Risível, mas eficiente, a manipulação globista da palavra golpe. Partindo de uma premissa falsa – que o governo e seus apoiadores estão chamando um recurso constitucional, o impeachment, de golpe, quando eles afirmam que golpe é o uso do impeachment sem motivos previstos na Constituição – as Organizações Globo – jornal, TV, rádio, site, repetidoras, associadas e tudo o mais que forma o maior monopólio de mídia do mundo – repetem ad nauseam que “Não vai ter golpe”, como diz o porta voz oficial dos donos, Merval Pereira. A argumentação é exuberante, não admitindo contestações:
“O impeachment é a saída constitucional mais eficaz e rápida para resolver um problema institucional sério. Não há mais dúvida de que existem motivos de sobra para o impedimento da presidente, falando-se apenas de crimes de responsabilidade. Além das pedaladas, há no pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) dois outros crimes de responsabilidade cometidos pela presidente: as tentativas de obstruir a Justiça com a nomeação de Lula para seu ministério, em vias de ser reconhecida pelo STF, e a pressão sobre um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), relatada pelo senador Delcídio do Amaral em sua delação premiada, para soltar empreiteiros presos na Operação Lava-Jato.”
Como assim? Não há contestações evidentes? Até eu, pobre mortal aposentado, tenho inúmeras interrogações, tais como: 1. Qual é o problema institucional sério? Um governo fraco enfrentando uma crise econômica séria é um problema, mas institucional? 2. Não há dúvidas sobre a existência de motivos reais para aplicação do impeachment? Pedaladas fiscais, um expediente usado por todos os últimos presidentes e por dezenas de governadores, e nunca contestadas judicialmente? Nomeação de ministro, uma prerrogativa presidencial, como obstrução da Justiça? Diz-que-me-diz-que de um senador que tinha sido preso exatamente por arrotar um poder, que não tinha, sobre ministros do STJ?
Completando a manipulação, O Globo, carro chefe das Organizações na imprensa escrita, publica editorial mais direto e contundente: “A farsa do golpe construída pelo lulopetismo”, indicando que golpe só existe na imaginação dos apoiadores do governo, vez que não há qualquer ilegalidade no afastamento da Presidenta Dilma pela Justiça:
Acreditar no conto da carochinha do “golpe” é aceitar como verdadeiro o conluio do Supremo numa operação para defenestrar ilegalmente Dilma do Planalto. Só numa alucinação. Vários ministros da Corte já negaram esta idéia tresloucada: seu presidente, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Luís Roberto Barroso, Celso de Mello. Prova irrefutável da institucionalidade do impeachment é que seu rito foi estabelecido pelo próprio STF, com base naquele seguido contra Collor, em 1992.
Mais uma vez, como sempre, a constitucionalidade do impeachment é confundida, propositalmente, com a inexistência dos pressupostos constitucionais para aprovação do impeachment pelo Supremo Tribunal de Justiça.
Porque, neste primeiro momento, caso o impeachment seja aprovado na Comissão Especial e, após, no plenário da Câmara e, posteriormente, aceito e aprovado no Senado, conforme rito estabelecido pelo próprio STF, ele terá que ser aprovado por este mesmo Supremo, aí sim, sob a luz dos princípios constitucionais. Até então, o julgamento estará sendo única e exclusivamente político, como reconhece candidamente o eterno líder de todos os governos anteriores e posteriores ao atual, Romero Jucá, que conduziu o espetáculo circense do desembarque do PMDB do governo:
“… as condições de governabilidade se exauriram, o Brasil é maior do que qualquer governo, que qualquer entendimento político.”
Por isso, a insistência das Organizações (ou seria Facção?) em apressar o processo de impeachment (segurando, de todas as formas, as informações comprometedoras sobre o seu condutor, Eduardo Cunha), em incensar o juiz Moro e sua Lava Jato (incitando-o a prosseguir em sua intensa luta para prender Lula) e em prevenir, sutilmente, os nobres membros da Alta Corte quanto as possíveis posturas constitucionalistas que eles venham a ter no futuro próximo.
Como aconteceu em 1964, quando ainda não eram o que são hoje, as Organizações apóiam e buscam o golpe. Naquela época, estava em jogo a expansão de seus domínios… agora, está em jogo a sua sobrevivência!