Eu já escrevi aqui algumas vezes sobre meus tempos de jovem, à época da ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985, quando consegui, não sei como, ser um rebelde universitário e até um profissional responsável por uma família constituída. Eu sempre abominei a violência e, por isto, não aderi à luta armada, que redundou na morte de muitos jovens que lutavam pela liberdade, pela democracia e pelo empoderamento de um povo sempre espezinhado por sua elite.
Isto aconteceu há mais de 50 anos… Naquela época, o grande mantra dos eternos donos do poder no Brasil, era o perigo do comunismo cubano-castrista, filhote do comunismo stalinista, que faria com que prédios de classe média do Lebon, no Rio, ou no Morumbi, em São Paulo, tivessem que ser compartilhados com famílias pobres e miseráveis, como, diziam, aconteceu em Moscou, após a revolução bolchevique.
Eu tinha 16 anos quando a ditadura militar foi instalada no país. E vivi até os 37 anos sob censura e com medo… brigando contra, mas normalmente derrotado pela abulia do povo e pela ganância da elite que, derrotada a ditadura e retomada a democracia, tentou evitar, de todas as maneiras, que um operário, membro do povão, fosse eleito para a Presidência.. Depois de três tentativas, conseguiu… o operário foi eleito e reeleito e elegeu sua sucessora, que nunca teve a mesma cintura política do padrinho, e foi derrubada pela velha oligarquia, num golpe constitucional.
Isto já é história, apesar dos protagonistas e principais coadjuvantes continuarem estrelando o palco político, aos quais se juntou um figurante que, mantendo-se no baixo clero do Congresso por quase 30 anos, sempre vomitando posturas anti sociais, anti humanas e preconceituosas, foi entronizado, repentinamente, como o representante maior, o Mito, de boa parcela da população brasileira que, com o advento das redes sociais, se sentiu livre para demonstrar, sem maiores riscos, seus instintos mais profundos e verdadeiros, o racismo, a homofobia, o machismo e o ódio por todas e quaisquer discordâncias.
Na esteira de uma campanha maciça de demonização das forças progressistas que governavam o país, a elite política e econômica, escorada na grande mídia, escolheu um lado e, depois de algumas tentativas frustradas de empinar uma candidatura mais palatável aos 40% do eleitorado brasileiro que nunca se posiciona politicamente, aquela massa amorfa que dança de acordo com os ventos, acabou se bandeando para o bolsonarismo, que dizia representar o anti petismo mais explícito.
O Mito, seus bolsokids, seus generais de pijama, seus bobos da Corte e seu Posto Ipiranga vão completar 01 ano de governo.Mesmo comparando com a desgraça que foi o desgoverno Temer, o Brasil mudou? A vida melhorou? Indústria e comércio estão contratando os quase 13 milhões de desempregados? A gasolina baixou de preço? O dólar estabilizou-se? As companhias aéreas aumentaram os vôos para Miami?
’Me dêem um ou dois anos que o Brasil levantará vôo…’, disse Paulo Guedes numa entrevista para explicar a maioria de indicadores ruins para a economia em quase um ano de direita no poder. Será que ainda haverá Brasil daqui a um ou dois anos? Será que nossa ainda frágil democracia estará de pé daqui a um ou dois anos?
Honestamente, eu acho que não. Os brasileiros em geral não tem culhões para conduzir seu próprio destino, deixam tudo nas mãos de políticos medíocres e mais interessados em se darem bem, nas mãos de governantes que consideram o povo apenas massa de manobra para se perpetuarem no poder, ou nas mãos de Deus, que indicará o camilho da felicidade… Aleluia! (continua quinta)