Traidores? (I)

Nos meus tempos de militante não violento contra a ditadura, inicialmente no Colégio Estadual e, depois, no Curso de Jornalismo, a gente fazia reuniões ‘secretas’ para discutir e preparar ações de protesto ou fazer cartazes (tipo Abaixo a Ditadura ou Yanks Go Home ou Gorilas) a serem espalhados pela cidade.

Evidentemente, havia acaloradas discussões políticas – desde os primórdios do comunismo, as esquerdas, especialmente as lights, preferem discutir a agir – e um dos temas recorrentes nestas discussões era a existência de traidores entre nós, opositores ao regime militar. Todas as vezes que eu escutava alguém sendo chamado de traidor, eu tinha calafrios, porque em situações de confronto ou de guerra mesmo, é muito fácil apontar o dedo para alguém que não concorda com uma ideia sua ou que recusou ir para a cama com você e chama-lo de traidor ou traidora.

Segundo o senso comum, traidor é todo aquele que, por desamor ou sem vergonhice, por inimizade, por falta de convicção, por mudar de ideia ou por dinheiro ou poder, pula a cerca, troca de lado ou vira inimigo. Traição é imperdoável em qualquer situação (pela falsidade embutida do ato de trair), mas me interessa aqui discutir – mesmo não fazendo mais parte de qualquer grupo político, apesar de manter minhas convicções dos tempos da juventude – a traição apenas em seus aspectos político e militar.

Eu quero analisar uma pulga que está há tempos em minha orelha: como o país e a história vão encarar a ação da Lava Jato e a atuação de seus procuradores, policiais e juízes em relação à atual destruição do Brasil como país democrático e em desenvolvimento, uma situação para a qual a Lava Jato deu uma contribuição inestimável?

Qual a motivação que estes heróis da classe média (que tem ódio da corrupção, mas acha que sonegar imposto de renda não é corrupção…) tiveram para, literalmente, levarem o país para o brejo? Convicção objetiva de que a corrupção é que estava levando a isto? Ódio incontido de políticas sociais que podiam ameaçar o status dos jovens agentes concursados do Estado? Ou, simplesmente, desejo de poder, substituindo o voto ‘analfabeto’ do povo por uma casta de jovens concursados que se considera muito melhor preparada para conduzir uma nação…?

A história das Civilizações ensinada no mundo ocidental tem um traidor-mor: Judas Iscariotis, que  entregou Jesus Crsito aos romanos em troca de 30 dinheiros (não sou especialista em Bíblia, mas alguém precisava entregar Jesus, que pregava por todos os lugares, sem se esconder?). A história do Brasil também tem seu traidor-mor: Joaquim Silvério dos Reis, que entregou a conspiração da Inconfidência Mineira e, por isso, teve suas dívidas perdoadas e ganhou uma pensão vitalícia do governo português (mas, ele era português, p…a*, ou seja, não traiu sua pátria!)

Janot, Moro, Gebran, Marena, Dallagnol, apesar dos nomes, são brasileiros legítimos. Em nome da Lava Jato, e em estreita colaboração com o Departamento de Justiça do governo americano, destruíram a promissora indústria nuclear brasileira, acabaram com a expansão internacional das empreiteiras brasileiras, derrubaram a renascida indústria naval brasileira e, muito mais do que os corruptos e corruptores, transformaram a Petrobras numa presa fácil das grandes petroleiras multinacionais, que estão assumindo, alegremente, a exploração do pré-sal, que poderia tornar o Brasil  em uma das grandes nações do mundo. De acordo com os códigos militares, isto é traição? (Na lei militar, traição é o crime de deslealdade de um cidadão à sua pátria).

Aí, você escuta uma entrevista do presidente Bolsonaro, em que ele diz que, antes de ser eleito,  fez um acordo com o juiz Moro, da Lava Jato, no qual, caso se elegesse, o indicaria para o STF – o mesmo Moro que já declarara que o STF era um prêmio de loteria para ele (ele tem consciência que não tem capacidade de ser ministro superior).

Ora, a maior barreira à eleição de Bolsonaro era a candidatura de Lula que, então, foi condenado por Moro, sem provas, mas com incrível convicção, condenação confirmada e com pena aumentada para evitar contestações constitucionais, pelo relator Gebran Neto, amigão do Moro, e seus parceiros do TRF da 4ª Região, em votos escritos antes do julgamento, e declarado inelegível.  (continua amanhã)

https://www.youtube.com/watch?v=CV4pidYTrDM

 

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