Eu estou pensando seriamente em ir morar no sertão… Ou numa ilha deserta no meio do Oceano Atlântico (o sertão eu sei que continua existindo, mas haverá alguma ilha deserta no meio do Oceano Atlântico? Ou do Pacífico? Aliás, haverá alguma ilha desabitada disponível neste mundão de meus deuses? Acho difícil…) Por isto, a opção é ir para o sertão mesmo. Quem sabe no Raso da Catarina, onde Antônio Conselheiro construiu Canudos e, “com fé, que não costuma faiá”, enfrentou o Império? Lá o sertão ainda não virou mar, a televisão chega ‘faiando’ e a internet ainda é coisa do cramunhão…
É meio que contraditório eu não querer morar em um lugar que não tenha internet… mas, confesso, alguém que viveu de comunicação a vida inteira, que construiu duas famílias (com ativa participação das mulheres, claro!) sobrevivendo da comunicação, não aguenta mais a comunicação que é feita hoje em dia… Aposentado, divorciado, com as filhas criadas, minha única atividade produtiva hoje é este blog (dou meus pitacos na gestão da associação de produtores da região em que moro, mas isto é diletantismo, hobby, uma forma de transferir um conhecimento, sem interesse comercial, de quase 50 anos de vida profissional… e como não é comercial, não tenho que me sujeitar a críticas amadoras! Tipo: se não gostaram, não façam! Sempre fazem…)
Mas, por quê, de repente, me veio esta vontade súbita de me afastar do mundo? Acho que as muitas mensagens me desejando um feliz ano novo – as mensagens, agora, são incontáveis, inumeráveis, surgem aos borbotões no celular… se a gente participa de grupos no whats’app, cada participante se acha no dever de desejar feliz ano novo aos demais membros do grupo… Com toda a sinceridade, haja saco!
Acho, também, que a situação que o país vive hoje é trágica… E não vão ser os desejos de um feliz ano novo, de um ano novo pleno de realizações, de um 2018 que traga dinheiro, saúde e felicidade… que vão, por um milagre de Deus, fazer isto acontecer. Se o brasileiro não levantar a bunda da cadeira de espaldar ou do sofá ou do banquinho de madeira e começar a exigir mudanças sérias, o ano novo será ainda pior que o ano velho, que já foi pior que o outro ano velho…! (e não adianta a grande imprensa fantasiar os números divulgados pelo governo: meu salário de aposentado, como diria Millôr, está cada vez menor que o mês!).
Mas, como eu mesmo disse em outro texto (Noites de Natal), tradição é tradição. E, conduzido pela mídia, os brasileiros celebram o novo ano. E acompanham as disputas idiotas: os 02 milhões de pessoas que vão para a Avenida Paulista, em São Paulo ou os 02 milhões e uma pessoa que vão para a praia de Copacabana, no Rio! Os 12 minutos de fogos na praia da Boa Viagem, no Recife, ou os 13 minutos de fogos na praia de Iracema, em Fortaleza! Os trios elétricos de Salvador ou os blocos que fazem prévias carnavalescas no Rio de Janeiro! Como eu disse, com todo respeito, haja saco!
Será que no Raso da Catarina, sem TV, sem Internet, sentado na porta de um casebre a prosear com a vizinha do lado, o feliz ano novo que ela me desejasse não seria muito mais honesto que as tantas e tantas mensagens, vídeozinhos, pensamentos e frases feitas que aparecem no meu celular neste período?
Para falar a verdade, não sei. Desde os seis anos que moro em cidades grandes, onde os vizinhos não passam disto, vizinhos, com uma ou outra exceção. É verdade que meu temperamento arredio não ajuda a transformar vizinhos em amigos, mas minhas ex esposas e filhas sempre foram afáveis e receptivas, abertas a novas amizades e confraternizações. Minhas casas sempre estiveram abertas a amigos e parentes, inclusive para morar uns tempos.
Acho que estou sendo muito pessimista, enfim. O mundo moderno, de comunicação instantânea, avassaladoramente tecnológico, está criando um novo ser humano. Você entra num restaurante e percebe em oito, dez mesas, que as pessoas não conversam mais, elas usam seus celulares… Você se reúne com amigos para um bate-papo seguido de um jantar e ambos são preteridos por uma novela… Você gostaria de mandar uma mensagem de ano novo escrita por você, carregada do sentimento de amizade ou amor que você tem pelo destinatário, mas é muito mais rápido e fácil repassar um vídeo musicado desejando feliz ano novo…!
Acho que estou ficando velho, enfim! E um ano novo deixou de ser um novo ano para ser, apenas, a continuação do ano que passou, arrastado, sem perspectivas, sem objetivos maiores, sem muita esperança. A vida como ela é, enfim…!
Eitcha que tá ranzinza!
Tenho alguns anos a menos (uns 15, acredito) de idade e já tenho manifestado repulsa a essas tradições de final de ano, há um bom tempo. Meu sonho era poder pular o tempo de 20 de dezembro para 5 de janeiro. Eu não veria meu aniversário, natal nem ano novo. Ranzinzaço!!
De qualquer modo, Geraldo, há um lado bom nestas festas de fim de ano: geralmente, você reencontra a família, revê amigos e esquece, por algumas horas, mágoas passadas. Obrigado por ler o blog e comentar. Que o velho ano novo consiga superar nossa ranzinzice e traga esperanças pelo menos. Abç, Leo