Movimentação inescrupulosa de dinheiro, compadrio com presumíveis chefes de milícias, as quais sempre enalteceram e homenagearam em tempos passados, depósitos suspeitos na conta da primeira dama, suspeitas de uso indiscriminado das conhecidas ‘rachadinhas’ parlamentares não são ‘fake news’ plantadas pela grande imprensa… São fatos!
Fatos que nem o motorista/segurança/companheiro de pescaria do presidente, nem os ilustres parentes do fugitivo miliciano e nem o primeiro filho tiveram a dignidade de esclarecer aos órgãos investigativos. Ao contrário, fugiram delas, escondendo-se no bastião das milícias, o Rio das Pedras, ou invocando um fôro privilegiado antecipado, concedido por um supremo juiz amigo.
Pois bem! Este velho colega acredita que estes fatos não passam de invenções da mídia (ele não achava isto quando os alvos eram os petistas, claro!). E em longa postagem no Facebook, na qual enfatiza que esta sua opinião não está aberta para debate, diz que: “Em toda a minha vida, nunca vi ou ouvi falar de um presidente sendo examinado sobre cada palavra que ele fala, humilhado pelo mídia até a desgraça, caluniado, ridicularizado, insultado, ameaçado de morte, alguns tentando denegrir a imagem de nossa Primeira Dama, e ter seus filhos também insultados e humilhados.”
Em que país ele viveu nos últimos 50 anos? Tirante a ditadura militar (1964/1985), quando qualquer menção menos lisonjeira a atos e pessoas do governo era passível de chamada à delegacia mais próxima e, talvez prisão, para aprender a ‘respeitar’ as autoridades constituídas, todos os presidentes (e governadores e prefeitos e demais autoridades governamentais) foram acusados de safadezas (boa parte com razão) ou até mesmo vilipendiados pela Imprensa.
Só para refrescar a memória deste meu antigo colega e de alguns bolsonaristas que, como ele, temem reconhecer que, em seu anti petismo desenfreado (divergir, ser contra, não gostar de… é uma coisa, odiar é outra!), embarcaram numa canoa furada, eis alguns exemplos da grande imprensa nos tempos petistas: capas da Veja transformando Lula num condenado muito antes dele ser condenado sem provas materiais pela Justiça, manchete garrafal d’O Globo acusando Lulinha de ter contas pagas por um corrupto e o desmentido posterior escondido num canto do jornal, juntar um título garrafal de acusação a Lula com a foto das malas de dinheiro do Gedel, como se a segunda se referisse à primeira, também n’O Globo. Isto são exemplos, apenas… Sarney (e seus filhos Fernando e Roseana), Itamar, que era divorciado (e seus amigos mineiros), FHC e seus filhos (Luciana e Paulo Henrique), e principalmente Lula, sua mulher e seus filhos, foram, em determinados momentos, ‘massacrados’ pela imprensa.
Daí, meu velho colega, que não é idiota, que costuma acompanhar os noticiários há anos e que, com absoluta certeza, sabe que os presentes ataques ao governo Bolsonaro não são exceção ao comportamento da grande mídia nacional (em especial da Globo e da Veja), ao escrever o texto que escreveu, sem direito a debate, está apenas fugindo de uma realidade que ele não quer reconhecer.
Em menos de um mês de governo, Bolsonaro mostrou o que sempre foi, um picareta que surfou a onda do anti petismo e conquistou corações e mentes de 57 milhões de cidadãos insatisfeitos ou enraivecidos, analfabetos políticos e fanáticos religiosos, do que se aproveitaram as viúvas do atraso (o poder econômico-financeiro interessado apenas no próprio bolso, os saudosos da força bruta dos tempos ditatoriais e as modernas forças brutas que dominam bairros, favelas e periferias dos centros urbanos) para assumir definitiva e concretamente o poder central do país
Repetindo José Padilha, Jair Messias Bolsonaro é “unfit for office”, e isto é um fato, não invenção da grande imprensa que, como integrante dos grupos econômico-financeiros que sempre dominaram o país, já sabia disto e, mesmo assim, apoiou-o intensamente, seja para evitar o retorno de Lula, seja pela certeza que, com um presidente fraco, inapto e manipulável, teriam todas as condições para terminarem o trabalho predatório do país iniciado mas não concluído pelo governo neo-liberal de FHC.
A esta altura, seria muito satisfatório para mim berrar um “Eu bem que avisei!”, mas eu acho que a situação do país, especialmente para o povão, vai piorar ainda mais daqui para a frente. Democracia fraca, Congresso acoelhado, cada um querendo salvar o seu, governo batendo cabeça e possivelmente tutelado por quem pode mais, economia projetando beneficiar apenas os que já são poderosos e privilegiados… levam ao desespero.
Num país que, em 2017 chegou ao recorde mundial em número de assassinatos, 63 mil (07 mortos por hora!), a tendência, com o aumento do sub emprego, da informalidade, do crescente endividamento pessoal, da miséria, é piorar muito nos próximos meses até explodir uma revolta popular. Meu medo é que, desta vez, a explosão não fique apenas na bateção de panelas e xingamentos nas varandas e prédios de bairros chiques…
O brasileiro é, historicamente, um povo pacífico e passivo… que sempre preferiu transformar uma briga em marchinha de Carnaval. Houve uma mudança de comportamento nos últimos tempos, e não é ideológica ou filosófica: é igualzinho às brigas de turma da minha infância/juventude em Belo Horizonte! Quem manda no pedaço chamado Brasil? O petismo ou o anti petismo?
Na minha juventude, como eu já escrevi aqui no blog, minha turma do Mantiqueira não era páreo para a turma do San Remo ou a turma da Floresta… e a gente, com meu aconselhamento de ‘Professor’, tentava fugir dos conflitos. Eu me pergunto, quase 60 anos depois, se valeu a pena ter-se acovardado? (fim)