Já escrevi aqui que eu acompanho política, com gosto, há muitos e muitos anos. Não sou político, primeiro porque na época ideal para me tornar um, quando universitário, a ditadura mandava, e fazer política podia dar em prisão, tortura e morte. Depois, já profissional, eu acreditava que o fato de ser jornalista me impedia, eticamente, de manifestar posturas políticas, mesmo tendo e deixando claro que as tinha, quando fora do trabalho.
Tanto é assim que fui eleito vice-presidente do Diretório Acadêmico da minha faculdade e fui diretor da associação de servidores da minha empresa e participo ativa e voluntariamente, como diretor eleito ou coordenador de comissão, já por uns 15 anos, da associação do Núcleo Rural onde moro. Em um e outras, sempre tentei apresentar e fazer valer minhas ideias e posturas políticas, sem que isto significasse tentar impô-las ou deixar de participar, caso elas não fossem aceitas. Muitas vezes, foram, muitas, não…
Com o advento da Internet, das redes (in)sociais, da participação mais ativa e, muitas vezes, nociva, da sociedade, dando palpite em tudo e sobre qualquer coisa, e já aposentado, eu descobri que opinar era preciso e me tornei, primeiro, um blogueiro, depois um zapeeiro, depois um facebuqueiro e, finalmente, um twitteiro. Sempre postando e debatendo política…
Por quê? Eu sou de uma geração em que preservar a vida pessoal, a intimidade, era parte da boa educação recebida, em casa, na escola e na convivência social. As gerações posteriores à minha, com a urbanização/industrialização substituindo o secular ruralismo, a evolução das ciências físicas, químicas, humanas e sociais, a gradativa predominância do mundo virtual (rádio/tevê aberta/tevê fechada/Internet/redes insociais) sobre o mundo real (o Bonner disse… é verdade! A novela mostrou os dois caras se beijando… então pode! Minhas redes do Whats’App dizem que Bolsonaro é um cara legal. Vou votar nele!) mudaram os paradigmas da sociedade em que fui criado. Mas não mudaram minhas convicções…
Apesar de um tanto ou quanto desiludido da política desde a última eleição, não perdi meu faro, e ele diz que o meu lado está perdendo a batalha de novo… Desde que Lula assumiu a Presidência, no longínquo 2002, depois da ilusão esquerdista do presumido governo socialdemocrata de Fernando Henrique, que o país caminhava por uma trilha que eu acredito a correta: sem confrontar o capitalismo, sem contornar ou desrespeitar a democracia, sem retirar quaisquer liberdades, foram implementados ou fortalecidos vários direitos que, constitucionalmente existentes, não alcançavam, na prática, o povo brasileiro.
Os donos do poder, econômico e político, não gostam disso. Analfabeto político é muito mais fácil de ser enganado e conduzido. Apanha calado e costuma aceitar qualquer mil reais para ter comida na mesa e o domingo livre para ver seu timão jogar. As benesses do lulo-petismo estavam ficando perigosas: salário mínimo acima da inflação? Bolsa família para pobre que mantivesse os filhos na escola? Pobres, pardos e pretos de escolas públicas com direito de entrar nas universidades? E com direito a bolsas no Exterior? Empregadas domésticas com direitos trabalhistas? Porteiros, garis, manicures e diaristas transformando aeroportos em rodoviárias e viajando de avião? E indo até Miami? Meu Deus! Isto é comunismo pagão! Daqui a pouco o povo vai estar querendo fazer as leis!
Um ex-colega de trabalho, aposentado como eu, classe média como eu, mas anti petista roxo – ele havia perdido o cargo de chefia no primeiro governo Lula porque não aceitava que a empresa comprasse produção de assentamentos de sem terra – logo depois da reeleição de Dilma, me disse, sabendo da minha posição política: “A coisa vai ficar braba!” “Pra quem?” – eu perguntei. “Pra vocês, p…a*! O mensalão não deu certo, mas a Lava Jato está tinindo, com know how americano, cara! O lulopetismo vai se f…r*, graças a Deus!” Ele estava certo. Ao estilo americano, teve até filme com tapete vermelho para as estrelas, juízes, procuradores e policiais federais, não atores e atrizes… (continua amanhã)