O vice presidente Michel Temer assumiu a presidência da República na quinta-feira, dia 12. Hoje, domingo, 15, já temos alguma ideia de como será sua interinidade:
– para agradar partidos oposicionistas, que reclamam que o governo petista gasta demais, reduziu os ministérios de 32 para 23, juntando uns e eliminando todas as secretarias cujos titulares tinham status de ministro, subordinando-as a outros ministérios. Com isso, mostrou a importância que dá a assuntos como cultura, igualdade racial, direitos humanos e mulheres – aliás, a foto oficial do ministério mostra claramente: não há um negro ou uma mulher no ministério Temer;
– um dia depois da foto oficial, sob intensa crítica pelo desrespeito às mulheres, negros e minorias, correu a desfazer um dos feitos: vai criar uma secretaria especial para a cultura, ligada à presidência, e exige que a secretária seja mulher;
– Henrique Meirelles, o já todo poderoso ministro da Fazenda, que absorveu a previdência social, indicou suas prioridades absolutas, sempre de forma bem personalista (eu farei isto, eu quero aquilo): equilíbrio fiscal, controle de gastos para impedir o crescimento das despesas públicas, reforma da previdência social, com idade mínima para aposentadoria, fim das indexações ao salário mínimo (para desespero do Paulinho da Força, que apoiou o golpe) e aumento “temporário” de impostos (para desespero da FIESP, que também apoiou o golpe, com recursos e muitos patos de borracha amarela participando dos movimentos pró impeachment, exatamente contra os impostos);
– o novo Ministério da Saúde já anunciou que a participação de estrangeiros no Mais Médicos será reduzida depois das eleições municipais. O governo deve renegociar o contrato feito com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Atualmente, 73% dos que atuam são estrangeiros, a maioria, cubanos. A intenção é que os médicos estrangeiros fiquem apenas em vagas de difícil preenchimento, como em comunidades indígenas e em cidades isoladas, lugares para onde os médicos brasileiros não gostam de ir, o que, certamente, agradará as associações, conselhos e sindicatos de médicos;
– o novo ministro do Planejamento, Gestão e Desenvolvimento, o ‘impoluto’ Romero Jucá, disse que vai “auditar” programas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, já que eles precisam ser aperfeiçoados (em relação a desonerações de tributos ou de juros escorchantes, nenhuma palavra), bem como irá cortar 4.000 cargos comissionados até o fim de 2016 (depois das eleições municipais, naturalmente);
– o ínclito ministro Gilmar Mendes, que não é membro explícito do governo interino, mas apóia-o sem meias palavras, apesar de ser juiz da Suprema Corte, menos de 48 horas após autorizar inquérito para investigar o senador Aécio Neves, por suspeita de corrupção na estatal Furnas, suspendeu a coleta de provas e devolveu o processo para o Procurador Geral da República, solicitando reavaliação;
– o procurador geral da República, por sua vez, que também não participa do governo Temer, mas contribuiu bastante para sua ascensão, inclusive recomendando que o STF anulasse a nomeação de Lula para a Casa Civil da presidenta Dilma, vez que havia indícios que a nomeação visava tirar o ex-presidente da alçada da Lava Jato, não fez qualquer comentário a respeito da nomeação, pelo presidente interino, de dois ministros envolvidos com a mesma Lava Jato e que, nomeados, saem da alçada do juiz Moro;
– a Polícia Militar de São Paulo, sem ordem judicial, invadiu escolas públicas ocupadas por alunos e prendeu mais de 50 estudantes, a maioria menores. O Secretário de Segurança de São Paulo já havia feito isto alguns dias atrás, mas voltara atrás por pressão da Justiça e da sociedade… Agora, ele é ministro da Justiça e seu substituto na Secretaria não quis nem saber!
– a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, equivalente à Polícia Militar dos demais Estados, não teve qualquer dúvida quando investiu sobre manifestantes contra o golpe nas ruas de Porto Alegre: desembainhou os sabres e botou os cavalos a galope… Para quem já viu os brigadistas atuando, sabres não dispersam a multidão, furam e rasgam gente na multidão!
Já vi este filme antes: ditadura, Sarney, Collor/Itamar, FHC 2 vezes… Atribui-se a Delfim Neto, o civil todo poderoso dos governos militares uma frase que define bem tais governos: “temos que fazer o bolo crescer, para depois distribuí-lo”. O bolo cresce, mas nunca chega o tempo de distribuir… ou seja, o andar de baixo se f…* de verde-amarelo!