Fake news

Fake new? Ou não?

Numa troca de e-mails com meu irmão, contestei uma afirmação dele de que o ex-presidente Lula havia sido expulso de um restaurante em Natal, um vídeo que, vira e mexe, é espalhado pelas redes sociais. Escrevi-lhe: “A propósito, como eu disse, é mais uma fake news (faz parte da campanha do Dória, o prefake de São Paulo: aonde ele vai, uma enxurrada de fake news é postada caluniando ou inventando fatos sobre adversários, ao que parece por uma empresa contratada para isto). Veja só:

https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/313006/Vaias-a-Lula-em-Natal-Mais-uma-fake-news.htm “

Antilulista convicto, ele não comentou a farsa do vídeo, preferiu criticar o uso de “fake news”, numa resposta irônica e ácida: “Adoro modismos… que cheiram a síndrome do colonizado… que não consegue se livrar da Coroa!!!!! O termo FAKE NEWS, cunhado pelo histriônico presidente dos EUA, virou xodó dos jornalistas tupiniquins. Aliás, ‘tá virando moda intercalar vocábulos anglo-saxônicos nos escritos em língua pátria. Já já estaremos criando mais uma jabuticaba, o portugles!… que virá se juntar ao portunhol.”

Minha mãe, do alto de seus 98 anos de extrema lucidez, também é uma crítica acerba dos estrangeirismos na língua portuguesa… e não adianta nada argumentar com ela que isto sempre existiu: no passado, uma consequência natural da subordinação econômica e cultural dos países subdesenvolvidos à uma potência mundial, agravada, no presente, pela globalização em que o inglês ianque se tornou a língua oficial do mundo.

Meu irmão e minha mãe não se dão muito bem com redes sociais – ela, então, não gosta nem de celular, o que é natural para quem conheceu o telefone de manivela, que tinha que passar por uma telefonista para ter a ligação completada – e, por isto, resistem à linguagem básica dos novos tempos internéticos, toda ela em inglês ou derivada do inglês (site, bluetooth, wi-fi, wireless, roaming, whats’app, google, you tube, spam, tablet, show room, shopping, becape, deletar, postar, etc, etc, etc).

Mesma postura do deputado Aldo Rebelo, um comunista histórico, que apresentou um projeto de lei para “promover, defender e proteger a língua portuguesa”, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Segundo o deputado comunista – que, parece, saiu do Partido recentemente, talvez para ser vice de seu antípoda Rodrigo Maia, numa improvável cassação do golpista Temer – “toda a vez em que for usada uma palavra estrangeira para uma comunicação ao público, o emissor da mensagem deve disponibilizar a tradução em português. Tal regra seria válida para os meios de comunicação de massa, informações em estabelecimentos comerciais e também  para a publicidade.

Fico eu imaginando, aqui do meu canto, uma cena de jovens em novela global sendo obrigada a informar o correspondente, em português, de uma expressão como chat ou post ou like… O jovem, falando com a namorada, diz que viu no chat de Fulana que… e, imediatamente, a cena congela e aparece uma legenda explicando: chat =  forma de comunicação à distância, utilizando computadores ligados à internet, na qual o que se digita no teclado de um deles aparece em tempo real no vídeo de todos os participantes do bate-papo. Tenho a impressão que, por uma questão de bom senso, o projeto do ilustre deputado deve ter sido esquecido em alguma gaveta da Câmara.

Posso até compreender a preocupação de pessoas mais velhas com uma possível degradação da língua pátria (Interessante: Língua Pátria era o nome da matéria Português na minha época de ginasiano!), mas a evolução do idioma, de qualquer idioma, e a incorporação de vocábulos estrangeiros à linguagem cotidiana de um povo são fatos incontroláveis, a não ser que o país se feche totalmente para o mundo, como aconteceu com a Albânia alguns anos atrás, ou, provavelmente, com a Arábia Saudita e a Coréia do Norte, nos dias de hoje.

E o encarceramento de um povo neste nível (eu disse povo, não mandatários e elite), proibido de acessar o mundo ou de se intercomunicar com outros povos, é mil vezes pior que preservar a virgindade de uma língua-pátria! Por isto, me preocupo muito mais com outros tipos de desnacionalizações no país, como vem acontecendo hoje com o Brasil.

Agora mesmo, a quadrilha que nos governa neste momento, devidamente sustentada pelo capital sem pátria que governa o mundo, colocou à venda um pacote de bens públicos (públicos, na minha língua pátria, ainda significa pertencentes ao povo), incluindo Lotex, Casa da Moeda e, por incrível que pareça, a Eletrobras, empresa que controla a energia elétrica no Brasil. Diretamente do Rio de Janeiro, por sua vez, a Petrobras, sob nova direção, incorruptível, continua tocando seus projetos de fatiar a empresa, vendendo dedos, braços, pernas, e o que mais houver, até transformá-la numa empresa à altura do novo Brasil, aquele mesmo velho Brasil que acostumou-se a tirar o sapato e fazer reverência quando ia pedir alguma coisa a Tio Sam.

E isto, infelizmente, não são fake news…!

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