Eu participo de alguns grupos nas redes sociais. São grupos específicos, da família, de amigos, de ex-colegas de trabalho, da região onde moro, que se divide em outros, relativos à segurança, ao modo de vida, à região em si. São dezenas de pessoas com as mais variadas formações, com semelhanças ou diferenças religiosas, esportivas e políticas.
Com a situação politicamente conturbada do país, a discussão política entrou em todos os grupos, para desespero de participantes desinteressados ou despolitizados e dos respectivos administradores, que tentam evitar a baixaria, o ódio, as ofensas… Sem muito êxito, diga-se de passagem. Ou, então, com sucesso absoluto quando a decisão é radical: postou assunto político, o “postador” é, sumariamente, excluído do grupo.
Eu gosto da discussão política e acho que o entrechoque de idéias é fundamental para a consolidação da nossa ainda frágil democracia, desde que haja respeito entre os debatedores, o que, reconheço, é muito difícil no atual estado de tensão vivido pelo país.
Uma coisa, de qualquer modo, me chamou a atenção em todas as ocasiões em que meus grupos se depararam com discussões políticas: o assunto era levantado, sempre, por algum participante anti-governo, fosse através de uma chamada para participar de uma passeata, fosse postando uma piadinha ridicularizando o partido do governo, fosse repassando algum imenso post de um movimento, dos muitos que apareceram ultimamente, desancando a atuação da presidenta ou enaltecendo as posturas do juiz Moro, da Lava Jato.
Mais interessante ainda: se algum participante pró-governo contestasse o “postador”, outros participantes e, posteriormente, o administrador do grupo, intervinham, solicitando moderação, advertindo ou lembrando que, naquele grupo, não se discutia política. Mas, na imensa maioria das vezes, o recado anti-governo já estava dado e permanecia postado no grupo, sem uma democrática contestação.
Quando os fatos se tornavam repetitivos e alguns participantes ameaçavam se retirar do grupo, dava-se o aviso fatal: quem postar política será excluído. E aí vem a parte mais interessante: o participante mandava seu post anti-governo, outro participante reclamava ou o administrador avisava da exclusão… e o “postador” pedia imensas desculpas pela atitude, que não se repetiria mais, até, dias mais mandar outro post político.
Estou comentando isto por causa do texto que o juiz Moro mandou para o ministro Teori Zavaski, relativo à divulgação dos grampos do ex-presidente Lula. Diz ele, literalmente:
“Diante da controvérsia decorrente do levantamento do sigilo e da r. decisão de V.Ex.ª, compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção desse julgador, ao proferir a aludida decisão de 16/03, provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este Egrégio Supremo Tribunal Federal”
Quer dizer, o novo herói da classe média, pela “inteireza de seu caráter”, reconhece que sua atitude “possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários” e, por isso, pede “respeitosas escusas” ao órgão superior que o advertiu – e que pode puni-lo – mas não cogita de qualquer desculpa a quem sua decisão constrangeu desnecessariamente…
Mais cínico que isto só o próprio juiz Moro, em decisão anterior, em fevereiro passado, quando se divulgou que ele autorizara a Polícia Federal a instaurar um inquérito para apurar se empresas investigadas na Lava Jato pagaram por obras no sítio de Atibaia, frequentado pelo ex-presidente Lula. A autorização de Moro, por ordem dele próprio, deveria ser sigilosa, mas foi “lançada automática e inadvertidamente” no sistema de consulta pública da Justiça Federal, “sem os devidos cuidados para manter o segredo sobre a investigação”.
Na verdade, mais do que cinismo, isto é mau caratismo mesmo!