Busca inútil

Num post anterior, eu citei Diógenes, o filósofo cínico que saía às ruas munido de uma lanterna em busca de um político honesto. Até onde sabemos, sua buBusca inútil 2sca foi inútil na Grécia Antiga… e permaneceria inútil se vivesse no Brasil de hoje.

É o que parece, pelo menos, ao se ler algumas informações de hoje referentes aos muitos  deputados que já anunciaram suas candidaturas à presidência da Câmara Federal, para exercer um mandato curtíssimo, 07 meses, substituindo o choroso renunciante Eduardo Cunha.

Para começar, é surpreendente o número de candidatos para um mandato quaBusca inútil 1se que tampão. Quais as razões de tanto interesse – 16 deputados até agora (alguns inteiramente desconhecidos)? Morar na mansão oficial, na Península dos Ministros, um point de Brasília que já foi chamosíssimo, mas hoje não tem tanto glamour assim? Pode ser… afinal, a casa tem 800 m² (deputados federais têm direito a apartamentos funcionais com, geralmente, 200 m², em quadras residenciais, ou suítes de apart-hotéis), com 04 quartos, escritório, salão de jantar e piscina, à beira do Lago Paranoá.

E há outras mBusca inútil 5ordomias, claro! Carro oficial com dois motoristas (em revezamento), gabinete exclusivo (além do próprio, de deputado) bem amplo, com vista para a Praça dos Três Poderes, viagens em aviões da FAB ou de carreira, devidamente pagas pela Câmara, verbas próprias para nomear até 47 funcionários para assisti-lo no cargo… Como todo e qualquBusca inútil 6er deputado já tem  direito a 25 funcionários, quem é eleito presidente da Câmara acaba podendo nomear 72 funcionários, que custam aos cofres públicos (ou seja: a mim, a você, a nós) R$5,2 milhões por ano!

É óbvio que os muitos ‘desconhecidos’ que se lançam candidatos o fazem para negociar posições escusas, tipo “eu retiro a candidatura se o governo (ou a oposição) fizer isto ou aquilo”, ou “em mantenho a candidatura se a oposição (ou o governo) me garantir isto ou aquilo”… Mas, há aqueles que querem, realmente, cBusca inútil 4hegar lá.

E dos 16 candidatos que apareceram na mídia até agora, há uns 06 que entraram na disputa para valer, pelo menos aparentemente. E o fato concreto, como diria Lula, é que Diógenes não encerraria sua busca em nenhum deles:

  1. Rogério Rosso: candidato do Centrão (bloco que reúne 13 partidos) e do presidente interino Michel Temer, em acordo com o presidente renunciante Eduardo Cunha, Rosso (PSD-DF) Busca inútil 7é investigado por peculato e indiciado por corrupção, crimes da época em que exerceu o mandato-tampão como governador do Distrito Federal, em 2010, após o escândalo de corrupção que prendeu o então governador José Roberto Arruda e obrigou o vice, Paulo Octávio, a renunciar;
    1. Beto Mansur: atual primeiro-secretário da Câmara (na chapa do renunciante Dudu Safadão), tem a mais longa ‘ficha corrida’ dos candidatos. Segundo o Estadão, “Busca inútil 12ele já foi condenado e responde a um processo por exploração de trabalho análogo à escravidão em uma fazenda no interior de Goiás. O caso envolve 46 trabalhadores, 07 dos quais menores de idade na época.” Há outra ação penal no STF, na qual o deputado do PRB/SP responde por crime de responsabilidade na época em que foi prefeito de Santos (1997-2004). E também é alvo de dois inquéritos no STF, por crimes contra a administração pública. E já foi condenado por improbidade administrativa e é alvo de uma segunda ação por danBusca inútil 10o ambiental, na Justiça de São Paulo;
      1. Rodrigo Maia: segundo o Estadão, o deputado do DEM-RJ não responde a processo, mas teve seu nome citado na Lava Jato por Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, que fechou acordo de delação premiada. Maia é alvo de um pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República;
        1. Fernando Giacobo: o deputado do PR-PR não responde a processo graças à prescrição e escapou de duas ações penais no STF por formação de quadrilha e crime tributário;
        2. Heráclito Fortes, do PSB-PI, teve as contas das últimas eleições reprovadas pelo TER/PI e ainda pode recorrer em Busca inútil 14ação que o Ministério Público Eleitoral pede a cassação de seu mandato. Já foi condenado por improbidade administrativa quando era prefeito de Teresina, entre 1989 e 1993, por usar publicidade institucional para fazer promoção pessoal, quando a Justiça determinou ressarcimento aos cofres públicos;
          1. Jovair Arantes, do PTB goiano, relator do impeachment na Câmara, foi conBusca inútil 8denado pelo TRE por utilizar funcionário público em seu comitê de campanha em 2014, recebendo multa de R$ 25 mil. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral;                                                                                                                                                                                                                                                          Sem muitas chances, ainda há Hugo Leal (PSB-RJ), que foi condenado no Rio por violações administrativas em licitações, quando presidia o Detran (ainda cabe recurso), Esperidião Amim (PP/SC), que responde por improbidade administrativa e dano ao erário, e Fausto Pinato (PP/SP), que é réu em ação no STF, acusado de falso testemunho.                                                                                                                                                                                                                                                                                            É certo que nenhum deles alcança o padrão corruptivo do choroso renunciante que, breve – assim que, mercê dos acordos sigilosos feiBusca inútil 15tos com o governo interino, procuradoria e justiça – escapará de celas, tornozeleiras e incriminações mais sérias e será incensado no panteão dos heróis nacionais por ter iniciado o processo de derrubada de uma presidenta com um gravíssimo defeito: ser honesta. E é certo, também, que qualquer um deles que for eleito fará o possível para se igualar ao sucedido, ajudando a concluir o processo de derrubada.

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