangélicas, assinou documento que levou o Mito a anunciar a extinção da Ancine por apoiar produções “prejudiciais” à família e à moral do povo brasileiro. Não deu outra: tinha ganhado uma sinecura na Secretaria de Cultura mas, enquanto eu escrevia este texto, voltou pro 8° Círculo 02 semanas depois de assumir o cargo, pela descoberta de “irregularidades em sua campanha eleitoral” (estranho, né? O ministro do Turismo continua ministro!)
Assim como a incrível indicação de um negro para presidir a Fundação Cultural Palmares…! É óbvio, diriam os crédulos, que um negro deveria ser indicado, vez que ela foi criada em 1992 para promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Só que o negro indicado, jornalista e militante de direita, afirma que no Brasil não existe “racismo real”, que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” e que “o movimento negro precisa ser extinto”. Com a enorme repercussão, o dito cujo foi encostado antes da nomeação, caindo na traição de Ossanha, por trair sua raça.
Enfim, a cartilha do nazi-fascismo está sendo seguida ao pé da letra pelo governo bolsonário: as áreas possíveis de contestação ou resistência vão sendo falsamente desmoralizadas (através de fake news oficiais e oficiosas) até se criar um deserto de ideias e opiniões… só vale uma, a que toda a população tem que obedecer e seguir: Heil Hitler! Ou, quem sabe?, Mein Mitô!
Na década de 30, o povo alemão foi levado a isto, acreditar num salvador da Pátria que resgataria a riqueza, a honra e o orgulho germânicos após o fracasso da 1ª Guerra Mundial. E, conscientemente ou não, admitiu os campos de concentração e a morte de milhões de judeus, ciganos, homossexuais, populações não arianas. O mundo não aprendeu nada com esta tragédia! Assim como a elite, econômica, política e social de um país em desenvolvimento não aprende po..a* nenhuma (ou não se interessa) com uma tragédia como a de uma comunidade pobre chamada Paraisópolis! .
O que significam 09 jovens pobres mortos pela ação da polícia numa favela na cidade mais rica do Brasil? O que significam 228 cidadãos mortos numa tragédia anunciada como a de Brumadinho, tempos depois da tragédia de Mariana? O que significam 57 mortos numa prisão do Amazonas? O que significa a morte da menina Ágatha, com um tiro nas costas, disparado por um cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro? O que significa um presidente da República prometer publicamente que vai colocar ministro no pau de arara se ele for corrupto?
Está tudo normatizado no Brasil de hoje… Ou seria melhor dizer: está tudo anestesiado? Depois de 30 anos aplaudindo a ditadura, pregando a tortura e apregoando a necessidade de uma guerra que matasse uns 30 mil, inocentes inclusive, como forma de levar o Brasil pra frente, o ex-tenente reformado como capitão por força dos privilégios classistas vigentes no Brasil desde seus primórdios, o mito criado pelas redes sociais virou, democraticamente, é verdade, presidente do país.
Continua coerente e verbaliza isto dia sim, dia não: a democracia atrapalha, a cultura incomoda, a imprensa, mesmo aquela dependente, prejudica… Ele nunca disse isto publicamente, mas tenho certeza que seu ídolo é Luis XIV, o Rei Sol, que mandou na França durante 72 anos, o mais longo reinado da história conhecida, e costumava dizer “L’Etat c’est moi”. Lógico que, no caso do Mito, o Estado é ele e seus pimpolhos…
E quem há de contestar? Os policiais federais? Os procuradores? Os juízes? Os políticos? Os milicos? Enquanto os integrantes da “mais preparada” Polícia Militar do país matavam 09 jovens em Paraisópolis, seu comandante estava em Brasília para ‘pressionar’ os deputados a aprovarem o novo regime previdenciário de militares, que mantém privilégios que a reforma da Previdência Social, já aprovada, eliminou dos civis. E o povo? Alguém tem coragem para tanto?
Há um velho ditado popular que, por sinal, está muito ligado a Exu, que é o guardião do comportamento humano nos terreiros de candomblé: ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’. O Brasil está vivendo um ciclo digno deste ditado, com os bem postos na vida, empresários, políticos, militares, juízes, tecno-burocratas, ‘candando e agando’ para o país e pensando apenas em como preservar e aumentar os próprios privilégios, e toda uma imensa população empurrando um dia depois do outro, bovinamente à espera do sinal de Deus. Me lembra um poema de Bertold Brecht nos tempos satânicos do nazismo:
“Primeiro levaram os negros // Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários // Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis // Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados // Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando // Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.” (fim)
PS: para compensar o castigo de poluir este texto (II) com a presença do guru anal-lógico logo após uma análise primorosa de Bohemian Rhapsody, encerro o texto (IV) com uma apresentação também primosrosa do Queen, sem interrupções. Quem sabe Belzebu escuta Fred Mercury e troca o menino pobre por este monte de babacas pescados do seu Inferno…