A política no Brasil e o PT, seus erros e acertos (6)

(continuação)

O atual ódio a um partido ou ao ex-presidente Lula, com a intensidade que ele é publicado nas redes sociais ou o ódio que o deputado Fraga destila em sua publicidade eleitoral na televisão, me parecem inteiramente incoerentes com o conhecido espírito cordial do brasileiro. É claro que há componentes novos no jeito de ser do brasileiro desde que Sérgio Buarque de Holanda escreveu “Raízes do Brasil”: as possibilidades de ascensão das classes menos favorecidas abertas pelo petismo, a expansão da liberdade de expressão dada pela Internodio nas redes 1et e a evolução das igrejas evangélicas, com sua pregação oposta à filosofia católica de esperar a morte para conquistar a felicidade, despertou os instintos, nem sempre saudáveis, de muitos brasileiros.

Então, se um pastor evangélico como Marcos Feliciano, diz que a construção de sua Assembléia de Deus Catedral do Avivamento, através da qual ele amealhou um patrimônio espantoso e se elegeu deputado federal, começou depois de uma conversa particular com Deus (“quando comprei minha primeira propriedade, em Orlândia, no interior de São Paulo, voltava para casa com as chaves quando ouvi do Senhor que deveria oferecer a casa a alguém que precisasse mais dela. Consultei minha esposa, Edileusa, e decidimos abrir mão do sonho e doamos a casa a uma senhora – que ele não diz quem é, claro!), quando ele diz isto e milhares de fiéisodio nas redes 7 acreditam piamente, taodio nas redes 5mbém acreditam quando ele diz, no púlpito de seu templo, que (conforme odio nas redes 3Galeria dos Hipócritas, em www.viomundo.com.br):

  1. “A fortuna de Luís Inácio Lula da Silva e de seu filho é a oitava maior do Brasil” (se o deputado tem dados comprovados sobre fortuna oculta de Lula, superior a U$ 4,1 bi – segundo a Forbes, Francisco Ivens de Sá Dias Branco é a oitava fortuna do Brasil, com U$ 4,1 bi – deveria apresentá-los publicamente, vez que o mandato parlamentar não dá a ele o direito à mentira, embora possa mentir sem maiores conseqüências; ou
  2. “Tá vindo um decreto lá de cima, do governo pra baixo, dizendo que dentro das instituições que recuperam meninos drogados não se pode mais usar a palavra Deus” (não existe qualquer decreto do governo Dilma a respeito disto); ou
  3. “Nós temos aí o decreto 8243, bolivariano como foi apelidado, que pode simplesmente anular o poder do Congresso Nacional”, referindo-se ao projeto que instituía a Política Nacional de Participação Social, que simplesmente regulamentava a participação da sociedade civil na formulação, execução, monitoramento e avaliação das políticas públicasem caráter meramente consultivo; ou
  4. “Nesses últimos 12 anos, as universidades públicas de nosso país não produziram nenhum intelectual, pelo contrário, os meninos e meninas que estudaram nas grandes universidades, a maioria deles se transformou em revolucionários. Taí os black blocs pra gente provar”. (comprovadamente, a grande maioria dos black blocs eram jovens desempregados da periferia, sem educação formal). marco feliciano 2

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A verdade objetiva, infelizmente, é que a Teologia da Libertação, uma corrente teológica cristã nascida na América Latina, depois do Concílio Vaticano II, que fazia uma opção preferencial pelos pobres, conscientizando-os e fazendo-os lutar pelos seus direitos, foi “condenada” pela igreja católica a partir de João Paulo II, o que abriu as portas das casas menos favorecidas para as igrejas evangélicas, que conclamam seus fiéis a buscar e encontrar a felicidade (significando isto a riqueza) aqui na terra mesmo, sem esperar o céu.

Com isso, as Comunidades Eclesiais de Base, que se formaram em torno de igrejas com padres progressistas, que tinham força para apoiar candidatos a postos eletivos, mas nunca indicaram seus próprios padres como candidatos, perderam espaço para os evangélicos, cujos pastores assumiram candidaturas e se tornaram vereadores, deputados, pCEBs 3refeitos e, até, presidente da Câmara Federal… Com um detalhe perturbador: a agenda evangélica é extremamente conservadora, ajustando-se perfeitamente a outros grupos conservadores nos legislativos, como os ruralistas e os representantes dos grupos econômicos e financistas e da classe média tradicional, como a bancada da bala. E, sem apoio no Congresso, qualquer projeto do governo tem que ser exaustivamente negociado ficando,  geralmente, uma sombra do que foi originalmente proposto.

De outro lado, mas na mesma linha, a eleição e reeleição de Lula e a eleição de Dilma trouxeram o desgaste natural do petismo, o que levou os eleitores a levar, para as casas legislativas,  uma bancada forte e atuante que, mesmo com interesses próprios e distintos – contra a reforma agrária e as leis de CEBs 2preservação ambiental, para ruralistas, contra o aborto e as leis de igualdade social, para os evangélicos e católicos tradicionais, contra a bolsa família, as cotas raciais e as leis de desarmamento, para os representantes das classes médias e altas e contra os controles do capital e pela regularização da mídia, pelos grupos econômicos e grande imprensa – se uniram em torno de um inimigo comum, o petismo.

Não é por mero acaso que figuras com perfil radical de direita, conservadores tradicionais, pastores evangélicos e personagens apolíticas/ídolos televisivos, como Jair Bolsonaro, Clarissa Garotinho e Eduardo Cunha no Rio de Janeiro, Celso Russomano, Tiririca, Marcos Feliciano e Paulinho da Força, em São Paulo, Tenente-Coronel Alberto Fraga, no Distrito Federal, Eduardo da Fonte e Pastor Eurico, em Pernambuco, Delegado Waldir, em Goiás, Delegado Éder Mauro, no Pará, João Rodrigues, em Santa Catarina, obtiveram as mais expressivas votações em seus Estados. Não é por mero acaso que o evangélico Eduardo Cunha, conhecido por um número de processos judiciais desde que entrou na política pelas mãos de Paulo Cesar Farias – um dos maiores símbolos da corrupção no Brasil – foi eleito presidente da Câmara Federal, onde pintou e bordou, mandou e desmandou, com imenso apoio de seus pares, por um ano e meio, até ser seu mandato suspenso na semana passada pelo STF. (continua)

deputados radicais 1

 

cunha 3

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