Nós merecemos

Em blog recente, eu escrevi sobre a pseudo democracia brasileira, aquela fantasia do governo do povo inventado pelos gregos. Uma das contra faces da democracia, que sempre existiu nas organizações humanas,  é a plutocracia, o exercício do poder ou do governo pelas classes mais abastadas da sociedade. E a história nos mostra que o Brasil sempre foi exatamente isto, uma plutocracia…

Eu nunca escrevi, mas sempre dei a entender, neste blog, que uma das maiores falhas da cultura brasileira é não ensinar nossas crianças e jovens a verdadeira história do país. Lógico que isto não interessa os eternos donos do poder, mas uma revolução  não se faz apenas com armas e sangue… é possível conscientizar um povo através da educação e da cultura, mesmo que a distribuição de renda seja catastrófica, como é no Brasil.

Eu tenho para mim que um dos grandes erros do lulo-petismo, talvez o maior, foi exatamente este: achar que seus programas de  inserção social que tiraram milhões de brasileiros da miséria e ascenderam outros milhões à classe média baixa, iriam torna-los eternamente gratos a estas políticas (e ao lulo-petismo, claro!). Sem embasamento cultural e sem alfabetização política, milhões destes saídos da miséria e da pobreza se transformaram em anti lulistas. E o Brasil babaquizou-se!

A natureza humana segue o padrão animal: a sobrevivência vem em primeiro lugar! Sempre! Assim como uma família leonina não mata para se divertir, mas para se alimentar (e sobreviver), a família humana não segue um grupo, uma religião, um partido por paixão ou diversão, mas para se proteger (e sobreviver). Se o grupo, a religião ou o partido é forte, fazer parte dele é fortalecer-se na vida.

Ninguém em sã consciência gosta de ficar sozinho, a lutar com moinhos de vento e obstáculos que a vida nos impõe.  A vida não é nada fácil para ninguém… E é bem mais difícil ainda para quem mora numa favela ou periferia e tem que levantar às 04/05 horas da manhã para se pendurar num ônibus ou metrô entupido de gente, trabalhadora como ele, para pegar no batente, trabalhar 06, 08, 10 horas, e pegar outro ônibus ou metrô apinhado para voltar para casa, comer e cair na cama, porque amanhã é outro dia… igual!

Milhares de brasileiros que ascenderam à classe média baixa nos governos lulistas se tornaram bolsonaristas quando o governo Dilma, escolhida por Lula, tentando sobreviver à pressão do poder econômico, mudou de rumo. A perspectiva deste monte de gente que, por fim, conseguira financiar uma casa própria em 30 anos, que pôde comprar uma tevê de plasma em 12 prestações mensais, que pudera – suprema glória! – ter um carrinho financiado em 60 meses, sentiu que podia perder tudo! E encontrou o motivo, que a mídia e as redes sociais lhe empurrarram goela abaixo: a corrupção… e o petismo!

Moro, Dallagnol e Lava Jato foram essenciais neste processo. A ideia básica dos donos do poder não era endeusar uma idiotice como Bolsonaro, seus filhos e seus generais de pijama, mas entronizar um ‘picolé de chuchu’ ou o “menino pobre que mudou o Brasil” ou o “bom moço Huck e sua angélica loura, que venceram na vida”. Eles sabem que brasileiro só topa briga em estádio de futebol, e não perceberam que o analfabetismo político dos brasileiros (eles sempre consideraram o povo uma choldra, obediente às suas determinações!) entende uma disputa política como uma disputa futebolística: se é pra derrotar o’ inimigo’, vale qualquer coisa, até perder prum  time mais fraco!

Bolsonaro e sua tropa são as moscas do cocô do cavalo do bandido… representam o pior que a sociedade brasileira produziu em 500 anos de plutocracia! E esta plutocracia já sabia disto! Só não imaginava que as coisas degringolassem tão rápido. E precisa, urgentemente, mudar o rumo delas, senão o Brasil todo pode virar um imenso estádio… Primeira opção, o general Mourão, vice-presidente eleito, uma versão mais ensaboada do Mito, sumiu. Falastrão no início do governo, recolheu-se à própria insignificância pessoal e aguarda, nos bastidores, um desfecho favorável à sua entronização presidencial.

A reforma trabalhista aprovada logo após o golpe, que faria o desemprego sumir, piorou a situação dos trabalhadores e o número de pessoas subutilizadas (desempregados, que trabalham menos do que poderiam, que não procuraram emprego mas estavam disponíveis para trabalhar ou que procuraram emprego mas não estavam disponíveis para a vaga) continua alto, 28,4 milhões, equivalente a 30,7% dos empregados com carteira assinada (e Dilma foi derrubada há 03 anos já!)

Já a reforma da Previdência, o remédio para todos os males do Brasil, está no meio do caminho… e já foi desossada em alguns milhões, correndo o risco de ficar mais capenga ainda ao passar por duas votações no Senado. Outras, prometidas nos palanques eleitorais, como a reforma tributária e a privatização de estatais são pomposamente divulgadas, mas não têm previsão de execução ou término (a não ser o fatiamento e venda da Petrobras e do pre-sal, que continuam de vento em popa, para alegria das petroleiras). Enquanto isto, os recrutas do Exército ficarão no quartel só até meio-dia, pois não há dinheiro para o almoço! E o Ministério de Ciência e Tecnologia vai parar de pagar bolsas e pesquisas, por falta de dinheiro!

Mas, como sempre, os plutocratas não se apoquentam: já colocaram uma cordinha no pescoço do Mito e aguardam ele próprio ir apertando o nó até se enforcar.  Isto pode demorar um mês, um ano, o mandato inteiro. Nos planos da plutocracia, isto é um detalhe, pois o Brasil e seu povo são apenas o esterco que frutifica seus lucros… Pequenas reduções neste lucro podem ser toleradas por 01 mês, um ano, o mandato inteiro… desde que, ao final, eles mantenham os cordéis em suas mãos!

Fico imaginando (e torcendo) para que The Intercept Brasil receba anonimamente um calhamaço de diálogos, via Instagran ou Whats’App, de grupos de empresários, industriais e executivos de multinacionais, comentando a “decepção” com o governo Bolsonaro e o ódio ao lulo-petismo e propondo/preparando os próximos passos para a manutenção da “democracia” pátria. Alguns tuitarão “Mourão é o caminho!”. Outros dirão: “Vamos impinchar a chapa e colocar o Maia na Presidência!”. E, certamente, alguns digitarão: “Devemos seguir a Constituição. Pedimos  eleições diretas e emplacamos Hulk… ou Amoedo!”

Na visão da plutocracia, o povo é imbecil! A prova? 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro!

 

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