Panis et circenses (II)

Vibrando com a temporada circense, os patrocinadores do espetáculo se regalam:

– Jonas Lopes de Carvalho, conselheiro e ex-presidente do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, preso que virou delator na Operação Descontrole, filhote da Lava Jato (qualquer operação policial/procuratória/midiática hoje, é filhote da Lava Jato, mesmo que nada tenha a ver com a Petrobras, o que, aliás, nem a Lava

Jato teve de início) e que confessou o recebimento de propinas vendendo sentenças na Corte, foi aposentado pelo TCE-RJ com o benefício mensal de 30,4 mil reais ou 30 salários mínimos…;

– emérito parlamentar, aplaudido pela mídia por sua postura democrática, enfiou uma emenda “jabuti” numa Medida Provisória encaminhada pelo Executivo para beneficiar os camarotes, que aumentaria o alcance do mais novo Refis – refinanciamento das dívidas empresariais com o Fisco brasileiro – abrindo a possibilidade para que corruptos pegos com a boca na botija, tivessem descontos ao devolver dinheiro desviado dos cofres públicos (de vez em quando, funciona: a gritaria contra dos blogs sujos e da sociedade foi tanta, que o Globo também protestou e o relator da matéria na Câmara retirou a emenda, dando uma desculpa qualquer);

–  um assessor jurídico do Palácio do Planalto, homem de confiança do Michel, e que comandou, em nome do Planalto, as negociações com o Ministério da Fazenda, para suavizar esta mesma MP do  Refis, aderiu ao parcelamento das dívidas. Assim como o deputado Newton Cardoso Júnior, do PMDB/MG, coincidentemente o relator da Medida Provisória na Câmara dos Deputados; ou seja: usar postos públicos e posições políticas para beneficiar-se virou o novo normal do país, não é mesmo?

– usando seu Twitter, onde é tão atuante quanto Trump, Diego Escosteguy, editor da Época, digitou que a entrevista de Eduardo Cunha, uma das últimas capas da revista global, “não foi concedida na Papuda nem em qualquer local do sistema prisional”; ora, o herói do impeachment está preso em Curitiba, condenado a 15 anos de prisão, temporariamente “hospedado” em Brasília, para prestar depoimentos em alguns processos naquela jurisdição e, segundo informou a Procuradoria Geral da República, preso em Delegacia Especializada da Polícia Civil desde 15/09 último. A DPE/PC possui cadeia e não permite que seus prisioneiros concedam entrevistas… Mas, em se tratando da Globo, a cadeia deve ter se transformado numa sala de visitas, ora se não… por isso, o jactante “bastidor” do Diego! (que, aliás, não mereceu nota de repúdio de nenhuma instituição federal, como no caso do suicidado reitor da Universidade Federal de Santa Catarina);

– aproveitando a confusão no Congresso, que não conseguia aprovar uma forma de financiar as eleições dos políticos, desde que o STF proibiu a participação de empresas privadas, um empresário privado encontrou um “jeitinho” bem brasileiro de isto continuar acontecendo, “dando um drible” na legislação: anunciou a criação de um fundo para “bancar” a formação de candidatos às eleições de 2018, prevendo a distribuição de bolsas mensais de R$5.000,00 para os escolhidos. O fundo tem até sigla (outra especialidade pátria): Renova/BR (Fundo Cívico para a Renovação Política) e é uma iniciativa do executivo Eduardo Mufarej, que diz ter apoio de figuras expressivas do estrelato brasileiro, como Luciano Huck, Armínio Fraga, Nizan Guanaes, Abílio Diniz e Bernardinho; vão contar até com a musa da moderna balzaquiana, Maitê Proença, que, conforme coluna do Estadão, colocou-se à disposição para dar aulas de comunicação aos “escolhidos”;

Crédito: Vicente de Paulo

– a Polícia Federal no Espírito Santo foi surpreendida em outra operação semelhante a do ainda “nebuloso” caso da apreensão de um helicóptero, pertencente ao senador mineiro Zezé Perrela, carregado com 445 kg de  pasta base de cocaína, caso este que, quase 04 anos depois, foi definitivamente enterrado pela grande imprensa e caminha, a passos de cágado, pelas malhas da Justiça – mesmo acusando apenas dois pilotos, um micro empresário e um jardineiro presos quando ajudavam a descarregar o helicóptero.

Desta vez, os quase 500 kg de pasta base de cocaína estavam alojados em blocos de mármore, exportados por uma Marmoraria de Cachoeiro do Itapemirim. Além da quantidade, outra coincidência: Ézio Rodrigues, o “não comprovado” dono da fazenda onde o helicóptero foi apreendido, declarou, à época, que sua renda era proveniente de uma empresa de granito (a PF achou drogas escondidas também em granito) em Cachoeiro do Itapemirim, e da intermediação na venda de jogadores de futebol (uma das atividades empreendidas pelos Perrela na época que mandavam no Cruzeiro Esporte Clube), mas ele foi excluído do processo do helicóptero, por “falta de provas”, bem como os Perrela (pai e filho), rápida e inexoravelmente inocentados de qualquer relação direta com o tráfico, pelo próprio inquérito policial. Por isso, Perrela, o pai, continua firme e forte no Senado da República, defendendo, com unhas e dentes, seu cheiroso amigo Aecinho…

O espetáculo é interrompido, pois falou-se em drogas… e um batalhão de choque invade a geral e começa a prender pretos, pardos e pobres (o circo é familiar e não há nenhuma p…* em atividade!) para supremo gozo de camarotes e arquibancadas, que aplaudem, berram, batem panelas e caçarolas e dão vivas ao Brasil…!

Terminada a limpeza da geral, o mestre de cerimônia, de fraque e cartola, adentra o picadeiro para anunciar solenemente: “As regras para as eleições gerais de 2018 foram sancionadas pelo presidente: não haverá qualquer limite para os gastos de campanha feitos com recursos próprios do candidato…” Ou seja: grandes empresários, milionários e salafrários em geral podem gastar a vontade para se tornarem impolutos membros das casas legislativas brasileiras! Assim, teremos espetáculos por muitos anos ainda…!

Os camarotes vêm abaixo, aplaudindo freneticamente, pulando sobre as poltronas e berrando em uníssono: “Nossos milhões valerão/Pra frente Brasil, no meu coração/Todos juntos, vamos pra frente Brasil/Salve a eleição!!!”

 

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