O jornalismo morreu

Está difícil, muito difícil, saber o que é verdade neste Brasil interino, se nos fiarmos apenas no que diz a mídia impressa e televisiva (eu, praticamente, não escuto mais rádio, o que não alteraria em nada minha afirmativa). Tão difícil quanto nos tempos da ditadura, quando havia censura e ai de quem dissesse certas verdades…  A censura, hoje, foi substituída pelo ‘enfoque realista do dono’, cegamente obedecido pelos editores quO jornalismo morreu 2e, sem qualquer preocupação com a ética jornalística, não se importam muito com o fato, mas com a versão do fato mais adequada às posições e interesses defendidos pelos seusO jornalismo morreu 3 patrões.

Desde que Lula, em 2002, foi eleito para a Presidência da República, houve uma inequívoca mudança na condução da mídia familiar: a separação entre direção e editoria, que sempre existiu, em benefício dos leitores – noticiava-se fatos, independentemente de quem eles atingiam ou interessavam, reservando-se a opinião dos donos aos editoriais – deixou de existir. O interesse dos donos passou a prevalecer, não mais importando o fato.

O interesse, hoje, das famílias que dominam a grande imprensa, começando pelos Marinhos, das Organizações Globo, é acabar com os governos de cunho popular, que começou com Lula.  Por posição política ou por puro interesse financeiro, desde então tornou-se rotina da mídia, e não exceção, usar uma famosa frase de um ministro da Fazenda, sem querer vazada por antenas parabólicas: “Eu não tenho escrúpulos.O jornalismo morreu 8 O que é bom a gente fatura;o que é ruim a gente esconde.”

Quem tem um pouco de conhecimento de imprensa,  sabe que as manchetes, aqueles títulos em letras grandes na primeira página de um jornal, ou as chamadas, aquelas inserções dos locutores de telejornal em meio à programação televisiva, são as iscas para prender a atenção do leitor ou telespectador para as informações a seguir. E sabe, também, que a maior parte de leitores e telespectadores se contenta com estas iscas, lendo ou ouvindo, quando muito, o que a gente chama de ‘lead’ da notícia: Fulano  fez determinada coisa naquela hora em tal lugar por causa disto.

Até há pouco tempo, era possível de se encontrar o verdadeiro fato – diferente daquilo que estampava a manchete e o ‘lead’ – no corpo da matéria, geralmente nos últimos parágrafos, em meio  a outras informações sem qualquer importância; agora, nem isto, como prova a matéria da Folha de São Paulo em cima da pesquisa do Datafolha, instituto pertencente ao próprio grupo, da Família Frias.

A manchete foi: “Para 5O jornalismo morreu 90% dos brasileiros, Temer deve ficar; 32% pedem volta de Dilma”. Abaixo, um gráfico: O QUE É MELHOR PARA O PAÍS (Em %). A repercussão foi imediata, em jornais e revistas das outras famílias e nos noticiários das Organizações Globo. Só como exemplo: o Fantástico ribombou: “Pesquisa do Datafolha diz que metade dos brasileiros prefere Temer a Dilma”, completando: “Outra pesquisa aponta que brasileiro está mais otimista com a economia. Índice  Datafolha de confiança registrou 98 pontos.” Tudo mentira deslavada!

Foi preciso um jornalista americano, detentor de um Prêmio Pulitzer de Jornalismo , radicado no Brasil por opção, fazer matéria acusando a Folha diretamente de cometer fraude jornalísticacom pesquisa manipulada para alavancar Temer (de Glenn Grenwald e Eric Dau, no blog internacional Intercept) e um blogueiro sujo (Fernando Brito, em O Tijolaço) levantarem a ‘lebre’ da falsificação para que a coisa não ficasse por isto mesmo… A própria Folha teve que vir a público reconhecer que havia cometido uma “impropriedade”. Atenção, senhores dicionaristas! Mentira proposital, informação falseada, erro O jornalismo morreu 11de interpretação tem um novo sinônimo: impropriedade!

Infelizmente, Internet e blogs sujos ainda não alcançam toda a população brasileira e o qO jornalismo morreu 12ue fica marcado na mente de muitos e muitos é aquela manchete chamativa pendurada na banca de jornais ou a voz aveludada da Renata Vasconcelos anunciando os assuntos do dia no intervalo comercial da novela das sete.  No caso da Datafolha, a mentira foi O jornalismo morreu 13tão deslavada que teve perna bem mais curta que desejavamos editores. A verdade verdadeira, no entanto, que mentiras são contadas todos os dias, fatos são escamoteados todas as horas, notícias são distorcidas constantemente.

Peguemos uma informação qualquer divulgada um dia qualquer. Uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, por exemplo. A respeito das conversas grampeadas entre o ex-presidente Lula e algumas autoridades com foro privilegiado. Analisando uma reclamação da defesa de Lula neste período de recesso do Judiciário, Ricardo Lewandowski escreveu exatamente isto:  “convém que, por ora, as gravações apontadas como ilegais permaneçam sob sigilo e isoladas dos demais elementos de prova já colhidos nos demais processos em curso na instância de piso, até o exame definitivo da presente reclamação pelo ministro Teori Zavascki”. Ou, em tradução livre do linguajar judicial: os grampos ficarão sob sigilo e separados de outras possíveis provas colhidas pela força tarefa da Lava Jato, até o ministro Zavascki retornar do recesso e se pronunciar a respeito.

Pois muito que bem! Observem só as manchetes estampadas pelos principais jornais no dia seguinte:O jornalismo morreu 14

Estadão:  STF nega pedido de Lula para anular gravações; Teori vai analisar áudios”

O Globo: “Lewandowski nega pedido de Lula para anular gravações”

Correio Braziliense: “Lewandowski manda que grampos de Lula fiquem nas mãos de Moro” 

Folha de São Paulo:“Lewandowski manda Moro separar parte de gravações de Lula na Lava Jato”  O jornalismo morreu 10

A Folha, ainda o principal jornal do país, poderia até merecer um elogio por ter sido fiel às palavras do presidente do STF, mas depois do que fez com a pesquisa do Datafolha logo depois, dá até para desconfiar que a correção desta manchete foi uma desculpa prévia para a m…* que faria logo depois…

 

 

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