1964, 1989 e 2018: já é hora de pensar nisto…

Eu tenho amigos lulistas e anti-lulistas… alguns bem radicais, carregados de argumentos na defesa de suas posições! O que, psicologicamente falando, significa que Lula já deixou de ser um sujeito de carne e osso, com defeitos e virtudes como todos nós, e se tornou um mito. E, como mito, ele é deus para uns e diabo para outros…

  

Eu me formei em Jornalismo há uns 45 anos. Fui repórter de jornal (Diário da Tarde), redator e produtor de rádio (Rádio Jornal de Minas), e publicitário de televisão (TV Belo Horizonte, já comprada pela Globo), além de editar jornal de cidadezinha próxima e ser sócio de agência de publicidade, tudo em Belo Horizonte e arredores, nas minhas Gerais.

E vim para Brasília em 1975, por uma razão muito simples: casado, ganhando mil e oitocentos cruzeiros (cruzados? cruzeiros novos? Não me lembro mais…!) e com minha mulher esperando a segunda filha, recebi uma proposta para ser assessor de imprensa de uma empresa estatal, com salário inicial de Cr$8.000,00 (cruzados… cruzeiros novos…?)

Na minha cabeça mineira, assessorar a direção de uma empresa na área de imprensa – naquela época, “imprensa” englobava relações públicas, publicidade, editoração e, claro, redigir notícias e acompanhar repórteres em busca de notícias da empresa – era mostrar, através de jornais, rádios e televisões, o trabalho feito pela empresa em sua área de atividade, tentando explicar os erros cometidos, quando isto acontecia.

Brasília não pensava bem assim: ainda corria o tempo dos generais e empresas estatais não cometiam erros em hipótese alguma… E se  cometessem, a impensa não publicava! Dei sorte porque a empresa que fui assessorar, vinculada ao Ministério da Agricultura, era dirigida por gente jovem, responsável e empreendedora, e estava em pleno processo de expansão, criando e implantando planos e
projetos de fundamental importância para o abastecimento alimentar do Brasil Grande.  E isto me permitia gerar apenas notícias boas…

Mas, mesmo assim, enfrentei algumas barras na área de publicidade. Os chamados órgãos de imprensa nacionais, secundados pelos regionais, não se contentavam apenas com o Balanço Anual da empresa, uma publicação de uma página pelo menos, obrigatória em um jornal da sede da empresa, mas que eu publicava em todos os jornais ditos nacionais e nos principais regionais, ou seja, dinheiro público gasto inutilmente para evitar retaliações indesejáveis. Eles exigiam mais, muito mais…! Mas, minha empresa, com uma destinação específica, vinculada ao setor rural, não tinha o que anunciar para o público urbano – base da grande imprensa – e nem tinha verba publicitária com tal destino e, neste ponto, eu batia o pé e não admitia!

Daí, tinha que enfrentar, dia sim dia não, a ira dos agentes de Globo, Jornal do Brasil, Estadão, Folha, Diários Associados, Abril, Visão, Bloch…  oferecendo edições especiais ou encartes com descontos exclusivos, pechinchas que dariam projeção nacional aos dirigentes da empresa. Evidentemente, a coisa não mudou de lá para cá… piorou até! A televisão, especialmente a Globo, passou a exercer uma influência muito maior que os grandes jornais, e o segundo publicitário em televisão é muito mais caro que o centímetro em jornal ou revista. E, agora, tem a Internet e as redes sociais competindo no mercado… Não é a toa que a verba publicitária do governo Temer atingiu valores astronômicos em 2016 – quem não tem popularidade, caça com publicidade!

Aí, veio a redemocratização: Tancredo, o que é sem nunca ter sido, Sarney, o “coronel democrata”, e Collor, o caçador de marajás que, por obra e graça da Globo, se tornou o grande salvador da pátria! Não durou muito! Salvadores da pátria não duram muito. Em países menos passivos e pacíficos como o Brasil, eles costumam ser fuzilados, decapitados, enforcados, corridos de seus países, no mínimo! No Brasil paz e amor são politicamente impinchados e judicialmente inocentados depois, voltando à política sem qualquer culpa…

Eu recordo estes meus tempos de Brasília porque a grande imprensa de então, como a de agora, tem influência significativa em processos eleitorais e, assim como, bancada pela elite, inventou o “caçador de marajás” e transformou-o num salvador da pátria, livrando o Brasil do Lula “comunista” em 1989, já está formatando outros salvadores da pátria para enfrentar o mito Lula em 2018… caso o herói da Lava Jato  não consiga prendê-lo a tempo.

Os mais antigos e atentos hão de se lembrar de Sassá Mutema, personagem vivido por Lima Duarte na novela ‘O Salvador da Pátria’ que, por mero acaso, se me perdoam a ironia, passou na telinha da Globo entre janeiro e setembro de 1989, ano que, em outubro, se elegeu Collor como presidente da República.

Os mais novos e menos atentos que se preparem, pois, para a futura novela global das 9 no início de 2018… Quem será o mocinho? Um juiz incorruptível que limpa uma cidadezinha de seus políticos ladrões e perversos? Ou um empresário dublê de comunicador, que conquista a admiração e o amor da cidadezinha ao negar a política e, sempre acompanhado pelo dono do jornal local, privatizar os serviços públicos que, de uma hora para outra, passarão a ser eficientes… (perdoem-me a ironia, ela é irresistível!)?

Até ontem, o preferido da mídia, que ganhava todos os holofotes, era, justamente, o juiz Sérgio Moro, o caçador de corruptos (não todos, claro, que ninguém é de ferro!), incensado pela classe média brasileira, que adora ver político na cadeia, tanto quanto adora sonegar imposto de renda, furar fila de cinema, molhar a mão do guarda de trânsito e outros “pecadilhos”desta natureza.

Mas, pela atitude da mídia de algumas semanas para cá, Moro saiu do foco… e entrou numa zona cinza, uma espécie de ‘stand by’ das rotativas, dos microfones radiofônicos e das câmeras televisivas. Ao que parece, ele não só não cumpriu o acordado – prender Lula – como a Operação Lava Jato extrapolou seus desígnios, não restando alternativas ao Procurador Geral da República senão denunciar outros políticos graúdos do país, e não apenas os do PT (na verdade, ele ainda não denunciou, mas diz a mídia que vai, esta semana…)

Há esperança, porém: se Lula for denunciado a tempo de o Tribunal Regional Federal da 4ª Região aceitar a denúncia – mesmo sem provas dignas deste nome – Sérgio Moro volta a ter possibilidades. E, caso isto aconteça, tanto Sua Excelência, o Procurador Geral, quanto Suas Excelências, os juízes da Suprema Corte (com as exceções de praxe), dispõem de alguns mecanismos para empurrar com a barriga os possíveis processos contra os meliantes de alto coturno e baixa punibilidade. Afinal, São Gilmar está aí para servir, não é mesmo? (perdoem-me a ironia mais uma vez, mas o fato é que se você procurar São Gilmar no Google, o que aparece  – experimentem! – é Gilmar Mendes…!)

De qualquer modo, os criadores de Sassá’s não dão ponto sem nó, nem esperam o maná cair do céu. E já estão testando um outro possível salvador da pátria, o atualmente dublê de gari/jardineiro/cadeirante/prefeito de São Paulo, João Dória, um publicitário, jornalista, entrevistador de talk-shows, que enricou  organizando eventos para apresentar políticos a empresários, e vice-versa.

 

 

A grande imprensa, com sua sutileza cavalar, já faz testes com o seu nome, para ver se o público reage à novidade e, dependendo da aceitação, vai aumentar a exposição do dito cujo que, por enquanto, marqueteia muito, mas produz pouco. Mas, tem tempo, também.

Fato é que os nomes tradicionais do campo conservador estão praticamente fora do páreo. Ou alguém acredita que a elite vai conseguir abafar, a esta altura, as delações da Odebrecht? Se tentar – e vai tentar, claro – os blogs sujos ocupam, de vez, o espaço da grande imprensa e aí, adeus eterna impunidade!

Enfim, se nenhum salvador da pátria colar, ainda tem uma alternativa : porque não o herói da direita hidrófoba? Caso eleito, bastará botar uma coleira no pescoço dele que ele saltitará do jeito que seus mestres mandarem. Anauê!

 

 

 

 

 

 

 

 

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