(continuação)
Jango, graças principalmente a um cara chamado Darcy Ribeiro, que criou a UnB, tentou mudar a cara do Brasil, elevando seu patamar civilizatório em termos educacionais, culturais, sociais e econômicos (as chamadas Reformas de Base) e foi inapelavelmente derrubado pelas forças conservadoras que dominaram o Brasil desde seu descobrimento, apoiadas pelos Estados Unidos.
Daí, vieram os governos militares, a ditadura implacável com qualquer divergência, governos em que o torturador homenageado pelo Bolsonaro ou o delegado de polícia Fleury eram figuras imprescindíveis, para perseguir, prender, torturar e exilar milhares de líderes políticos e personalidades democráticas… enfim, o Brasil do “ame-o ou deixe-o (algum jovem aí percebe a similitude com um post muito difundido pelas redes hoje, o tal de “Vai pra Cuba!”?).
Aqui, há uma dicotomia inconciliável: militares são, intrinsecamente, nacionalistas… Como conciliar os interesses econômicos norte-americanos com o lema “Brasil Grande”? No início, conciliaram… tentaram reorganizar o aparelho estatal, em seus aspectos político, administrativo e jurídico, conferindo plenos e absolutos privilégios ao capital monopolista, notadamente ao das multinacionais. Buscavam isto reduzindo salários reais (os índices de reajuste eram inferiores aos da inflação), criando o FGTS, que aboliu a estabilidade dos trabalhadores nos empregos (até então, trabalhador que ficasse 10 anos numa mesma empresa só podia ser mandado embora por justa causa), liberando subsídios para exportadores e para o capital monopolista sem restrições, aprovando (no Congresso dócil) legislações liberais
para remessa de lucros e de garantia para os investimentos das empresas estrangeiras, concedendo facilidades às multinacionais para explorar as riquezas nacionais e fortalecendo os interesses dos latifundiários. Quando os militares perceberam esta dicotomia, que o modelo político adotado estava desnacionalizando o país, perderam as rédeas e a ruptura tornou-se inevitável: veio a campanha das diretas já e a abertura lenta, gradual e segura, com uma eleição indireta consentida, que colocou o PMDB no poder.
Era para entrar Tancredo Neves, um conservador tradicional, tanto que foi um governador medíocre de Minas Gerais (Tancredo, hoje, tem uma aura de santidade, o que é natural: ele ‘venceu’ a ditadura no colégio eleitoral, mas morreu antes de assumir a presidência; quer algo mais imagético, mais marcante no inconsciente do povo, que uma TV Globo, a essência da velocidade, focada durante um, dois, três minutos… em silêncio absoluto, sobre um pedreiro e sua pá cimentando um túmulo?)
Daí, entrou Sarney, um “coronel” tradicional, dono do Maranhão, o Estado com menor IDH do país.Que tipo de governo se poderia esperar? Nada além do mais do mesmo! Na economia, como a inflação estava muito alta, ele lançou vários planos, como o cruzado, em que os salários foram congelados, tendo correção apenas quando a inflação alcançava 20%, e a correção monetária foi extinta, o que reduziu bastante o processo inflacionário, suficiente para o PMDB eleger 19 de 25 prefeitos de capitais, todos os governadores de Estado, menos um, e 54% das cadeiras de deputados e 62% das do Senado. Eleição garantida, o cruzado começou a fazer água, os comerciantes passaram a esconder mercadorias e adotaram sobre-preços, o ministro da Fazenda (Funaro) lançou o Cruzado II, que não deu certo, e foi substituído por Bresser Pereira, que lançou outro plano, o Bresser, com congelamento de preços e salários por 03 meses, desativação do gatilho salarial, aumento de tributos, eliminação de subsídios e paralisação de obras de infra-estrutura. Não adiantou… Bresser caiu e o novo ministro, Mailson da Nóbrega, lançou o plano Verão, com nova moeda (cruzado novo) e mais congelamento de preços e salários. A inflação explodiu (1.764% ao ano) e o governo Sarney degringolou, dando espaço para o caçador de marajás.