A Lua de Sangue não surgiu na minha chácara, que tem uma ótima visibilidade do céu, que estava sem nuvens… como prova a foto a seguir! A coisa mais parecida com sangue, assim mesmo bem aguado, que eu vi, foi o halo do planeta Marte, conhecido como o planeta vermelho na literatura ficcional que eu sempre adorei ler.
Fiquei encucado, pois, com as muitas fotos da Lua de Sangue mostradas pela tevê, inclusive em Brasília, onde moro. Ela realmente apareceu imensa e vermelha como tevês e sites mostraram? Ou tudo é um jogo de cena, para manter crendices populares mesmo num tempo de comunicação instantânea e sem necessidade de um intermediário?
Esta foto aí de baixo, com a lua amarela com pintinhas vermelhas sobre a torre digital de Brasília não é da Lua de Sangue, mas de lua cheia normal, em um Natal qualquer…! Qual é, realmente, a importância de uma Lua de Sangue na vida das pessoas? Por que os meios de comunicação enfatizam tanto um fenômeno natural como se fosse algo fora do comum, fantástico, imperdível? E, pior…, por que esta fantasia em torno do natural impressiona tanta gente, que para tudo que está fazendo só para observar o fenômeno?
Nos tempos que hoje correm, a estupidez humana diante do desconhecido, do fenomenal, do inexplicável é, para mim, chocante. Que os índios brasileiros (ou maoris da Nova Zelândia ou zulus da África do Sul) considerassem aqueles brancos munidos de ‘paus de fogo’ como deuses que desciam à Terra para puni-los por alguma falha cometida, compreende-se, mas achar hoje que um fenômeno cientificamente comprovado como natural, é sinal de algo catastrófico ou revelador, façam-me o favor!
Durante séculos, o Catolicismo (e seus congêneres, o Islamismo, o Judaísmo, o Xintoismo, o Budismo) dominou as mentes humanas. Todas elas têm uma premissa comum: a vida na Terra é uma ‘bosta’ ou uma passagem… você tem que se preparar para a “vida pós morte”. Assim como no amor de romances, filmes e novelas, como escrevi aqui (Amor eterno), você tem que sofrer muito em vida, resignadamente, para conquistar a glória eterna após a morte do corpo (não sou prendado em religiões, mas qual “céu” vocês preferem? O Nirvana mental, sentar-se ao lado de Deus ou junto com as 72 virgens de Alá?) Aí apareceu Edir Macedo e disse que você não precisa morrer para ter direito a uma boa vida na Terra mesmo… A mesma que ele e seus pastores têm, evidentemente!
Nesta longa caminhada da humanidade, sempre à sombra das religiões, das crenças e dos mistérios, a Lua Vermelha tem um significado doloroso ou venturoso:
– os incas acreditavam que eia era um animal feroz atacando e comendo a lua. E achavam que, após comê-la, tentariam comer a Terra; por isso, gritavam, jogavam suas lanças contra a lua e atiçavam seus cães, fazendo um barulho ensurdecedor para que o animal feroz fosse embora;
– na Mesopotâmia antiga, ela significava um ataque direto dos deuses ao rei. Como eles tinham ciência suficiente para prever os eclipses, eles indicavam, antes dela acontecer, um substituto do rei, um zé ninguém qualquer para bancar o rei, enquanto o rei se escondia até o eclipse passar. Azar do substituto, que ‘desaparecia’, convenientemente, quando a lua voltava a ser branca;
– os antigos hindus ligavam a Lua de Sangue ao demônio Rahu bebendo o elixir da imortalidade; para eles, a Lua de Sangue e qualquer eclipse lunar trazia má sorte. Alimentos e água eram protegidos, e eram fundamentais os rituais de limpeza. Grávidas não podiam comer ou trabalhar em casa, para protegerem a criança ainda não nascida.
– na Bíblia, há uma passagem em Lucas, 21:25, que diz que “haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra, angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas”, predizendo que a natureza dará os primeiros sinais dos dias em que “não se deixará pedra sobre pedra”;
– ainda na Bíblia, em Apocalipse (6:12,13), a Lua de Sangue é uma das protagonistas do fim do mundo: “E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.”
Mas houve povos, também, que interpretavam o fenômeno (fisicamente natural, diz a ciência hoje) como algo benéfico ou, no mínimo, carente de uma ajuda humana:
– os indígenas californianos, por exemplo, achavam que o vermelho da lua indicava um ferimento ou doença e, após o eclipse, ela precisava ser curada através de canções que homens e mulheres cantavam ao luar;
– já alguns povos africanos consideravam a Lua Vermelha como uma guerra entre o Sol e a Lua, que devia ser resolvida por eles, com a força dos povos da Terra. E eles transferiam esta disputa para as lutas que eles tinham com outros povos, que também precisavam ser resolvidas sem guerras;
– nas culturas islâmicas, o Sol e a Lua significam respeito absoluto a Alá; por isso, durante um eclipse são cantadas preces específicas, como a Salat-al-khusuf, uma “reza para o eclipse da Lua”; ela pede perdão a Alá, e reafirma que Alá é único.
Apesar de ter saído de casa e percorrido minha chácara em busca da Lua Vermelha, eu não a vi como imaginei que a veria! Uma frustração a mais… dentro de tantas que a vida nos reserva quando a idade começa a pesar! A vontade de catar manga no pé deixa de existir, pela impossibilidade de subir na árvore ou de levantar o bambu para derrubar a manga… A vontade de sair de casa à noite, para encontrar amigos ou, simplesmente, ver pessoas, é limitada pela dependência física de outros… A necessidade de subir no telhado para trocar telhas é impraticável, pois a insegurança é absoluta… A gente brigou tanto por um país democrático, votando para melhorar o país, tirando seu povo da pobreza e da miséria, e, de repente, o país virou esta meleca, voltando ao Mapa da Fome, e os supremos juízes escondendo a Justiça debaixo das togas, mas querendo aumento! Daí, você tenta apelar para as crendices antigas, ou fantasias atuais… mas nem isto! Cadê minha Lua de Sangue?
Eu comecei a escrever num blog criado por minha filha apenas porque gostava de escrever e queria expor minhas opiniões, falar das minhas experiências e contar coisas do meu dia a dia. A frustrante visão da Lua Vermelha, por exemplo. Com a publicação do blog e a inter-relação com os leitores, eu descobri que preciso ter muito cuidado com o que escrevo, porque posso ofender quem me lê, apesar do blog estar aberto a contestações e opiniões divergentes às minhas. Só que há determinadas questões na vida que não tem como ser fingido ou comedido. E religião é uma destas questões.
Eu já escrevi aqui que sou agnóstico… sou muito racional e realista para acreditar em um Deus onisciente e onipresente que, mediante orações e fé inabalável, move montanhas ou simples problemas do dia a dia. Mas tenho muito respeito pela fé dos outros, pois acredito que o ser humano é capaz de conter e emanar forças positivas e negativas que, se não movem montanhas, são capazes de mudar os destinos desta pessoa, para o bem ou para o mal.
Amigos espíritas dizem que tais forças são espíritos bons e maus que convivem com cada um de nós, nos empurrando para cima ou nos puxando para baixo. Um deles disse para uma amiga, tempos atrás, que colocando um copinho de cachaça do lado de fora da janela durante algum tempo, os espíritos maus ficariam satisfeitos e deixariam sua família em paz… e ela acreditou! Já eu, prefiro acreditar em forças quânticas que, pelo menos, têm justificativa na física, na interação de elétrons, prótons, nêutrons e demais partículas que formam tanto o corpo humano quanto o Universo. Pelo menos, tem mais lógica.
Mas, mesmo descrendo de e brincando com certas ‘verdades’ religiosas, eu acho que a religião, todas elas, tem importância essencial para grande parte da humanidade, especialmente das pessoas mais humildes, às quais foram dadas poucas oportunidades de se instruírem com dignidade e passam a vida numa luta diária e insana para sobreviverem.
Porque, verdade seja dita, se não fossem elas, as religiões, os seres humanos não teriam controle nenhum sobre seus instintos, desejos, ambições, paixões, ódios enfim… Se a classe média hoje, educada, bem posta na vida, temente a Deus, solta seus cachorros e libera seus ressentimentos pelas redes sociais, imagine o que esta população sofrida, pisada, desprezada e explorada não seria capaz de fazer, se não tivesse a esperança da uma vida feliz depois da morte?
Nós vivemos um momento da vida brasileira em que o ódio permeia todas as relações. Quem participa das redes sociais convive diariamente com uma enxurrada de xingamentos e destampatórios, acusações sem qualquer sentido e ofensas com o único sentido de enlamear ou denegrir o caráter de uma pessoa, apenas porque ela pensa diferente de quem posta. De um lado e de outro do espectro político. Nós, brasileiros, já fomos mais civilizados…
Mas, como pedir um pouco mais de civilidade ou respeito às pessoas comuns se suas lideranças, respaldadas e amplificadas pela grande imprensa (Globo e Veja à frente) transformaram a divergência de ideias e de posições políticas em uma guerra santa? Que derrubou um governo legítimo, eleito por 54 milhões de brasileiros, e colocou, em seu lugar, uma quadrilha que está levando o país de volta ao subdesenvolvimento absoluto?
As eleições estão aí de volta. Os ânimos já acirrados por 04 anos de instintos liberados e por 02 anos de desgoverno, já extrapolaram as redes sociais: em 2017, o Brasil foi campeão em número absoluto de homicídios no mundo, com mais de 60 mil assassinatos, provocados diretamente pela “desigualdade, o desemprego — especialmente entre os jovens — a baixa escolaridade, a urbanização rápida e irregular, drogas ilícitas e armas…” , conforme constatou o Instituto Igarapé, uma ONG do Rio de Janeiro.
Acho que já passou da hora das religiões voltarem a atuar como freios de instintos, desejos, paixões e ódios de suas ovelhas, deixando de lado suas próprias ambições de empalmar o poder terreno através de representantes que pregam a predominância de sua crença ou a superioridade de seus princípios ou, simplesmente, a eliminação dos desprovidos de Deus. Quem sabe nesta hora, ouvir Francisco seria bem mais útil: “Que o ódio deixe lugar ao amor, a mentira à verdade, a vingança ao perdão, e a tristeza à alegria…” Grande Francisco! Quanto tempo sua própria Igreja irá aguentá-lo?