– Alô!
– Olá! Como vai meu escritor preferido?
– Oi, Dezinha… Você quer dizer blogueiro preferido, né? Porque escritor ainda vai demorar um bom tempo… se conseguir chegar lá!
– Vai chegar sim, principalmente se for morar numa praia baiana, bem longe deste grande p……o* que é Brasília…
– Por falar nisto, ‘cumé’ que você descobriu meu celular? Ah! Claro! Foi o doutor que te passou…
– Acho que ele está preocupado com o interesse da Zú por você… E está tentando me botar de aparadouro. Algum problema?
– Não, nenhum… Mas, além de me cantar, você quer me dizer alguma coisa?
– Lula foi preso, afinal… E daí? Que tal aparecer por aqui para um papo? Com segundas intenções…
Infelizmente, eu estou com problemas sérios de visão. O olho esquerdo, por causa de um descolamento de retina, está praticamente morto e o olho direito, que sofre de um problema hereditário, está caminhando para isto… acabou de sofrer um derrame que limitou ainda mais minha mobilidade. Ou seja: dirigir um carro está impossível neste momento, mesmo na área rural em que vivo, com pouco trânsito e nenhuma fiscalização rodoviária.
Daí, liguei para meu amigo doutor e, desta vez, convidei-o para me acompanhar ao suingue clube. Sem demonstrar, mas intimamente satisfeito, tenho certeza – se fosse para encontrar a Zú, eu não o chamaria – ele topou.
Fomos na tarde seguinte. Até que tinha bastante gente, considerando minha última visita: havia uns oito casais em volta da piscina, o tradicional grupo de velhotes cercado pelas ‘meninas’ do clube e alguns garçons circulando pelo ambiente. O som meio abafado de um bolero indicava que mais velhotes deviam estar na boate. Dezinha foi bem expansiva ao me ver na recepção, como se estivesse me esperando. Certamente, meu amigo a tinha avisado, tanto que nem deu tchau… foi atrás de Zú, que devia estar esperando-o.
– Infelizmente, eu tenho uma regra na casa: nunca “fico” com alguém em público… perderia o respeito! Só por isto não te convido para uma dança na boate… Mas, seu uísque e uma aluna atenta podem te alegrar a tarde. Depois, quem sabe?
– Desculpe-me, Dezinha, eu gosto de conversar com você… me inspira textos do blog. Mais do que isto, na verdade: me dá a sensação de que ainda estou vivo, que ainda tenho alguma perspectiva à frente… Minha vida, comparada com a sua, sempre foi um mar de rosas, mas eu não me sinto, neste momento, na zona de conforto em que eu sempre consegui viver. Eu tenho várias decisões a tomar para o meu futuro, mas não posso toma-las agora, pelas contingências da vida. Então, vamos combinar o seguinte: você está apenas interessada em me levar para sua casa de paria com você, ou quer, realmente, conversar com alguém sobre a situação do país, e as consequências diretas sobre você?
– Cara, você é muito complicado…! Mas, tudo bem… Vamos conversar um pouco lá em cima. Pelo menos, você ainda não reclamou do meu uísque!
Eu já disse aqui, em outros textos, que conheci muitas madames de p……s* Brasil adentro. Dezinha, porém, extrapolava o padrão. Apesar dos mais de 50 anos e da vida difícil (mulher de vida fácil como a sociedade costuma dizer das p…s* é auto defesa) ou, talvez por causa disto, ela mantém uma alegria de viver cada momento como se fosse único. Mesmo com a minha ‘grosseria’, demonstrando meu claro desinteresse pelas ‘qualidades profissionais’ dela, não se ofendeu e fez questão de subir à frente – é uma escada em caracol – balançando a saia e mostrando o belo para de pernas e a calcinha vermelha…
Na varanda, recostado numa cadeira de praia, ouvindo uma música sugestiva ao fundo (meus respeitos a uma verdadeira profissional que sabe o que quer) e saboreando um Dimple 15 anos, fiquei esperando o “ataque”. Que não veio…
Dezinha encostou-se no parapeito da varanda e, olhando para o espaço a frente, falou naturalmente:
– Confesso que vou sentir falta disto… Das meninas, com seus sonhos de príncipes encantados, dos velhotes querendo sugar com desespero o resto de vida que têm, dos casais que foram apaixonados em algum tempo no passado e tentam encontrar motivos para se apaixonarem de novo. Me impressiona ver casais com menos de 30 anos chegando aqui, provavelmente com filhos ainda pequenos e já desiludidos com a vida em comum, e me alegro em pensar que consegui ajudar alguns a se reencontrarem, apenas conversando, contando minha história, meu estudante filhinho de mamãe… Pode parecer estranho eu dizer isto, mas sexo não é tudo na vida… Aliás, você acredita no amor? (continua)