Um áudio está correndo feito fogo em tempo de seca pelas redes sociais. Um senhor, que se diz ex-comandante de operações de multas e recursos (?) do Paraná, fala da mais nova lei de trânsito, a obrigatoriedade de se acender o farol baixo nas rodovias durante o dia. Segundo ele, nenhum país do mundo obriga a isto, pois o verdadeiro motivo da obrigatoriedade é outro e não o alegado fato de melhorar a segurança do trânsito, evitando acidentes, principalmente com pedestres e ciclistas, tanto que a obrigatoriedade não se estende às ruas da cidade, onde acontece o maior número de acidentes.  Na verdade, alega ele, a obrigatoriedade de acender o farol  nas rodovias durante o dia é mais uma jogada da indústria das multas, porque os radares hoje captam apenas entre 40 e 50% dos carros infratores, o que seria reduzido para 2% com os faróis acesos.

A argumentação do possível “ex-comandante” não identificado é válida, mas tem alguns furos: países da Europa,  Canadá e alguns Estados americanos já aprovaram esta lei há muito tempo (na pioneira, a Finlândia, a lei existe desde 1972), e os números mostram que, onde ela foi aplicada, houve redução sim dos acidentes (12% de queda nos Estados Unidos). Mas, não deixa de ser um alerta para todos nós, brasileiros, que costumamos aceitar passivamente tudo quanto são resoluções e normativos promulgados por agentes do Estado imbuídos de autoridade. Só na área do trânsito, lembram-se da obrigatoriedade de se ter uma bolsinha de primeiros socorros? E a do extintor de incêndio ter que ser tipo ABC, de repente transformada na não obrigatoriedade de se ter qualquer extintor no carro?

Anos atrás, havia um programa humorístico na televisão em que uma americana, vivida pela Kate Lira, mulher de um dos criadores da bossa-nova, Carlinhos Lira, tinha um bordão: “Oh! Brasilêru é ton bonzinh!” Naquela época, a grande imprensa tinha o monopólio da informação, e denúncias como esta, mesmo se verdadeiras, quando lidas pelos editores, eram jogadas no lixo.  Hoje, com as redes sociais, as denúncias fluem com velocidade, mas apenas aquelas que interessam às forças políticas e econômicas são repercutidas e produzem resultados, como passeatas e movimentos “espontâneos” em defesa da pátria e do cidadão.

Ou seja, se a personagem da Kate Lira fosse revivida hoje em dia, certamente seu bordão seria: “Oh! Brasilêro é ton babaca!”

 

 

 *Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela. (Stanislaw Ponte Preta)