(continuação)

Para finalizar, então: os jovens que puxaram os cordões das manifestações espontâneas de 2013, para impedir o aumento das passagens do transporte público, combinando-as e promovendo-as através das redes sociais, mostraram um poder que não imaginavam ter… Mas, logo perceberam que este poder pode ser manipulado por grupos econômicos, pela grande imprensa, por sociedades externas com interesses bem escusos por trás dos apelos de “abaixo a corrupção”, “fora Dilma”, “impeachment já”. E refluíram.

Ficaram ativos, apenas, os grupos organizados de direita – MBL, Vem pra rua, Revoltados On Line, além dos black blocks – vários com estruturas financiadas por não se sabe quem, e que  organizaram movimentações de rua e/ou acontecimentos midiáticos – a marcha sobre Brasília, o encontro com Eduardo Cunha, na presidência da Câmara… – mas fracassaram, apesar de toda a cobertura favorável da grande imprensa. 

Já os jovens efetivamente interessados em mudanças reais no país, para eliminar a podridão política, para melhorar a distribuição da riqueza nacional, para obter escolas e hospitais públicos com “padrão FIFA”, para dar um salto de qualidade na vida do brasileiro, enfim… continuaram  se comunicando e se conscientizando através das redes sociais. E passaram a se mobilizar em causas justas, como a ocupação das escolas públicas de São Paulo, de Goiás e do Rio de Janeiro, contra a “privatização” do ensino, ou da Assembléia Legislativa de São Paulo, pela instalação de uma CPI da Merenda Escolar (com pouquíssima atenção dada pela grande imprensa, evidentemente, e muita repressão policial).

Pois é nas mãos destes jovens que estão depositadas as esperanças de minha geração para um ‘upgrade’ de Brasil. Minha geração, que foi capaz de enfrentar e vencer uma ditadura cruel e nefasta, minha geração, que foi capaz de escrever e aprovar uma Constituição-Cidadã, minha geração, que foi capaz de mudar o paradigma social do país… infelizmente, não foi capaz de avançar além disso, no sentido de transformar o país em uma Nação, de todos, por todos e para todos. 

Muito provavelmente e do mesmo modo que a minha geração reconhece, hoje, que um “coronel” nordestino, que manteve seu Maranhão em estado de miséria, foi capaz de sustentar a tenra democracia brasileira, e que um televisivo caçador de marajás foi capaz de escancarar as portas do Brasil para a tecnologia, daqui a uns 30 anos, quando estes jovens escreverem suas memórias destes tempos, eles saberão reconhecer que os governos petistas, com todos os seus defeitos, falhas e idiossincrasias, fizeram algo maior ainda, pois foi capaz de mudar o paradigma social do país, iniciando o processo de mudança do mais vergonhoso legado da sociedade brasileira, em 500 anos de existência, a desigualdade social.

Novos tempos começam hoje, com o afastamento da presidenta Dilma e com o PMDB, mais uma vez, empalmando o poder, desta vez sem qualquer legitimidade, abrindo mais espaço para a caçada final, sem tréguas, a Lula e ao PT que, se sobreviver, terá que se refundar – sem suas lideranças históricas – para voltar a ser aquela oposição combativa, através da qual construiu seu caminho para o poder.

O governo interino de Temer produzirá um refresco econômico no início, sem dúvida alguma. Afinal, todo o poder econômico que ajudou a  amarrar as mãos e os pés do governo Dilma vão desatar os nós imediatamente… Mas, permanecerão unidos e “bonzinhos” por quanto tempo? E a Lava Jato, o juiz Moro, os delegados federais e procuradores do Paraná… recolherão  suas armas?

De um jeito ou de outro, há uma certeza: a democracia brasileira, hoje, regride uns 20 anos. Figurinhas carimbadas que freqüentam  o poder desde que os militares foram afastados, como Romero Jucá, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Henrique Alves, Gilberto Kassab, Sarney Filho estão praticamente definidos como ministros. A eles se juntam lídimos representantes do conservadorismo mais tacanho e do capitalismo mais selvagem do país, como Blairo Maggi, Bruno Araújo, Mendonça Filho, Tasso Jereissati,  Ilan Goldfajn e José Serra. Todos sob “comando”de um presidente sem legitimidade popular (na última eleição que Michel Temer concorreu, foi o último eleito do PMDB, com menos de 100.000 votos, só ocupando a cadeira de deputado federal em razão dos votos de legenda) e com a pecha de traidor, vez que batalhou, primeiro nas sombras e depois descaradamente, pela derrubada da presidenta, em benefício próprio.

Como a esperança é a última que morre, vislumbro um único motivo de alegria para o futuro próximo deste nosso país tão sofrido: os jovens efetivamente interessados em mudar o país, que cresceram e se conscientizaram sob a liberdade dos governos petistas, terão a oportunidade de conhecer como operam os governos conservadores, ilegítimos ou não. Integralmente apoiados pela grande imprensa, que segue religiosamente as palavras de  Rubens Ricúpero, ministro de FHC, indevidamente captadas por antenas parabólicas  (“Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, a gente esconde”), durante algum tempo, o Brasil volta a ser um país maravilhoso, com “inflação controlada, contas em dia, parlamento operante, de bem com as potências ocidentais…  Mas, como disse Lincoln há muitos e muitos anos atrás, “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”, a realidade acaba se impondo e, tenho certeza, os jovens saberão como tornar a democracia uma cláusula pétrea da vida brasileira, dando o passo definitivo para transformar o país em uma Nação.