Alienação ou calhordice? (I)

Como sempre, uma frase do presidente estampou manchetes e bombou nas redes insociais: “O Brasil é um país rico para praticamente qualquer plantio. Fora que passar fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não (se) come bem, aí eu concordo. Agora, passar fome, não…”

Minha frase é pedante e ridícula (nascer no seio), mas verdadeira: eu nasci no seio de uma família classe média, mais para alta que para baixa! Meu pai era médico e, com dois empregos, o Estado e o consultório particular, conseguiu sustentá-la (minha mãe era dona de casa) até meu irmão, eu e minha irmã de criação nos tornarmos gente (meu irmão começou a trabalhar aos 14, eu aos 17 e Marcinha aos 18, mas nenhum de nós deixou a casa paterna antes de se casar).

Ou seja: eu nunca passei fome… Mas, na infância, na juventude, na maturidade e na velhice, eu conheci e conheço gente que passa fome! Menino ainda, andando com minha mãe, às vezes chupando um picolé ou comendo um chocolate,eu achava esquisitas (e sujas) aquelas mulheres sentadas nas esquinas de Beagá com crianças em volta, uma agarrada num peito murcho e as outras em volta, pedindo comida, esmola ou qualquer outra coisa, atenção que fosse….

Na juventude, engolfado nos livros, eu comecei a compreender a estupidez do comunismo (ninguém é igual a nniguém, o ser humano é egoísta por natureza!), a safadeza do capitalismo (a grande maioria não tem oportunidades iguais… pouquíssimos conseguem se fazer por si próprios! E os que conseguem se tornam ‘cases’ publicitários, invejados mas nunca igualados!) e me tornei mais ou menos socialista, achando que o ser humano é naturalmente bom, tornando-se mal ou idiota em razão da sociedade em que vive.

Com a idade, percebi que o ser humano, em sua maioria esmagadora, não é bom… É individualista, é mesquinho, é interesseiro… estejam próximos ou distantes da gente. Se é miserável, ele quer algo para comer, se é mais ou menos, ele não está satisfeito e quer algo para ganhar um pouco mais, se é rico, ele não está nem aí para os outros… quer cada vez mais, mais para si mesmo!

As religiões e o Estado tentam equilibrar ou controlar este egocentrismo, o que permite a sobrevivência de uma sociedade, mesmo tão injusta e desigual como a brasileira. O problema é quando surgem lideranças despreparadas e extremadas, que acham que só existe uma verdade, a sua, e que toda a sociedade precisa acatá-la e cumpri-la, não importa a que preço e em que condições.

Nós temos um governo assim hoje. Bolsonaro, eleito por 57 milhões de brasileiros, uma parte enganada por fake news produzidas e distribuídas por empresários interesseiros e governos mal intencionados e outra parte fanática, pelas posturas macho-preconceituosas do Mito,  não mede palavras nem atos. Age com o fígado, mercê de um ódio arraigado em suas próprias angústias existenciais. (continua amanhã)

 

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