Conversas republicanas

Roberto Amaral, um dos mais perseverantes socialistas do Brasil, fundador do Partido Socialista Brasileiro junto com Miguel Arraes – hoje, fora do partido, depois que ele se tornou sócio da direita – escreveu substancioso artigo no site GGN, em que chama a atenção para o Tribunal Internacional sobre a Democracia no Brasil, reunindo conceituados juristas mundiais no Rio de Janeiro, que declararam, em sentença  pública, ignoradaConversas republicanas 1 pela grande imprensa, “a inexistência de crime de responsabilidade ou de qualquer conduta dolosa que implique um atentado à Constituição da República e aos fundamentos do Estado brasileiro”.Conversas republicanas 2

A partir desta sentença, que apenas confirma uma verdade que toda a classe política está cansada de saber,  o velho socialista se pergunta: “como pode um senador ou senadora, liberal ou de centro-esquerda, ter dúvidas sobre que decisão tomar?”

Um político essencialmente de bastidores – nunca se candidatou ao parlamento, mesmo sendo ministro de Lula – Roberto Amaral convive diuturnamente com a política há muitos e muitos anos e, mesmo assim, parece não entender a essência dos políticos brasileiros que, com as honrosas exceções à regra geral, não têm qualquer prurido  ideológico conduzindo seus atos e decisões políticas.

Nossos ilustres vereadores, deputados, senadores e governantes, depois de eleitos – com honrosas exceções, repito – têm uma vocação irreprimível para julgar desejos e anseios de seus eleitores como idênticos aos seus próprios interesses que, na imensa maioria das vezes, são muito mais pessoais que coletivos.

Não há dúvida que dinhConversas republicanas 3eiro do Orçamento do Município, do Estado ou da União para construir uma ponte aqui ou pavimentar uma rodovia ali, e propor e/ou aprovar leis que beneficiem os produtores rurais ou as mineradores, principais sustentáculos econômicos de uma região, são ações que visam o coletivo, mas o ‘feijão com arroz’ é, mesmo, aproveitar as tetas governamentais para empregar parentes, amigos e correligionários ou beneficiar os financiadores das campanhas eleitorais, legais ou ilegais. Preocupações programáticas são lindas quando enfeitam os programas partidários nos horários eleitorais… E só isto: lindas!  Conversas republicanas 4

No próprio artigo, Roberto Amaral dá um exemplo gritante do contorcionismo verbal de um senador considerado ideológico, ao emitir sua opinião relativa ao processo de impeachment: “O professor Cristovam Buarque, senador da República por Brasília, reivindicando a isenção que ninguém lhe nega, apresenta-se, diante do processo do impeachment noConversas republicanas 7 Senado, como um jurado num tribunal do júri, prestes a julgar Dilma Rousseff: “Sou um julgador, não um indeciso. Mesmo que eu tivesse um sentimento formado, eu não diria qual é. Como é que posso julgá-la se ela não veio aqui” (Valor, 15/7/2016).

Só para não deixar dúvida quanto ao malabarismo de Sua Excelência: durante semanas, testemunhas a favor e contra se apresentaram diante dos senadores, documentos e provas ficaram à disposição dos “julgadores”, e o senador Cristóvam, que votou a favor da admissibilidade do impeachment, ainda precisa da presença física da presidenta para fazer o seu julgamento? Como ele já conversou particularmente com ela e com o interino, a questão ‘ideológica’ é apenas ver quem está oferecendo mais?

Neste quesito, aliás, que é o fundamental, Michel –  ele prefere ser chamado assim… é mais popularesco – está dando de goleada. Além de ter feito fama de intratável nas artes do toma lá dá cá, Dilma só pode oferecer promessas futuras às Suas Excelências, enquanto o vice-presidente no eConversas republicanas 8xercício da Presidência transformou sua caneta interina numa das mais profícuas assinantes da história, sem qualquer distinção de partido  ou pedido.

Nem o ‘peixe’ resistiu… Mesmo com sua língua presa, Romário soltou o verbo para o MichelConversas republicanas 9, que soltou a verba sem pestanejar:  ganhou a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça e a diretoria de Administração de Furnas para seus correligionários, assim como o senador Zezé Perrela, que emplacou mais do que um correligionário, mas seu próprio filho, Gustavo, um ex-deputado mineiro que ficou famoso por ser o dono do helicóptero apreendido no Espírito Santo com 445 kg de pasta de cocaína.

Estes são fatos que, por descuido ou por interesse, saíram na grande imprensa. Há outros, muitos e muitos outros, vez que, nas últimas semanas, tiveram audiência com Michel, os senadores Eduardo Amorim (PSDC/SE), Benedito de Lira (PP-AL), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Na fila, ou já atendidos enquanto escrevo,  Fernando Collor (PTC-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Pedro Chaves (PSC-MS), Roberto Rocha (PSB-MA), Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Wilder Moraes (PP-GO) e Eduardo Lopes, supConversas republicanas 10lente de Marcelo Crivella (PRB-RJ) — que vai se licenciar para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro.

Candidamente, um dos ‘negociadores políticos’ do Michel (o outro é o primeiro ex-ministro interino Romero Jucá), Geddel Vieira Lima, titular da secretaria de Governo, confirmou as conversas senatoriais, todas “republicanas”, sem qualquer tipo de pressão da parte do governo interino. Realmente, a impressão do Diário Oficial da União continua sendo feita sem qualquer atropelo ou edição extraordinária, mesmo com páginas extras de nomeações e designações e as conseqüentes exonerações.

 

 

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