Os bolsonários (II)

O grupo ‘Anti quebra-molas’ movimentou pessoas, apresentou advogados interessados em contestar, tentou levantar recursos, fez abaixo-assinado (logo contraposto por abaixo-assinado a favor de quebra-molas), e, sem resultados práticos, quase morreu. Talvez porque seus participantes tenham descoberto que apenas um ‘pardal’ estava em operação… a única limitação à velocidade irresponsável eram os quebra-molas insuportáveis, mas restritos, e um ‘pardal’ quase chegando ao balão do Colorado.

 

Aí, o DER-DF decide colocar em funcionamento os demais ‘pardais’ instalados na pista. O grupo reviveu e seus participantes ficaram apopléticos! Uma participante tentou argumentar e escreveu: “Os pardais estão aí pra coibir excessos de velocidade e assim diminuir acidentes que MATAM pessoas, não há nada a se comemorar com a retirada deles, absolutamente nada. Se as pessoas andarem dentro da lei, dentro das regras, na velocidade permitida, não há multas. O brasileiro precisa aprender que regras existem por um motivo e que obedecê-las faz parte de um pacto civilizatório. Não existe multa pra quem anda na velocidade estipulada, acho um desserviço pra população o que ele está fazendo (referindo-se ao anúncio do Presidente sobre a anulação de licitação para compra e instalação de pardais em rodovias federais).”

Os bolsonaristas do grupo indignaram-se! Um sofismou: “E eu que pensei que esses radares tinham sido decididos e implantados no governo anterior, ficando para esse ano apenas o final da instalação. Mas enfim, talvez a solução seja continuar com o palanque, um turno de eleição por dia, até derrubar o presidente e voltar ao caminho anterior, rumo à Venezuela. Avisa os meninos pra já ir acostumando com carne de cachorro. Na China eles comem e lambem os beiços, e agora também na Venezuela. Enfim, deve ser bom. Se bem que eu só vejo comunista comendo churrasco de carne de primeira.”

Eu acho hilárias as contestações desta tchurma. Alguém questiona alguma posição – só há multas porque o limite de velocidade estabelecido é desobedecido – e os caras não contestam nem discutem o questionamento, mas enfiam a Venezuela na conversa, e misturam com comunistas que, para eles, deviam continuar fazendo churrasquinho apenas de criancinhas…

São ridículos! O mundo evoluiu um bocado, o comunismo como regime político acabou com a queda do Muro de Berlim, e os caras, lídimos filhotes do, ou simples aproveitadores do bolsonaismo, como o ministro das Relações Exteriores e, agora, o novo ministro da Educação, continuam falando em marxismo cultural, globalismo pagão, civilização cristã ocidental. Francisco que abra os olhos… Se depender deles, o c* do Olavo de Carvalho vai acabar substituindo a cruz de Cristo!

Outro participante, menos agressivo, mas também sem contestar o argumento fundamental, postou: “Querida…, você não está só no grupo errado. Está também no PLANETA errado. No seu planeta, as autoridades fazem leis pensando no bem do povo, elas próprias obedecem às leis existentes, são honestas e eficientes no uso do dinheiro público. Acho que a última vez que isso aconteceu no Brasil foi no reinado de Pedro II”.

            Está aí outro tipo de gente que pulula na classe média brasileira: os que justificam seus próprios pecados – desobedecer placas de sinalização, ultrapassar em faixa contínua, jogar lixo na rua, ‘comprar’ carteira de estudante para pagar meia no cinema, furar fila, sonegar imposto de renda, pequenos ‘pecadilhos’ da vida cotidiana – pelos pecados cometidos por um significativo número de autoridades constituídas, que são nada mais nada menos que pessoas comuns, momentaneamente ocupando cargos públicos, para onde carregam os mesmos defeitos morais que já tinham como cidadãos (ao longo de 30 anos de serviço público, conheci dezenas de cidadãos que xingavam as autoridades pelas mutretas cometidas e, ao se tornarem autoridades, faziam a mesma coisa. Sempre foi uma questão de quem comete os crimes… Se sou eu, tudo bem!)

A primeira participante tenta voltar aos trilhos: “A indústria de multa só existe porque pessoas não respeitam as regras. Daí essas pessoas – pelo discurso – colocam uma camiseta falsificada da CBF (uma das instituições mais corruptas que se tem notícia) e vão às ruas bater panela contra a corrupção. Muito bonito exigir que os outros sigam regras, quando não estão dispostos a segui-las. Isso se chama hipocrisiaVocês misturam tudo tentando justificar o óbvio: não querem respeitar regras”.

E o aparentemente menos agressivo replica: “Vamos fazer o seguinte. Convence o povo da Venezuela a seguir as regras, e eu também passarei a seguir”. Em boa parte da minha juventude e maturidade, tempos sombrios de ditadura, qualquer tentativa de argumentar contra decisões militares, era respondida pelos apoiadores do regime forte enfiando a palavra Cuba, ou Fidel, na conversa. A falta de argumentos daquela época continua persistindo até hoje. Não é atoa que esta tchurma só conhece um jeito de enfrentar os problemas naturais da vida: com um trezoitão na mão! Eita argumento bão!

Houve uma época, que muita gente viveu amedrontada, em que a vida de quem discordasse das posturas e decisões governamentais, não valia p…a* nenhuma. Pacifica ou violentamente, a gente lutou muito para mudar isto. Conseguimos vencer e implantar a democracia no Brasil. Foi uma democracia frágil, mambembe, carregada de defeitos, mas que tentou respeitar a liberdade das pessoas pensarem e se manifestarem durante 30 anos…

Pena  que, infelizmente, não criou uma vacina contra a cupidez da elite brasileira. Que aga e canda por liberdades pessoais… “Com STF e tudo”, como disse o líder de todos os governos, Romero Jucá, Dilma caiu, Lula foi condenado e a elite reassumiu! O povão continua inerte… P..a* que o pariu! (fim)

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