Brasil, meu Brasil brasileiro, meu imenso puteiro... és único n’universo...! No Brasil, rouba que dá, Manuseia, te faz ganhar O Brasil do meu pavor: Temer, Moro e procurador! (apud Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, mineiro e flamenguista)
Eu já escrevi isto aqui: meu pai era médico e, durante algum tempo, foi sanitarista. Agora, completo: formado pela Escola de Medicina em Belo Horizonte aos 24 anos, voltou para sua terra natal, uma pequena cidade do sul de Minas onde montou consultório na própria casa, mas atendia mais como único médico do hospital local. Solteiro e sem compromissos além dos profissionais, durante alguns anos tocou a vida como qualquer jovem bem sucedido (independentemente de ser filho de um dos próceres políticos da cidade, o que significava respeito e status, meu pai era um bom médico, dedicado e respeitado, que atendia a todos com a mesma atenção, independentemente do status ou da situação financeira).
Aos 32 anos, já noivo, foi convidado para fazer um curso em Belo Horizonte sobre hanseníase (lepra). Feito o curso e passando nos testes em segundo lugar, foi contratado pelo Ministério da Saúde, podendo escolher uma colônia de lepra de São Paulo para ir trabalhar (naquela época, 1942, leprosos não podiam conviver em sociedade e tinham que ser recolhidos em colônias afastadas das cidades, mantidas pelo governo). Ele recusou São Paulo, a locomotiva do Brasil, e optou por Parnaíba, no longínquo e miserável Piauí…
Mas, defrontou-se com um problema: havia uma noiva na cidade natal e teria que se mudar para Parnaíba em duas semanas! Ou seja: chegou para minha mãe e disse que eles tinham que se casar imediatamente e viajar para o fim do mundo… Minha mãe topou na hora, para desespero de minha avó e desconfiança geral da cidade (casando às pressas, heim? Aí tem coisa!!!)
Casaram, viajaram de fordeco para o Rio e pegaram um navio (um Ita pro Norte?) com destino à Fortaleza, no Ceará. Eram tempos de guerra, havia ameaça de submarinos alemães nas costas brasileiras e tinham que viajar no escuro, nem cigarro podia ser aceso no tombadilho. De Fortaleza a Parnaíba pegaram carona num jipão carregado de latões de gasolina (não havia postos).
Lá ficaram por dois anos. Meu irmão mais velho nasceu lá. Daí, meu pai foi transferido para Manaus. Depois, Goiás, onde quase nasci. Umas três semanas antes, foi transferido para Bambuí, nas Minas Gerais, onde nasci, na colônia mesmo e pelas mãos de meu pai, pois não dava tempo de chegar na cidade.
Cumprido o contrato de dois anos em Bambuí, meu pai aceitou o convite para ser médico de outra pequena cidade, desta vez no sul de São Paulo, mas não ficou muito tempo. JK fora eleito governador de Minas e o PSD voltara a mandar: apesar de apolítico, meu pai foi indicado para dirigir o hospital da cidade natal… e voltou!
Como no início da vida profissional, o consultório ficava em casa, quase sempre fechado porque, agora, havia duas crianças querendo fuçar por lá e porque ele passava a maior parte do tempo no hospital e atendendo gente pelas cercanias. Mas, não fixou raízes, apesar de ser filho da terra. Mesmo apolítico, era alvo da política. Meu avô era do PSD e o inimigo político dele, da UDN, envolvia todos numa guerra suja, repercutida nacionalmente por Carlos Lacerda. Depois que minha mãe, num domingo, estapeou o chefe político da UDN em plena praça principal da cidade, à saída da missa, não houve mais clima para permanecer na cidade.
E nos mudamos para Belo Horizonte, onde ele continuou como médico do Estado, inclusive atendendo em colônias de lepra, em lugares próximos, e com consultório próprio, não mais em casa porque, primeiro moramos num hotel e, depois, no apartamento que comprara ainda em construção. Lá cresci, me formei, casei e tive minhas duas primeiras filhas. E meus pais construíram suas (nossas) vidas.
Ao morrer, aos 85 anos, depois de 60 anos de medicina, deixou um patrimônio composto por um apartamento (o mesmo), três salas e uma garagem em Belo Horizonte, uma casa em Brasília, e um terreno que nem entrou no inventário, já que a gente nunca descobriu onde ficava, pois deve ter sido ocupado por uma das cidades satélites criadas pelos governos Roriz. Além de aposentadorias vitalícias em valores suficientes para a sobrevivência de minha mãe até sua morte. E uma poupança razoável, arduamente recuperada após o sequestro feito pelo governo Collor.
Ou seja, após 60 anos de vida ativa como médico, uma das profissões “nobres” do Brasil, e num período em que ser médico, engenheiro ou advogado era sinal de status e riqueza, meu pai construiu um patrimônio que, corrigido a números de hoje (ele morreu em 1995), seria um pouco superior ao patrimônio de um tal Luis Inácio Lula da Silva, conforme divulgado pelo ínclito juiz Sérgio Moro em sua decisão de bloquear tal patrimônio, em sequência à sua própria decisão de condená-lo à 09 anos e alguns meses de prisão, acatando o dalanhesco power point da Lava Jato.
Estou pasmo até hoje: depois de 03 anos de minuciosa investigação por policiais federais e procuradores da República de altíssimo gabarito, “a maior operação contra a corrupção do mundo” descobriu que um retirante nordestino que se tornou metalúrgico e foi presidente da República por 08 anos e um dos palestrantes mais requisitados do mundo após deixar a Presidência – além de ser também, segundo depreende-se da sentença do preclaro juiz, o chefão da quadrilha da Petrobras – conseguiu amealhar “a incomensurável fortuna” de 600 mil reais em bens imóveis e de R$9 milhões em poupança/reserva técnica para aposentadoria…!
Aí, a gente folheia os jornais e fica sabendo do patrimônio declarado de membros desta quadrilha “comandada pelo Lula” que se tornaram delatores:
– o patrimônio do sr. Sérgio Machado, ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato, cresceu 2.839,4% entre 2002 e 2016. Saltou de R$ 3.245.176,49 (valores atualizados pelo Banco Central) para R$ 92 milhões, sem falar nos planos para aposentadoria, que não foram divulgados, talvez porque ele não era o chefe da quadrilha…! Como ele foi delator da Lava Jato, usa tornozeleira eletrônica e está em prisão domiciliar em sua própria mansão, no Bairro das Dunas, o bairro residencial dos milionários em Fortaleza;
– o patrimônio de Geddel Vieira Lima, ex-ministro e ex-inimigo figadal dos Magalhães baianos, inclui 12 fazendas de gado em sete municípios do sudoeste da Bahia + apartamento de R$ 1/1,5 milhão no centro de Itapetinga/BA + apartamento de alto padrão, dois carros de luxo, casa na beira da praia e restaurante em Salvador, sem falar nos planos para aposentadoria, que não foram divulgados, talvez porque ele não era o chefe da quadrilha…! Ainda não se tornou delator da Lava Jato, mas está em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, em seu apartamento de alto luxo em Salvador;
– “o patrimônio do engenheiro Zwi Skornicki, preso preventivamente durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, aumentou 35 vezes em 10 anos. Segundo informações obtidas pelo Jornal Nacional, seu patrimônio declarado passou de R$ 1,8 milhão para R$ 63 milhões. Na primeira vez em que a operação levou a Polícia Federal à casa de Zwi Skornicki, em 5 de fevereiro de 2015, os agentes recolheram na garagem subterrânea cinco carros importados e valiosos. Nesta segunda, em outros endereços do suspeito de ser operador de propinas da Petrobras, foram apreendidos pelo menos mais dez.” (globo.com); O acordo de colaboração premiada de Zwi estabelece a condenação à pena unificada máxima de 15 anos de reclusão. O cumprimento, segundo o acordo, será de 173 dias em regime fechado, descontado o tempo que o lobista ficou preso na Lava Jato, seis meses em custódia fechada domiciliar com tornozeleira eletrônica, um ano em regime aberto domiciliar ‘com obrigação de permanecer recolhido nos dias úteis no período noturno, das 21h às 6h, em finais de semana e feriado, e 3 anos e 6 meses de pena restritiva de direito, com prestação de serviços à comunidade;
– “Patrimônio de novo delator cresce 97 vezes em 10 anos – É o que afirma a Receita, em laudo da Polícia Federal; de acordo com o documento, o empresário Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, novo delator da Operação Lava Jato tinha R$ 517 mil em 2003, valor que saltou para R$ 50 milhões em 2013; Barbosa é sócio do operador da SBM Julio Faerman, outro delator, na empresa Oildrive Consultoria em Energia e Petróleo e ex-funcionário da Asea Brown Boveri (ABB); os dois eram chamados pelo ex-diretor da Petrobras Pedro Barusco de ‘Robin e Batman’, respectivamente, por andarem sempre juntos.” (brasil247); não há notícias recentes sobre o destino de Luis Eduardo Campos Barbosa que, com o acordo de delação, devolveu parte do patrimônio roubado e, por isto, não foi preso… (eu disse parte…);
– o patrimônio do ex-senador e delator da Lava Jato Delcídio Amaral, de acordo com a Receita Federal, abrangia em 2014, três carros no valor de R$216.294,46 + propriedade rural em Corumbá/MT + apartamento em Florianópolis e contas bancárias totalizando R$42.462,34 (Infomoney); as últimas notícias dele na mídia são de janeiro deste ano, visto flanando de iate e frequentando o hight society de Jurerê Internacional, sem mostrar a tornozeleira, que deve ficar escondida pela meia branca usada nos passeios ou pela botinha meio cano usada nos encontros sociais.
Só para comparar, o patrimônio do não julgável ainda presidente Michel Temer inclui uma casa de 415 m² em São Paulo, valendo 3,7 milhões + lojas num edifício do Itaim Bibi, no valor de R$1,03 milhão (que ele transferiu pro Michelzinho, o filho de 08 anos) que, corrigidos a 2017, valeriam R$11,3 milhões, sem falar nos planos para aposentadoria, que não foram divulgados, talvez porque, conforme decisão de 263 excelências que exercem a deputança, ainda empalma o poder consentido no Brasil, tanto que continuará morando no Palácio do Jaburu em Brasília e “governando” o país.
Frente à tanta opulência e na qualidade de trabalhador aposentado de uma estatal, que teve sua primeira carteira assinada aos 17 anos, e atual blogueiro/chacareiro, e conferindo meu patrimônio composto por uma chácara (onde moro) com patos e galinhas, árvores do cerrado e frutíferas, um lote abandonado numa praia, uma poupança/reserva técnica garantidora da aposentadoria e um carro 1.0, fico me perguntando: onde foi que dona Lidu, mãe de Lula, e dr. Sebastião, meu pai, erraram?