Democracia? (III/III)

Enfim, a ‘demokratia’ inventada pelos gregos há 2.500 anos atrás, parece alcançar seu ápice no Brasil, tornando-se direta como Jair Bolsonaro enfatizou em seu discurso nesta diplomação (“As novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o eleitor e seus representantes”). Uma dúvida apenas: nesta democracia direta, fake news valem tanto quanto os votos digitados nas urnas? Porque é muito fácil, num país cuja conscientização política está próxima do zero, manipular opiniões e vontades…

A imensa maioria dos jovens brasileiros hoje, nasceu após o fim da ditadura, 1985. Grande parte destes jovens, que votou no anti petismo, que se tornou bolsonarismo, não tem qualquer ideia do que é uma ditadura militar ou uma sociedade civil com liberdades restritas. Eles acham que as redes sociais, onde eles reinam, continuarão livres e abertas a qualquer opinião ou besteira que costumam digitar… Ou seja: a democracia brasileira, retomada em 1985 e formalizada com a Constituição Cidadã de 1988, não se vacinou contra as recidivas futuras…

Enquanto Uruguai, Argentina e Chile se redimiam ante o passado ditatorial, punindo atrocidades e desrespeito aos direitos humanos, o Brasil se escondeu atrás de uma anistia fajuta, promulgada pelos ditadores, que inocentou crimes contra a humanidade como a tortura (para ficar bem claro: boa parte dos crimes da ditadura, como a tortura e o assassinato  de Rubens Paiva já foram esclarecidos, mas os torturadores e assassinos, como o Coronel  Brilhante Ustra, já falecido, continuam protegidos pela anistia e endeusados por tristes figuras como o presidente eleito).

Em 1970, aluno do 2°º ano do Curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (ufa!), eu fui eleito vice presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade. Eu era um estranho no ninho: presidente, diretores administrativo, financeiro e cultural eram da esquerda radical, o diretor de esportes era alienado e só eu era moderado. Também era  contra a ditadura, mas achava que o mais importante naquele momento era reabrir o diretório, recuperar o patrimônio que havia sido ‘confiscado’ pelos milicos e depois, reinstalado de fato como representação dos estudantes da FAFICH, transformá-lo num espaço de discussão da democracia.

Ganhei a parada interna… não porque fosse mais convincente, mas porque Idalísio, o presidente desapareceu pouco depois da eleição – entrou para a guerrilha do Araguaia – e, como presidente, tive mais força para decidir os rumos do DA. Tantos anos depois, e vendo como o fascismo age para solapar a frágil democracia que conquistamos sem uma guerra civil, apesar dos tantos jovens idealistas sacrificados, torturados, desaparecidos e mortos, sinto que a moderação não é o caminho mais correto. Mas, estou velho demais para brigar!

Moderar e compor foram verbos e atitudes usadas por Lula para governar o Brasil durante 08 anos. Moderou todas as reivindicações históricas da esquerda, implementando políticas que beneficiavam o povão de forma lenta e gradativa, para não ofender os poderosos, poderosos estes que continuaram sendo beneficiados como sempre. Compôs com a velha política de sempre, os Sarney, os Jucás, os Alves, os Neves, os Calheiros, os Magalhães…, que continuaram poderosos em seus feudos, mas apoiaram as políticas populares que ele queria implantar. Compôs com o capital: Itaú, Bradesco, financeiras e o intangível mercado ganharam tanto dinheiro quanto nos áureos tempos da privatização fendandohenriqueista. Compôs com a Globo, recusando-se a propor uma regulação da mídia, como existe em países desenvolvidos como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha ou França, dizendo que quem controla a informação televisiva é o controle do telespectador…!

Moderar e compor foram verbos e atitudes usados por Lula… F…u-se* Está preso e condenado e, se depender dos poderosos que ele beneficiou, se depender dos pobres que ascenderam à classe social, se depender dos fascistas que detêm a Justiça e o poder político hoje, vai acabar sendo condenado à ‘prisão perpétua’, simplesmente porque ousou mostrar que o país tinha condições de ser uma Nação, se desse condições ao povão de evoluir, educar-se e conscientizar-se.

O povão, por seu lado, continua inconsciente… Acreditando e esperando o salvador da pátria que vai colocar comida na mesa, garantir o emprego e dar instrução e saúde à família. O Prouni, o Fies, as escolas técnicas, o Mais Médicos não foram suficientes para conscientizá-lo politicamente. Ou, quem sabe?, eles passaram tantos séculos esperando migalhas que, quando recebem mais do que isto, acham que é fantasia?

Meu único irmão, mais velho, costuma dizer que o Brasil tem um povinho vagabundo, que adora coçar o saco e esperar que a solução de todos os problemas caia dos Céus. E que o Brasil só terá jeito depois que uma revolução sangrenta acontecer, como foi na Espanha, como foi na Rússia, como foi na China, como foi nos Estados Unidos…

Talvez ele esteja certo.  Infelizmente…!

 

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