Eu não acredito em um Deus Todo Poderoso, que governe a minha vida e a de todos os seres humanos. Eu comecei a desconfiar dele a na infância, por raiva, quando era obrigado a assistir missas que eu não entendia (eram em latim ainda) e os padres me obrigavam a confessar pecados que eu não tinha ideia que havia cometido (ter raiva da minha mãe por me mandar tomar banho, por exemplo).
Mas não sou inteiramente ateu, no máximo agnóstico… Ou seja: não acredito, mas não me sinto capaz de provar que ele exista ou não exista. Além disso, acredito em forças positivas e negativas, emanadas pelos próprios seres humanos, forças esta que efetivamente exercem enorme influência na vida nossa de cada dia e no Universo que vivemos.
No momento, por exemplo, se Deus existir, imagino que esteja descansando ou gozando merecidas férias: além daquelas tradicionais guerras localizadas, em que as potências mundiais movem suas peças em prejuízo mortal de imensos contingentes de seres humanos, líderes violentos, ambiciosos, desumanos, que têm a hipócrita mania de usar o nome de Deus, governam Estados Unidos, Rússia, Grâ Bretanha, Itália, Hungria, Turquia e até o Brasil.
Se não existir, tenho certeza que os seres humanos estão exalando negativismo por todos os poros, ajudando a criar este ambiente de insatisfação, descrédito, desrespeito, um ódio incontido que explode a todo momento e nas situações menos cabíveis do dia a dia, como na inconcebível quantidade de balas (267) disparadas por soldados do Exército sobre um carro ‘suspeito’, matando um pai de família inocente e um heroico catador que salvou um garoto que estava no carro metralhado.
É óbvio que estas lideranças populistas, vazias de humanidade, aliadas à cupidez dos adoradores do Deus Mercado e ao analfabetismo político e cultural da imensa maioria da população, têm grande responsabilidade sobre esta situação. As últimas estatísticas da ONU, através de seus organismos específicos, sobre alimentação, saúde, miséria, fome, migração, são impressionantes, para o mundo e para o Brasil:
– segundo a FAO, a fome mundial aumentou para 821 milhões de pessoas e para 39,3 milhões na América Latina e no Caribe;
– segundo a ACNUR, o número de pessoas que tiveram de deixar seus lares em 2017, chegou a um patamar inédito — 68,5 milhões de indivíduos; deste total 25,4 milhões foram obrigados a deixar seus próprios países, enfrentando barreiras políticas para se refugiarem em outros países…
– de acordo com o PNUD, em 2017, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil foi de 0,759 , o que o manteve na 79ª posição, atrás até da “destruída” Venezuela, dentre um conjunto de 189 economias;
– segundo a OMS, 7 milhões de pessoas estão morrendo por ano, devido a enfermidades como câncer, acidente vascular cerebral e doenças cardiovasculares e pulmonares, por causa da poluição do ar, a maioria em países de baixa e média renda.
“O mundo sempre foi assim”, dizem alguns amigos, refastelados em suas poltronas e bebericando um uísque 12 anos… Sim, o ser humano é o único animal que não faz questão nenhuma de preservar sua própria espécie. Estão aí as bombas atômicas, de hidrogênio, de nêutrons, os agentes químicos, o sarin, o napalm usado na Guerra do Vietnam, os pesticidas cada vez mais liberados no Brasil atual…
Mas as pessoas, os vizinhos, os colegas de trabalho, os familiares, os transeuntes ou passageiros eram menos agressivos em sua convivência no dia a dia. E esta convivência mais amena compensava as loucuras perpetradas pelos líderes mundiais, criando situações que sempre explodiam bem longe de seus narizes e palácios marmorizados, onde se encastelam protegidos por mísseis disparáveis ao simples apetar de um dedo.
Hoje, não. A loucura desceu à superfície. A globalização e, na sua rabeira, a internetização do mundo, transformaram cada ser humano dotado de um celular ou um smartphone ou uma CPU em um agente do ódio. Um amigo me disse, outro dia, que “cada ser humano digital se tornou um jihadista da sua causa, disposto a explodir quem pensa diferente dele”.
“Isto é insano… é a adoração do ódio!”, contrapus, sabendo que ele tinha razão. “E exatamente isto – respondeu ele – é insanidade! Olha nós aqui, naquele que sempre foi o país do samba, do Carnaval, da alegria: quer coisa mais louca que o Ministro da Educação dizer que vai cortar 30% dos recursos de universidades que promovem “balbúrdia” ou que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos dizer que uma história infantil adorada pela minha netinha, está promovendo o lesbianismo?”
Infelizmente, ele esta certo. Não sei o resto do mundo, mas nós marchamos diretamente para o brejo… Um país cujo presidente governa pelo twitter, assessorado pelos filhos, também twiteiros, que aprova as determinações políticas de ministros incapazes ou insanos ou interesseiros como Onix, Ricardo Salles, Weintraub ou Damares, está num beco sem saída: ou se revolta e entrega o poder ao Mourão, outro anti democrata, ou faz uma revolução popular!
Gostaria de acreditar mas, infelizmente, não acredito na segunda opção, por mais que os estudantes, assim como nos anos 60, comecem a ir para as ruas…