Quem estudou história universal, mesmo aquela elementar dada no colégio, aprendeu que democracia é uma palavra criada para designar uma forma de governo inventada na Grécia Antiga, significando governo do povo (DEMOS = povo, distrito + KRATOS = domínio, poder). É óbvio que a imensa maioria do povo brasileiro, com o tipo de ensino que o país teve durante toda a sua história, não associa a ideia de que o governo democrático do Brasil é aquele em que a Constituição, antes ainda de seu artigo 1º, estabeleceu:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Promulgada em 05 de outubro de 1988 e chamada por Ulisses Guimarães de “Constituição Cidadã”, nossa Carta Magna deveria ser o balizamento legal da vida nacional. Resultante de uma Assembleia Nacional exclusiva, formada por cidadãos brasileiros eleitos pelo povo logo após 21 anos de ditadura militar, ela foi escrita pelos representantes deste povo com a missão de definir e consolidar a democracia como o regime que governaria o Brasil para todo o sempre.
Eu tinha 40 anos e três filhas, a última recém nascida, e estava no auge da minha vida como servidor público sem padrinho político – era chefe de gabinete da Presidência de uma estatal. E fazia parte de um grupo de idiotas que tendo lutado contra a ditadura durante mais de 20 anos, acreditou que nossa luta, enfim, chegara ao fim…
Nós acreditávamos tanto na democracia e num chavão típico da esquerda, “o povo sabe o que quer” que engolimos Collor e o ‘Caçador de Marajás’ inventado pela Globo, gozamos e humilhamos Itamar (a República do Pão de Queijo), acreditamos no “príncipe dos sociólogos”, o “esquerdista” Fernando Henrique Cardoso que, de sociólogo e socialista, só tinha a esposa Dona Ruth, e, indo contra a vontade da então ‘namoradinha do Brasil’, nos vangloriamos da eleição do operário Lula em 2002…
Me lembro, nitidamente, de uma discussão com um amigo, tomando chope num boteco, no dia da eleição do Lula:
– P..a* que pariu! Pelé estava certo: o povo não sabe votar! Eleger um operário analfabeto pra Presidente? É um absurdo!
– Que besteira, sô… O cara é líder sindical. Liderou as principais greves do país durante a ditadura…
– Pois que fique no meio do povo, c….lho*! Eu tenho pós-graduação em Agronomia nos Estados Unidos! E não vou ser presidido por um retirante nordestino de jeito nenhum!
Isto aconteceu em 2002… Ali começou a perseguição à política de inclusão social promovida por aquilo que Lula e Dilma representaram: governos democráticos voltados para promover a redistribuição de renda, a eliminação da miserabilidade nacional, a essência da democracia, um governo do povo para o povo! Que a elite sempre abominou! E sempre combateu, usando de todos os artifícios possíveis e imagináveis, inclusive, em tempos de redes sociais, as fake News e a tecno-burocracia encastelada no Estado…
Mas, nós acreditávamos na democracia e na ‘sabedoria’ do povo! Nusfu! E o povo junto ‘cum nóis’…