Minha mãe, no esplendor de seus 98 anos de vida bem vivida, detesta estrangeirismos. Eu já mencionei isto aqui (Fake News), citando, aliás, o mesmo personagem, João Dória, prefeito de São Paulo, de quem vou falar neste texto. Assistindo televisão e vendo aquelas propagandas anunciando o Black Friday ou vendendo geladeira Frost Free, Smart TV com Full HD, smartphone prime dourado, ela não se conforma com as expressões ianques usadas para impressionar os clientes, “que só podem ser idiotas”, diz…
Recentemente, ao trocar de celular, repassei o meu anterior para ela e, mesmo sabendo que ela só o usaria para telefonar ou receber ligações, caí na besteira de mostrar as muitas funções e as dezenas de aplicativos disponíveis, novidades com que ela, na hora que se cansasse de ler ou ver TV, podia xeretar e usar e, quem sabe?, achar algo que a interessasse como um bom passatempo.
Para quê? No momento que eu abri o celular, apareceu: Facebook, Waze, Google, Whats’App, Skype e… ufa! BB e Fotos…! E ela, empurrando a minha mão, para não me tomar o celular e jogá-lo longe: “Pode parar! Se quiser deixar o celular aí, pode deixar, mas só vou usar para ligar e atender, está bem? Não tenho mais idade para aprender inglês…”
Estou lembrando isto porque há poucos dias, lendo uma reportagem na Folha de São Paulo, sobre uma reunião entre o empresário e comunicador Silvio Santos e o teatrólogo José Celso Martinez, convocada pelo prefeito de São Paulo para tentar acertar uma pinimba entre eles em torno de um terreno ao lado do Teatro Oficina, tive a mesma vontade de minha mãe: pegar o prefeito de jeito e jogá-lo longe!
Depois de trabalhar mais de 40 anos com comunicação, em rádio, jornal, TV, agência de publicidade e assessoria de imprensa, eu não confio inteiramente em qualquer noticia veiculada na grande imprensa. De um bom tempo para cá, sempre existe um interesse oculto por trás de uma notícia envolvendo política ou economia. E uma notícia a respeito do auto lançado pré-candidato à Presidência da República João Dória, é um prato cheio de interesses ocultos, que podem render bons frutos já ou daqui a algum tempo.
Por isso, não sei se o repórter que acompanhou a reunião e transcreveu-a na coluna da Mônica Bérgamo (ou foi a própria?), teve uma intenção clara de fazer uma gozação com Sua Excelência ou, simplesmente, como seria de se esperar de um bom repórter, apenas retratou a reunião como ela se deu realmente. O fato é que, tenho certeza, qualquer brasileiro que sinta orgulho disto, de ser brasileiro, fica com a mesma vontade que tive: chutar a bunda do prefeito e manda-lo ir viver na Flórida…
Olhem só, observando que os textos grifados e negritados são do próprio jornal: o prefeito apresentou uma solução para a pinimba, na qual “parte do terreno seria destinada ao Oficina (enquanto) a outra, a um empreendimento de Silvio Santos que tivesse um componente cultural, como os que existem ‘na América’ “. O grupo debate a proposta e o prefeito, enfático, diz: “um empreendimento hoteleiro de Silvio Santos, por exemplo, poderia, com a venda de unidades, viabilizar um ‘funding’ (financiamento), além de uma área de ‘retail’ (varejo) em um pequeno ‘mall’. Zé Celso pergunta: “O que é um ‘mall’?” Doria explica: “É um shopping menor”. O fato de ter o Oficina em seu ‘backyard’ (quintal), completa o prefeito, criaria um ‘asset’ (ativo) para os investidores.”
Com a reação negativa de Zé Celso (“teatro dentro de um shopping é gaveta!”), João Dória encerra a reunião, sugerindo novo meeting (ele não falou isto, mas deve ter pensado) “para que as duas partes discutam o ‘draft’ (esboço) da sua proposta. E diz ter o ‘feeling’ (intuição) que sua proposta ‘fica de pé’ (stand, digo eu)”.
Relendo agora a matéria da coluna, pensei em Porto Rico. Não sei porque, exatamente. Talvez porque tenha lido, na mesma semana, sobre a visita que o presidente Trump fez à ilha, após a passagem do furacão Maria, que destruiu boa parte de Porto Rico e matou 19 pessoas (“only 16 persons”, segundo Trump). Para quem não sabe, este arquipélago caribenho é território não incorporado dos Estados Unidos, ou seja, ele pertence aos ianques, mas seus cidadãos são meio-cidadãos, pois não têm os mesmos direitos dos americanos (eles não votaram no Trump, por exemplo, ou em qualquer outro presidente).
Puerto Rico foi colônia espanhola até 1899, quando foi invadido, durante a guerra hispano-americana, pelos Estados Unidos que, ganhando a guerra, ficaram donos do arquipélago. Ele tem, atualmente, menos de 04 milhões de habitantes vivendo no território, enquanto mais de 04 milhões de pessoas de origem porto-riquenha moram nos Estados Unidos. Tanto que lá há duas línguas oficiais: o espanhol e o inglês.
Fiquei imaginando, então, uma possível eleição do “prefake” de São Paulo à presidência do Brasil. Com suas “avançadíssimas” ideias de gestão da coisa pública, devidamente assessorada pelas coisas privadas (privatização de parques, museus, praças, aumento da velocidade dos veículos nas marginais, pintura dos muros de cinza para tampar pichações, ‘doação’ de empresas para a prefeitura, gestão pelas redes sociais, ‘fechamento’ da Cracolândia, distribuição da farinata para os pobres e na merenda das escolas públicas…), usando a linguagem empreendedora e os meios internéticos de Trump e a língua portuguesa enriquecida por palavras e expressões pinçadas do mais puro dicionário liberal, quem sabe ele não nos levaria ao mesmo patamar alcançado por Puerto Rico junto ao Grande Irmão do Norte?
Vocês podem imaginar? Brasil, território não incorporado aos Estados Unidos, com duas línguas oficiais, português e inglês, e mais da metade de sua população vivendo na Flórida? Ou em New York?
Se acontecer, já sei o meu destino: “Garota eu vou pra Califórnia/Viver a vida sobre as ondas/Vou ser artista de cinema/O meu destino é ser star…
“