Eu sou do tempo de Elis e Jair no Fino da Bossa. Eu sou do tempo dos Beatles cantando Help! Mas, mais velho, adorava ouvir uma de minhas filhas ouvindo Paralamas do Sucesso, que representaram muito para a geração pós-ditadura, que procurava encontrar na escola, na igreja, na conversa com os amigos, nos questionamentos aos pais, ainda perplexos com a democracia recém-resgatada, um sentido para a vida.
E há uma música deles, Paralamas, que dá a medida exata desta procura: “Quando tá escuro//E ninguém te ouve//Quando chega a noite//E você pode chorar// Há uma luz no túnel//Dos desesperados//Há um cais de porto//Pra quem precisa chegar…” Lembrei-me dela e daqueles tempos esta semana, por três fatos envolvendo a grande imprensa brasileira, que está, inapelavelmente, dando seus últimos suspiros.
Primeiro, um texto do Luis Nassif em seu site, GGN, intitulado “Editora Abril: a um passo de se tornar história”, em que, com a maestria e a conscisâo de sempre, descreve a ascensão e decadência do grupo Civita, responsável pela revista Veja, a mais influente revista política brasileira nos últimos 50 anos, mesmo quando circulava sob censura, nos tempos bravos da ditadura.
Reconhecendo a inteligência dos ‘capos’ Victor e Roberto Civita, Nassif, em poucas linhas, mostra o crescimento da Editora Abril a partir da visão deles, bem como sua decadência, mercê de estratégias econômicas inadequadas para acompanhar as mudanças tecnológicas do setor de comunicações. E anuncia a inevitabilidade do fim: depois de abrir mão de vários títulos – revistas específicas para setores determinados, depois de vender seu ramo educacional, sobrou Veja e sua influência política, apesar da redução espantosa de sua tiragem, mesmo usando artifícios como a entrega gratuita da revista para ex-assinates, clínicas e consultórios médicos e escritórios com salas de espera.
Mas pode haver uma sobrevida! Um governo compreensivo e amigo no âmbito federal, como sempre foram e têm sido, no âmbito estadual e municipal, os governos tucanos, renova as esperanças de financiamentos de pai para filho, de aquisição maciça de revistas para distribuição aos alunos das escolas públicas, de milhares e milhares de centímetros por coluna de anúncios de ministérios, secretarias, departamentos e empresas estatais, para-estatais, autarquias e agências… A redenção econômica, enfim!
Por isso, salve Temer, o presidente que o povo brasileiro precisa (engolir…)!
Depois, a palhaçada da Folha de São Paulo, ao divulgar a pesquisa encomendada por ela mesma ao instituto de pesquisa de sua propriedade, o DataFolha. Informando basear-se na pesquisa, o jornal estampou manchete na edição de 16/07: “Para 50%dos brasileiros, Temer deve ficar; 32% pedem volta de Dilma”. Abaixo, um quadro, em que eleições diretas ficavam com 3% da preferência. Tudo mentira!
Ou seja: como deixou a entender o próprio DataFolha, posteriormente, a Folha não manipulou os dados levantados pelo Instituto… ela mentiu para seus leitores, com um objetivo bem claro: apoiar o presidente interino que, certamente, sendo mantido no cargo, saberá agradecer o apoio recebido e, do mesmo jeito que no caso da Abril, renovar as esperanças de financiamentos de pai para filho, de aquisição maciça de assinaturas do jornal e do portal UOL para distribuição e uso das escolas públicas, de milhares e milhares de centímetros por coluna de anúncios de ministérios, secretarias, departamentos e empresas estatais, para-estatais, autarquias e agências… A salvação econômica, enfim!
Por isso, salve Temer, o presidente que o povo brasileiro precisa (engolir…)!
Por fim, o editorial de hoje, 27/07, do O Estado de São Paulo, intitulado “A maioria também se equivoca”, que começa assim: “Todas as pesquisas realizadas após o afastamento provisório de Dilma Rousseff da Presidência da República revelam que a maioria dos brasileiros, cerca de dois terços, entende que a melhor solução política para o País, no momento, é a realização de eleições presidenciais antecipadas. É um resultado que revela, desde logo, que o mesmo contingente de dois entre três brasileiros não quer saber do retorno de Dilma à chefia do governo. E também que o presidente em exercício Michel Temer não conquistou até agora a confiança majoritária da população. Não há que duvidar de que, em princípio, a manifestação direta da vontade dos indivíduos se
ja o caminho democrático para a tomada de decisões relevantes como a escolha de governantes. Existe, contudo, nessa questão, uma enorme distância entre o aparentemente ideal e o realmente possível. Sem entrar no mérito de ser ou não a eleição presidencial direta antecipada a melhor solução para o momento político do País – o que é muito discutível –, basta saber que ela é praticamente inexequível.”
Todos aqueles que conhecem um pouco do jornalismo brasileiro sabem da antipatia que a família Mesquita devota à democracia popular desde que tornou-se proprietária exclusiva do Estadão, em 1902, uma ojeriza que não se alterou mesmo quando vendeu parte de suas ações para um grupo sul-africano, que também, sabemos todos, têm uma preferência histórica pela plutocracia e, se possível, branca.
A oposição que o Estadão fez aos governos populares de Lula e Dilma é incondicional. Dois exemplos, apenas: “A transgressão consagrada: “Luiz Inácio Lula da Silva entrará para a história das eleições presidenciais brasileiras sob o Estado Democrático de Direito pela desfaçatez sem paralelo com que se conduz. Ele não apenas colocou os recursos de poder próprios do cargo que exerce à disposição de sua candidata ? escolhida, de resto, por um ato de vontade imperial ?, como ainda assume ostensivamente o abuso e disso se jacta. “ e “Chegou a hora de dizer: basta! : A maioria dos brasileiros, conforme atestam há tempos as pesquisas de opinião, exige que a petista Dilma Rousseff deixe a Presidência da República.”
Como se observa, a opinião do Estadão tem uma flexibilidade ímpar: para derrubar a presidenta eleita por 54 milhões de votos, a opinião da maioria dos brasileiros, conforme as pesquisas, vale… Mas quando as pesquisas indicam uma repulsa da maioria ao interino, a maioria é que está equivocada…!
Assim como os Civita e os Frias, os Mesquita não se preocupam mais com fatos, com a verdade ou com a coerência. Colocam suas páginas a serviço do interino que, certamente, sendo mantido no cargo – me desculpem a repetição – saberá agradecer o apoio recebido, renovando as esperanças de financiamentos de pai para filho, de aquisição maciça de assinaturas do jornal e do portal Estadão para distribuição e uso das escolas públicas, de
milhares e milhares de centímetros por coluna de anúncios de ministérios, secretarias, departamentos e empresas estatais, para-estatais, autarquias e agências… A falência será evitada, enfim!
Por isso, salve Temer, o presidente que o povo brasileiro precisa (engolir…)!
Eu comecei fala
ndo de algo lindo, uma música dos Paralamas do Sucesso que sempre me emocionou. Que Herbert Vianna me perdoe, mas acho que as famílias proprietárias da grande imprensa brasileira estão esguelando sua música, desesperadamente agarradas à lanterna dos afogados, aquela luzinha no fim do túnel representada pelo governo do Michel que, sem qualquer apoio popular, poderá ser mantido no poder pela força ainda respeitável da imprensa. Afinal, uma mão lava a outra… E a outra lava uma…!