A Operação Lava Jato, do midiático juiz Sérgio Moro – segundo ele próprio, a mídia é peça fundamental em sua estratégia para levar corruptos de colarinho branco à prisão – conseguiu, há que se reconhecer, algo inimaginável no Brasil: exatamente levar corruptos de colarinho branco à prisão… Nem todos, claro, porque o enfoque sempre foi em cima do grupo que estava no poder federal naquele período, apesar de corrupt os de colarinho branco existirem em todos os níveis de governo e em todos os tempos.
Apoiada, então, incondicionalmente pela mídia, e apresentando semanal e bombasticamente acusações contra políticos e empreiteiros de expressão nacional, a operação ganhou o apoio e o aplauso de boa parte da população, especialmente a classe média, que adora sonegar um impostozinho aqui ou molhar a mão de um guardinha ali, mas acha um absurdo inominável haver empresários que dêem e políticos e funcio nários públicos que aceitem propina.
Paralelamente à Lava Jato, começou a correr também a Operação Zelotes (nome grego de uma seita judaica que não admitia a cobrança de impostos pelos romanos), deflagrada pela PF para investigar um esquema de corrupção no CARF, Conselho de Administração de Recursos Financeiros, ligado ao Ministério da Fazenda, que julga recursos administrativos de empresas por autuações relativas à sonegação fiscal e previdenciária.
Quando saiu na mídia, em março de 2015, a Zelotes indicou a investigação de 70 empresas, incluindo alguns dos maiores grupos empresariais atuantes no Brasil, como os bancos Bradesco, Santander, Safra, Boston, a Gerdau, a Mundial-Eberle, Ford, Mitsubishi e até a RBS, afiliada da Rede Globo no sul do país.
Como não podia deixar de ser, após a divulgação inicial, esta operação foi sendo empurrada para os rodapés da imprensa, até aplicarem aquele “jeitinho brasileiro” de não esconder o fato, mudando o enfoque do fato: a Zelotes virou uma operação de caça a algumas figuras que “possivelmente” tinham influenciado o governo do presidente Lula a editar medidas provisórias em benefício de montadoras de automóveis. E, óbvio, jogaram um dos filhos de Lula no meio do rolo.
E, como também não podia deixar de ser, foram instaladas Comissões Parlamentares de Inquérito na Câmara e no Senado, sendo que a deste foi encerrada em dezembro passado, com o relatório final pedindo o indiciamento de 28 pessoas, dentre os quais nenhum grande empresário ou banqueiro.
Já a CPI da Câmara, conforme anúncio de seu novo presidente, Rodrigo Maia, que não autorizou sua continuidade por mais um período, será encerrada na primeira semana de agosto, vez que, conforme cândida confissão de Sua Excelência, “alguns líderes de partido fizeram uma reunião com Maranhão (ex-presidente da Câmara) na qual, preocupados com os rumos da CPI, sugeriram que a prorrogação fosse usada para votar o relatório final. Foi uma decisão coletiva e, se tiver que ser revista, será revista coletivamente também”.
Ou seja, o recado é bem direto: vamos combater a corrupção… dependendo de quem a comete! Do mesmo modo, vamos combater a sonegação… dependendo de quem a faz! Aliás, para um simples mortal como eu, fica uma grande interrogação no ar: por quê os donos do poder no Brasil ainda precisam sonegar impostos se, quando querem, conseguem que os governantes eleitos – até mesmo os trabalhistas, como Lula e Dilma – os isente de pagamento em nome de um presumível bem maior para o país?
Como é o caso das Olimpíadas do Rio, agora em agosto: de acordo com o blog do jornalista Rodrigo Mattos, ela, a Olimpíada, “dará isenção fiscal a 780 entidades e empresas”, dentre elas gigantes nacionais e internacionais que, cá entre nós, não precisariam disto, como Coca Cola, Nike, Odebrecht, Bradesco e, claro, Globo.
Antes do advento das redes sociais, quando a imprensa ainda exercia grande influência, havia uma expressão, para inglês ver, muito usada no nosso meio toda vez que a mídia, por pressão da classe média, denunciava alguma lei aprovada por deputados e senadores, que poderia prejudicar os interesses dos donos do poder. A expressão vem do Império, quando o regente Feijó editou lei que dizia que todos os escravos desembarcados no Brasil seriam considerados livres, lei nunca cumprida e feita exclusivamente para inglês, que combatia o tráfico, ver.
Infelizmente, o Brasil, neste aspecto, não mudou nada desde então. Leis, decretos, resoluções, operações policiais e investigações de forças-tarefa continuam sendo para inglês ver… E, para nós, pobres mortais, morrermos de inveja! Afinal de contas, roubar a Petrobras durante 11 anos, como fez o ex-diretor Sérgio Machado, e ser condenado a 03 anos de prisão domiciliar em sua própria residência na área mais nobre de Fortaleza, é uma verdadeira punição “para inglês ver”…!