Não sei porque, mas eu tenho a sensação que o ano novo não será feliz. É uma sensação que vem do fundo da alma, uma sombra triste que sobrevive há mais de 50 anos. Na passagem de ano de 1964 para 1965, eu tinha 16 anos. A ditadura militar já era uma realidade na minha vida de estudante secundário, mas a gente ainda tinha esperanças que a oposição, a nossa, principalmente – os estudantes faziam manifestações constantes nas principais capitais do país – iria derrubar o regime de força… Doce ilusão!
As 20 passagens de ano seguintes não foram felizes também. Mesmo com a vida pessoal seguindo seu curso, havia sempre o travo amargo da falta de liberdade, da falta de opções políticas legítimas, da presença de um Estado violento e repressor espreitando sua vida, mostrando, nas entrelinhas, que estava de olho em você.
Quando vim trabalhar em Brasília, todas as estatais tinham um Assessor de Segurança Interna. Antes de ser formalmente contratado, fui chamado à sala do ASI, Coronel França, muito sorridente, cheio de mesuras, dando as boas vindas a um bom mineiro que vinha contribuir com sua inteligência para a grandeza da Pátria… Falou tudo isto olhando para uma ficha amarela que tinha entre as mãos. Aí se levantou, estendeu a mão e quando eu a apertei, sorriu e sibilou: ‘consta aqui na sua ficha que você foi presidente do Diretório Acadêmico da FAFICH… E é jornalista, pois não? Muito cuidado, então… Meus superiores não gostam de política numa empresa estatal, certo?’
Esta sensação esvaneceu um pouco na passagem de ano de 1985 para 1986. Havia a expectativa, quase certeza que Tancredo Neves seria eleito indiretamente para a Presidência da República no início do ano, acabando com a ditadura. Durante 34 anos então, tivemos felizes anos novos. Mais… ou menos felizes, mas felizes!
Não teremos um feliz ano novo em 2019. Do ponto de vista mundial e nacional, as perspectivas são péssimas. Espero e desejo sinceramente que, do ponto de vista pessoal, seja um ano feliz para cada um dos amigos e leitores do blog… E nada melhor para desejar isto que John Lennon: