Assim, como jornalista da velha guarda, eu não acredito que as sandices de dona Damares (ou do ministro das Relações Exteriores ou dos filhos presidenciais) sejam gratuitas. O fato é que, usando a técnica propagada pelo Steve Bannon, guru do direitismo fascista que ajudou a eleger Trump nos Estados Unidos, e suas ‘fake news’, todos eles fazem uma cortina de fumaça para as verdadeiras intenções dos grupos econômico-financeiros que ascenderam ao poder com a eleição do capitão (a indústria de armas, por exemplo, acaba de levar sua fatia).
Enquanto a esquerda, intelectuais, o povo mais esclarecido da sociedade e até a mídia tradicional fica debatendo e ridicularizando as sandices de Dona Damares, a americanofilia de Eduardo Araújo ou os chiliques anti petistas de Ônix Lorenzzoni, o verdadeiro poder por trás deles devolve o Brasil ao terceiro mundo, canalizando suas riquezas para os mais ricos, enquanto a população ganha o direito de trabalhar, e muito, para sobreviver e sustentar os poderosos de sempre.
Uma p…* velha da Comunicação como eu deveria estar vacinada contra estas coisas, mas confesso meu constrangimento com o fato de que, em uma semana de governo, o presidente eleito deu declarações públicas que foram desmentidas por assessores do 3º escalão e ministros de alt coturno… e a imprensa tradicional quase que mencionou apenas os fatos! Não analisou, não criticou, não questionou, não pediu esclarecimentos! Virou suas baterias para as sandices de damares e araújos, como se as estultices ditas por eles e elas fossem mais importantes que o aumento ou não de impostos, a reforma da Previdência ou a instalação de uma base ianque em território brasileiro (aliás, nem Moro quis saber onde estava o Queiróz…!)
Em quase 50 anos de estrada, de um lado (no jornal) e de outro (na assessoria de imprensa) eu aprendi que a hoje chamada grande imprensa (antes da Internet, só existia ela, regional ou nacional) era confiável até o ponto em que o interesse dos patrões podia ser afetado… Hoje, o interesse comercial dos patrões é prioritário, se sobrepõe a qualquer verdade factual! O governo bolsonarista já ameaçou cortar verbas da grande imprensa, repassando-as a blogs e sites amigos. E, infelizmente, dado o nível de analfabetismo político do brasileiro em geral, a grande imprensa não sobrevive sem as verbas governamentais.
Nos 21 anos de ditadura, a Globo se tornou o 4° poder de fato, muitas vezes mais poderosa que o 1° até… E manteve sua linha ideológica independentemente do poder constitucional: liberal nos costumes, conservadora na economia. Sarney indicou o ministro da Fazenda (Maílson da Nóbrega) só depois dele se entrevistar com Roberto Marinho… Collor se elegeu como o caçador de marajás da Globo e foi varrido do poder como o chefe de PC Farias, pela Globo, Itamar era um pão de queijo escorado no falso brilhantismo intelectual de FHC, que o substituiu e, obedecendo a cartilha global, neo liberalizou o país; e Lula foi um desvio do caminho (maldito povo brasileiro, que não sabe votar!)
Empalmado o poder pelo PT, a Globo continuou mandando. Lula nunca foi comunista ou socialista, mas sempre teve um objetivo: fazer o povão participar das riquezas do país e, em nome disto, negociou, contemporizou, compôs com todo mundo. Só que, claro, não mudou a cabeça dos poderosos, irmãos Marinho inclusos. Está preso e, provavelmente, será acusado em mais processos, ficando inelegível para todo o sempre, para que os poderosos de sempre não corram qualquer risco de ele voltar.
Há esperança de se mudar isto? Acho que não.
Infelizmente, nós vamos ter que continuar vivendo com esta realidade durante algum tempo: uma dança de cores idiota, onde o vermelho tem que ser banido, o verde-amarelo tem que ser adorado e o vermelho-azul-branco tem que ser imitado… É absolutamente ridículo! Por quanto tempo generais de verde-oliva vão sustentar isto? E isto é o mais dramático de toda esta zorra nacional: o verde-amarelo bolsonarista, depois de imensas c…..s* e inacreditáveis fake news, ser substituído pelo verde-oliva militar… Nós estaremos f…..s* e mal pagos mais uma vez…
Daí, espero que dona Damares e seu Deus me perdoem, mas prefiro Rita Lee: dondoca, princesa… é uma espécie em extinção. Felizmente. Quem sabe as mulheres reais mudarão a história do Brasil?