Novas de velhos tempos

Uma percorrida por jornalões e blogues na manhã de hoje me mostra que:

– Partidos solidários ao presidente afastado da Câmara Federal entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo para que o afastamento dele seja julgado pela própria Câmara. Os nobres parlamentares, certamente, acham que têm mais conhecimento das minudências políticas e, por isto, serão mais cuidadosos que os ministros do STF para analisar, aquilatar e sopesar as provas existentes, julgando o impoluto Eduardo Cunha, sem pressa ou pressão da sociedade, como prova o Conselho de Ética da Câmara, que o está julgando há 180 dias…

– Diário Oficial da União de hoje traz decreto do presidente interino exonerando o atual diretor presidente da Empresa Brasil de Comunicação. O constitucionalista Michel Temer tomou esta decisão sabendo que,  legalmente, Ricardo Mello tem mandato de 04 anos, vez que, como deputado federal em 2008, foi um dos que aprovou a MP 398, convertida  na Lei 11.652/2008, que criou a EBC como uma empresa de Estado e não do governo de ocasião, mas decidiu afrontar a lei, sob mal disfarçados aplausos das Organizações Globo. Enquanto o processo de contestação percorre os lentos caminhos da Justiça, a EBC será dirigida por Laerte Rímoli, o todo-poderoso diretor de Comunicação da Câmara Federal na gestão Eduardo Câmara. Precisa dizer mais alguma coisa? (se alguém se interessar, há uma reportagem da Carta Capital – “Outra fonte do Valerioduto” – publicada em 14/10/2013, que mostra quem é a figura, tão impoluta quanto o ex-chefe);

– Escolas estaduais de São Paulo, Estado governado por um simpatizante do Opus Dei, estão recebendo e entregando, para pais, alunos e professores, bíblias católicas e panfletos religiosos, apesar de, constitucionalmente, o Brasil ser um país laico. Numa delas (Escola Estadual Pirassununga), em reunião com os pais, foram entregues folhetos com orientações sobre comportamento adequado dos alunos e, na parte destinada aos pais, uma das recomendações é que deve-se incutir a fé em Deus nas crianças, pois isto  faz parte das “ações que auxiliam o bom desempenho do estudante”; noutra (Escola Gilberto Freire, de Taboão da Serra) os alunos receberam um exemplar do ‘Novo Testamento – Salmos Provérbios’; a notícia não informa se as escolas que ficaram ocupadas pelos alunos contrários à reformulação escolar tentada pelo governador também receberam e distribuíram tal material;

Novas de velhos tempos 4      Novas de velhos tempos 5  Novos de velhos tempos 6

– o novo ministro da Saúde, o engenheiro Ricardo Barros, deu entrevista em que falou, em relação ao Sistema Único de Saúde, que “em um determinado momento, vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia, que cortou as aposentadorias, e outros países que tiveram que repactuar as obrigações do Estado porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las (com a repercussão negativa da entrevista, já voltou atrás e disse que “o SUS está estabelecido” e que o tamanho do sistema não precisa ser revisto). O desmentido deve ter deixado roxo de raiva o maior doador para a campanha a deputado do ministro da Saúde. Seu nome é Elon Gomes de Almeida, sócio do grupo Aliança, dona da Aliança Administradora de Serviços de Saúde, um dos maiores planos de saúde do Brasil e que, naturalmente, seria um dos beneficiários diretos do “enxugamento do SUS” proposto pelo ministro;

– novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou parte de sua equipe, inclusive o presidente do Banco Central – que ainda tem que ser aprovado pelo Senado. Ilan Goldfajn já passou pelo governo, como diretor de Política Econômica do BACEN, na gestão Armínio Fraga (aquele que seria ministro da Fazenda do Aécio e que, quando presidente do Banco Central, em 1999, estabeleceu juros de 45% ao ano, recorde do país até hoje). Ilan  é mais conhecido entre seus pares por ser sócio diretor do banco Itaú e por alguns artigos que escreveu propondo soluções para a ‘crise econômica’ brasileira. Num deles, em 2013, escreveu: “Não está claro se há consciência na sociedade de que, para manter a inflação sob controle, possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho.” (Ou seja, o controle da inflação passa, necessariamente, pelo aumento do desemprego, e a sociedade precisa entender isto). Noutros dois, de 2015, os títulos já dizem tudo: “A arte de cortar na carne” e “Um pouco mais da arte de cortar na carne”;  neles, é ressaltada a necessidade de um forte ajuste fiscal exclusivamente via gastos do governo, o que se daria através da reavaliação do Minha Casa Minha Vida e do Programa de Aceleração do Crescimento, fortes ajustes na contratação e reajustes de pessoal, e nos critérios de concessões de diversos benefícios. Este ajuste, evidentemente, provocaria um aumento “temporário” do desemprego… (temporariamente e temporário são eufemismos para aquele velho ‘fazer o bolo crescer, para depois distribuir’, que nunca acontece).

Novas de velhos tempos 6   Novas de velhos tempos 8  Novas de velhos tempos 10

Pra não dizer que não falei de flores, há uma notícia boa… as plataformas digitais dos jornalões não deram destaque (a da Folha nem deu), mas, pelo menos, publicaram: o ministro Marco Aurélio Mello  liberou a ação que pede a abertura de processo de impeachment contra o presidente interino para julgamento no plenário do STF. Falta marcar a data… talvez, quem sabe… antes da interinidade acabar?

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *