(continuação)
Volto, então, ao nosso presidencialismo de coalizão para mostrar o contexto histórico e completar os questionamentos dos jovens ao PT e seus governos.
Itamar, que era detestado pela grande imprensa, que apelidou seu governo de República do Pão de Queijo, porque tinha muitos ministros mineiros, era um bom conservador e tocou o barco, apenas… mas conseguiu duas proezas: afastou seu grande amigo Henrique Hargreaves da Casa Civil quando ele começou a ser acusado de corrupção pela imprensa… e reintegrou-o à Casa Civil quando ficou comprovado que era tudo fofoca da imprensa (algum presidente teve coragem de fazer isto?) e aprovou e implementou o Plano Real (atenção, jovens, não foi o Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar, o criador do Plano Real não, viu?). E saiu com outra proeza: surfando no sucesso do real, elegeu seu sucessor, exatamente Fernando Henrique Cardoso.
O príncipe dos sociólogos – autor de livros muito elogiados, mas pouco lidos – tinha um perfil de esquerda e representou a esperança dos progressistas do país, que imaginavam um governo social democrata, modernizante, desenvolvimentista e preocupado com as mazelas sociais brasileiras. Infelizmente, seu primeiro governo começou com uma mentira política e terminou com uma farsa eleitoral. A mentira foi desprezar Itamar Franco e se auto-promover como o “responsável” pelo real… A farsa foi manter artificialmente o valor do real no período pré-eleitoral, fazendo uma brutal desvalorização dele logo após ser eleito para o 2° mandato. E, pouco antes, teve o grande escândalo do 1º mandato, que a grande imprensa abafou enquanto pôde: a compra de votos de deputados para votarem a favor da reeleição de prefeitos, governadores e presidente da República (os jovens sabiam que até 20 anos atrás não havia reeleição no Brasil?)
Ao fim de 08 anos de presidência (que o PSDB pretendia que fossem 20), o governo FHC pode ser considerado medíocre, com alguns pontos positivos (privatização da telefonia, facilitando o acesso da população ao celular, criação do Fundef (fundo para financiar o ensino fundamental), popularização dos medicamentos genéricos, programa de combate à Aids, Lei de Responsabilidade Fiscal), e muitos pontos negativos (privatização do setor elétrico, sem qualquer planejamento, gerando uma corrupção desenfreada (‘chegamos no limite da nossa irresponsabilidade’, como diria um diretor do Banco do Brasil, legalmente grampeado), e um doloroso
apagão energético, falta de incentivo às exportações, aumento exorbitante da dívida pública (único caso do mundo em que o dinheiro arrecadado com as privatizações aumentou a dívida em vez de reduzi-la), achatamento salarial, sucateamento do serviço público (as universidades ficaram sem poder fazer concurso para preencher vagas e inúmeras escolas técnicas foram fechadas), sucateamento da infra-estrutura (não houve conservação das estradas, nem dos aeroportos) – sucateamentos estes propositais, objetivando a privatização dos setores – política cambial absurda, que faliu o país, obrigando o Brasil a pedir socorro ao FMI para cumprir os compromissos externos.
Daí que na eleição de 2001, apesar de toda a pressão conservadora para barrar a ascensão do PT – inflação subindo artificialmente, dólar ultrapassando os R$4,00, grande imprensa demonizando Lula diuturnamente durante o período eleitoral – Lula, o demônio, foi eleito. E fez um primeiro governo morno, mantendo os princípios da política econômica conservadora, mas lançando as bases de uma política social que mudou definitivamente os paradigmas fundamentais da sociedade brasileira. Programas de inclusão, como Bolsa-Família e Prouni, ou implantação de projetos de infra-estrutura, como a transposição do rio São Francisco e as Ferrovias Norte-Sul e Transnordestina, são marcos para o crescimento de todo um povo, e não apenas de alguns.
Para que os jovens, mesmo aqueles que tenham seus motivos para odiar Lula e o PT, entendam: em 500 anos de história, o Brasil foi governado dentro de uma visão conservadora, significando isto que seus dirigentes (executivos, legislativos e judiciários), formados a partir das classes média e alta e da elite, governavam atendendo prioritariamente o interesse de suas origens, as classes média e alta e a elite. Com duas exceções: Getúlio Vargas, que se suicidou quando ia ser derrubado pela segunda vez, e João Goulart, que foi derrubado pelos generais responsáveis pela ditadura. (continua)