Algumas figuras proeminentes, como a musa do impeachment de Dilma, a deputada eleita com 02 milhões de votos, Janaína Paschoal, criticou os primeiros dias do governo e igualou as atitudes do primeiro filho, Flávio, enrolado com movimentações financeiras atípicas às do ex-senador Aécio Neves (que, aliás, continua livre, leve e solto, aguardando decisões de seus amigos da PGR, do STJ e do STF), estranhando, também, sua ‘proximidade’ com as milícias cariocas.
É o caso também do cineasta José Padilha, diretor dos excelentes Tropa de Elite 1 e 2 e da criticada série da HBO, O Mecanismo, um anti petista convicto que ‘bolsonarizou-se’ no decorrer da campanha presidencial. Em entrevista à Folha de São Paulo, Padilha disse considerar Jair Bolsonaro um político “unfit for office”,’ isto é, inapto para o cargo e que “os eleitores de Bolsonaro que acharam que estavam votando no capitão Nascimento talvez tenham votado no Rocha, o chefe da milícia.”
Para ficar bem claro para quem ainda acredita nas fake news bolsonaristas: Capitão Nascimento, apesar da violência intrínseca demonstrada nos filmes, é o ‘mocinho’ dos dois Tropa de Elite, e Rocha, também capitão do BOPE, do qual foi expulso por assassinato, e provável chefão do Escritório do Crime, que fugiu da operação policial em Rio das Pedras, foi homenageado e amedalhado pelo primeiro filho quando estava na cadeia…, razão pela qual teve contratadas sua mãe e sua mulher em seu gabinete de deputado estadual do Rio.
Atrás dos famosos, há os milhares de inocentes úteis e fanáticos religiosos que passaram a campanha eleitoral replicando, para suas redes pessoais, as milhares de fake news produzidas por robôs ilegalmente pagos por empresários amigos que, como os replicadores, transformaram Bolsonaro num Messias que iria salvar o Brasil e os brasileiros do Grande Satã Lula, destruidor da família e da moralidade religiosa e comedor de criancinhas…
Estes, com honrosas exceções e infelizmente, não se penitenciaram. São, em geral, crédulos fiéis da fé neo pentecostal, assíduos ouvintes/frequentadores de emissoras e igrejas dos malafaias, felicianos, macedos e damares, e enormes contingentes das classes média baixa e média temerosos de perder antigos ou recém conquistados privilégios sociais (nos governos petistas, no caso da primeira).
Os crédulos continuam acreditando e seguindo seus pastores (assim como seus pais ou avós seguiram os padres, ou os sertanejos seguiram Antônio Conselheiro em Canudos ou os posseiros e pequenos donos de terras seguiram o monge José Maria de Santo Agostinho na Guerra do Contestado). Já os defensores de posições radicais durante o processo eleitoral, como ‘bandido bom é bandido morto’, ‘humanos direitos é mais importante que direitos humanos’, ‘escola sem partido’, ‘o Estado não pode ser laico’, ‘aborto é um crime, as mulheres não têm o direito de abortar nem quando correm risco de vida ou são estupradas…’, ‘o Estado prejudica o cidadão’, ‘as regras ambientais são prejudiciais ao desenvolvimento do país’, etc etc etc…, também com ‘honrosas exceções’, desapareceram das redes sociais.
Ensarilharam as armas… ou estão ‘dando um tempo’, como dizem os jovens, que transformaram seus celulares, Ipods e tablets em barricadas (bons tempos aqueles em que a gente arriscava a liberdade e a vida pichando muros e carregando cartazes revolucionários, enfrentando policiais pelas ruas…!)
É interessante ler, nas redes sociais da qual eu participo, pessoas, muitas pessoas, que se mostravam ativas defensoras da moral e dos bons costumes ou idolatravam as postagens do evangélico procurador Dalagnol e as decisões do impoluto juiz Sérgio Moro, se omitirem das notícias de possíveis malfeitos do clã Bolsonaro e passarem a postar piadinhas idiotas sobre homossexualismo ou tentarem transformar seus grupos sociais em grupo onde as manifestações políticas não são adequadas… por enquanto, claro!
Infelizmente – eu digo infelizmente porque eu faço parte dela – isto é uma característica da classe média: seus membros nunca reconhecem que estão errados… Errados estão os outros! Neste aspecto, me impressiona a postagem de um velho colega de empresa, com quem tive maior contato após estarmos aposentados. Ambos integramos um grupo de ex-funcionários da empresa que tentava preservar o instituto de seguridade complementar que eu ajudei a criar em 1978.
Pois bem: durante a disputa eleitoral, este companheiro de luta tornou-se um destinatário e difusor das fake news bolsonaristas… Tudo bem! É um direito dele, que construiu sua vida como funcionário público, acreditar que a livre iniciativa é uma substituta eficiente do Estado, mais benéfica à população, que o lulo-petismo é uma desgraça, que Bolsonaro é realmente um mito e será capaz de erradicar a corrupção e acabar com as mamatas políticas (das quais ele participou por quase 30 anos de deputança), e que os militares são incorruptíveis e a salvação do país.
E é direito dele permanecer acreditando que o bolsonarismo continua representando tudo isto, apesar das imensas falhas que a imprensa, Globo inclusive, vem mostrando no caráter do clã presidencial… Ninguém gosta de ser enganado e, muito menos, de reconhecer que se enganou, seja o marido que descobre que a mulher tem outro, ou vice versa, seja um combatente da corrupção que descobre que seu mito também é corrupto. O ser humano, emocional ou racional, intelectual ou sanguíneo, miserável ou bilionário, com exceção dos políticos profissionais, não aceitam a traição. Muitas vezes nem é pelo ato em si, momentâneo, vingativo, desesperado… mas pelo desrespeito, pelo fingimento consequente, pela quebra da confiança mútua…!